E lá vou eu, de novo, me meter nas coisas da Bahia. Aliás, com direito adquirido por declaração, escrita e assinada, do hoje senhor conselheiro Paolo Marconi, que me atribuiu a fantástica honraria de ser "o mais baiano dos goianos".
Pois que, seguindo na iluminada vereda aberta pelo mestre marceneiro das letras que criou este portal que me acolhe, vejo-me imaginando o quão difícil deve ser o ofício de ensinar berimbau. E, por isso mesmo, quão excelente deve ser a qualidade de quem se preza ao dito ofício.
Na Medicina - já que o professor Dantas nos permitiu a comparação - a dificuldade deve ser a mesma: desafinou com o bisturi e pronto, lá se vai a base de apoio do capoeirista, ou da capoeirista.
Tomo a declaração retumbante do professor cardiologista como uma confissão de culpa - que frustração maior pode afligir um professor do que a descoberta, pública, de que não consegue ensinar?
Eis o porquê da importância, da relevância e da força do desabafo. Dantesco desabafo porque cobre todo o território nacional com a sombra da incompetência da educação que se oferece às crianças e jovens nesse país - hoje Terra do Nunca Antes.
Realmente, nunca antes nesse país se leu manchete tão forte e mais humilhante ainda do que a rasteira que o emérito professor se aplicou - e aplicou no orgulho baiano.
A manchete em questão: Repetência maior, só na África, o Globo deste 1º. de maio de 2008. Vale reproduzir lead e sub-lead (um pouco de erudição para escapar dos desabafos de algum professor): "Um relatório divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostra que apenas 53,8% das crianças brasileiras matriculadas na escola conseguem terminar a 8ª série (ou 9º ano).
O dado diz respeito a 2005, e indica que a situação piorou em relação a 1999, quando 61,1% dos jovens concluíam o nível fundamental."
O que acontece aqui? A maioria das crianças brasileiras é burra?
É evidente que o problema está no ensino. É evidente que o problema está na prioridade que esse país não dá à Educação; nunca deu.
Se o país levasse a sério o trato à sua cultura, como os fazem com o seu instrumento os mestres do berimbau, a coisa poderia ser diferente.
Pobre do país que não tem em suas salas de aula mestres como os que tocam berimbau.