BOLINHO, O COBRADOR

Chico Ribeiro Neto
30/10/2007 às 13:01
  Hoje em dia tem cobrador de todo tipo e jeito.
 
  Tem aquela cartinha que chega pelo Correio avisando que "se você já quitou seu débito, favor desconsiderar esse aviso".
 
  Tem o telefonema, que às vezes acontece chegar numa segunda de manhã, lembrando que "não consta em nossa contabilidade que o senhor quitou o débito com o cartão no mês de abril".

  E ainda tem o síndico que interfona perguntando pelo recibo de dezembro, porque "o contador informou que o senhor está inadimplente".

  Na década de 1960 havia em Salvador a figura do Bombeirão: era um bombeiro com uns dois metros de altura que, nas horas de folga, vestia uma roupa de um vermelho berrante e ia trabalhar de cobrador.

  A tática dele era a seguinte: postava-se em frente à casa do devedor e a vizinhança já ficava sabendo que ali morava alguém enrolado. Esperava o sujeito sair do trabalho e o acompanhava.

  Menino, tive a sorte de ver Bombeirão uma vez na Rua Chile acompanhando um inadimplente. Uma multidão ia atrás, gritando e sorrindo. Bombeirão não dizia uma palavra, ficava somente colado no sujeito. O sistema de cobrança era infalível: sem agüentar tanta vergonha, o cara pagava logo.

  Há também o sistema mais agressivo de cobrança, quando se contrata um valentão pra ir atrás do devedor. Ou paga ou apanha.
 
  Mas, de todos, o cobrador mais original que já ví foi Bolinho, garoto de uns 13 anos que vendia bolinhos de tapioca e que, depois da vendagem, jogava "baba" com a gente na Rua Gabriel Soares.

  Meninos com a mesada curta, a gente muitas vezes comprava fiado na mão de Bolinho e para aqueles que "se esqueciam" ele tinha um sistema de cobrança infalível. Ia para a porta do menino devedor e começava a gritar palavrões, um atrás do outro, às vezes nem repetia.

  Como sabia palavrão aquele moleque! Logo, o pai ou a mãe saía à porta para reclamar e Bolinho respondia: "Só paro de xingar quando o filho do senhor me pagar o que deve".

  O pagamento era imediato.