A TÁBUA E OS TEMPOS

Eudes Aquino
18/10/2007 às 16:20
   A tábua do destino, conta-se, foi a primeira criação de Alá, e nela está escrito não somente tudo que aconteceu no passado, mas também o que ocorrerá no presente e no futuro e mais ainda, o destino de cada ser humano para todo o sempre.


  A seguir, ele criou uma pena tão longa que para percorrê-la se levaria 500 anos. Com essa pena sobre a tábua, da direita para a esquerda, se escreveram os fatos ocorridos, os que estavam ocorrendo e aqueles que viriam a surgir até o dia da ressurreição.

  Se tudo isso é lenda ou imaginação, outros livros ditos sagrados também o registram, de outra forma, com outras versões que, afinal, representam o mesmo do mesmo, de vez que um todo é uno.


  Nos dias turbulentos de hoje, ao analisarmos o passado, buscamos fontes de correção e ensinamentos para o presente e para o planejamento lógico e racional do futuro.

  Mera utopia? Premonição futurista? Ilusão amadora? Pura quimera? Não, cremos que não. Nossas ações de hoje moldam e estruturam o amanhã. E o que falta?

  Falta a lição maior. Falta inserir de forma definitiva o cooperativismo como alternativa comprovada de um ideário promotor consagrado de desenvolvimento sustentado, quer econômico, quer social.

  Existem números e fatos que não permitem tergiversações ou dúvidas. Num mundo inteiro, de um PIB total de 32 trilhões de dólares, 23% decorrem desse veículo de progresso social solidário, expresso na mágica da cooperação e, além, 40% da população deste picadeiro, chamado de planeta Terra, direta ou indiretamente, está envolvido ou dependente da cooperação, o que soma quase 3 bilhões de pessoas.


  Em visão panorâmica por vários países do mundo, vemos que as cooperativas respondem por 20% do mercado de fármacos na Bélgica; 74% dos alimentos e 34% dos depósitos no sistema financeiro na Finlândia; 99% do leite e derivados e 76% do setor de produção florestal na Noruega; 66% do trigo nacional no Uruguai; 43% de soja, 38% de algodão, 39% do leite e 72% do trigo, no Brasil, onde são gerados cerca de um milhão de empregos diretos e indiretos e é movimentado 6% do PIB tupiniquim, através de aproximadamente 7,5 mil cooperativas dos 13 ramos de atividades.

  Para variar, engatinhamos na pista onde a velocidade é desmedida. Muito, muito mais poderia ser feito, bastando para tal que olvidassem eles da extorsão tributária persistente e prevalente e concedessem estímulos à geração e construção de um país cooperativista, verdadeiramente.

  Jamais, em nenhum lugar do mundo, se verá um povo tão predisposto, se efetivamente orientado e conscientizado, a carregar a bandeira promissora e portadora de progresso social e econômico, representada pela cooperação. Falta, e é inquietante num país que carece de equilíbrio social, mercê das desigualdades que historicamente o atravanca e o caracteriza, juntar movimentos esparsos e pontuais de posturas governamentais isoladas, que fomentem e incentivem a economia solidária, em um só corpo, para agigantar e conseguir um novo modelo de crescimento sólido, responsável e socialmente justo e igualitário.

  As cooperativas de todos os ramos esperam o tocar das trombetas para se por de pé e à ordem, nesse desafio e se não o fizerem, nós todos o faremos.

Há segmentos, como o da saúde, de há muito com um perfil qualificado e capilaridade extensiva, ocupando de cerca de 80% do território nacional, praticando com excelência ações que nada ficam a dever àquelas de qualquer outro país do mundo, em comparação.


  Desoneram as burras do Governo pelo trabalho sério, amadurecido em 40 anos ininterruptos, e também encurtam as filas da medicina pública capenga, com resolutividade exitosa. Há reconhecimento? Há chamamento para parcerias? Há tão somente o chicote extrativista e punitivo como se párias fôssemos.

  Porque não estabelecermos parcerias público-privadas valendo-nos da capilaridade que é o nosso principal diferencial competitivo? Qual a lógica desse comportamento governamental, e como entendê-lo, senão a luz do desconhecimento e da ignorância da força latente e subutilizada de que o cooperativismo é portador.


  Não sei o que Alá escreveu na tábua, mas acredito que lá está, claro e definido, que é tarefa dos homens construir o futuro calcado no bem comum, na eqüidade, na igualdade e na solidariedade. Dele nada sairia diferente, pois Alá é sábio e subiu aos sete céus.

  Creio também que nada há que contrarie ou se oponha a esses deveres, afirmações e propósitos. Num Shabat em qualquer tempo ou lugar, um Kadi nos reconhecerá pelo que fomos, somos e faremos e nos julgará como Effendis da cooperação e construtores de uma nova ordem nacional se nos dispusermos a consolidá-la.


  Mas para tal é preciso união, objetiva e perene, e muita, muita luta mesmo. Quem viver, verá!