MISTÉRIO SOBRE O NOME DE SALVADOR

Tasso Franco
29/03/2008 às 14:10
  Um dos maiores mistérios sobre a cidade do Salvador está no seu nome. Quem teria colocado este epíteto na cidade mãe do Brasil?  

  Ao que tudo indica a sugestão teria partido de Dom João III (1502/1557), cognominado o Piedoso ou Pio por sua devoção religiosa e integrante da série de Reis Católicos de Portugal, quando da publicação do Regimento de Almeirin (1548) que alguns historiadores consideram a pré-históra das constituições brasileiras e selou a criação da cidade fortaleza no Novo Mundo.  

  Salvador significa em concepção religiosa católica o advento de salvar, do Senhor, do Salvador, e teria sido até natural que o rei ou algum dos seus conselheiros tenha adotado este nome para a primeira capital portuguesa nas Américas, entendendo-se também que, Portugal, diante das incertezas do modelo administrativo para gerenciar a sua imensa Colônia, tenha optado por essa denominação com esse viés, de salvar o Brasil, no sentido de integrar suas riquezas e seu território ao Império Português.
 
    De toda forma, diria mais racional até, o nome poderia ter sido ao invés de Salvador, "Fortaleza da Bahia" uma vez que a concepção da cidade se formatou com o modelo medieval fortificado de então, meados do século XVI, e a Bahia já era um nome adotado pelos portugueses para o litoral central do Brasil desde 1501 quando da expedição exploratória de Gonçalo Coelho, momento em que o genovês Américo Vespúcio cartografou o acidente geográfico "Bahia de Todos os Santos", ainda naquela época na ortografia de Baía com h (Bahia).  

  Ademais, esse mesmo rei (Dom João III) foi quem instituiu o sistema de Capitanias Hereditárias e organizou na Bahia as capitanias da Bahia (1534), com Francisco Pereira Coutinho, de Ilhéus, Porto Seguro e Itaparica. Veja, portanto, que quando Pereira Coutinho chegou a Bahia o que existia na hoje cidade do salvador era uma vila (Vila de Caramuru) que se situava na altura do bairro da Graça, e este instalou sua fortificação na Barra (onde se situa o Porto da Barra e adjacências) com o nome de Vila do Pereira da Capítania da Bahia, depois Vila Velha do Pereira. 

    Salvador, portanto, passou por todas essas fases (diferente de Olinda e Recife) sendo antes de Salvador, Vila do Caramuru, Vila Velha e Vila Velha do Pereira nomes que o Regimento de Almeirin ignorou-os completamente, estabelecendo-se, assim, o nome do Senhor, do Salvador. Daí que, por exemplo, Recife e Olinda comemoram 475475 anos, respectivamente, enquando Salvador, que é a cidade mais velha do Brasil, 459 anos.

  Issso porque, as duas cidades pernambucanas consideram as datas de suas capitanias hereditárias.   Se Salvador, por exemplo, respeitasse a instalação da Vila do Caramuru, a partir de 1509/1510 estaria, assim, completando 500 anos de existência. Mas, os historiadores reunidos no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia entenderam que a data mãe, a data de aniversário da cidade, seria aquela em que a esquadra de Tomé de Souza, 1º governador Geral do Brasil, aportou na Baía de Todos os Santos, em frente ao atual Porto da Barra, 29 de março de 1549.  
  O curioso é que Tomé de Souza não desembarcou nesse mesmo dia e a cidade só começou a ser construída a partir de 1º de maio de 1549. O certo é que a data passou a ser 29 de março e hoje ninguém contesta mais essa situação, assim como, numa outra aberração, a Rua mais antiga do país (Direita do Palácio) passou a ser chamada de Rua Chile só porque uma esquadra de navios chilenos esteve no Porto de Salvador no ínício do século passado.  

  São as contradições dessa majestosa cidade, a qual, mesmo com todas essas malvadezas, para se utilizar de uma expressão bem baiana, resiste a tudo e a todos. Salvar Salvador e o Brasil, como asssim desejou Dom João III ainda vale até hoje.