Henri Clay Andrade
13/10/2007 às 16:05
"Estava a bordo da aeronave que me conduzia até o Distrito Federal. Durante o trajeto, pus-me a ler compulsivamente a revista Veja, como forma de esquecer e aliviar a minha tensão quanto aos riscos que estava ali amargando.
Ao ler o artigo intitulado "O que deu em mim", da lavra do jornalista Diogo Mainardi, fiquei chocado com a sua grave imputação de que "todos os políticos são vagabundos".
Tenho para mim que na vida tudo é relativo. Fiquei a refletir sobre aquela expressão implacável e absoluta.
É certo que os fatos deprimentes e contumazes de corrupção chancelam o descrédito da classe política, mas daí a impingir que todos eles são vagabundos! É, sem dúvida, uma afirmação eloqüente. Entretanto, será que corresponde com a realidade? Se todos os políticos são vagabundos para que então o regime democrático?
Envolvido nessas reflexões, logo constatei o perigo da acusação. Ela não só afeta os políticos, mas, sobretudo, o Estado Democrático de Direito.
Tenho para mim que existem políticos passíveis de respeito. Claro que todos são falíveis, afinal, são pessoas humanas, cuja contradição nos é inerente.
Sem citar nomes, refiro-me aos homens públicos que a história registra condutas compatíveis com os valores republicanos.
No meu exercício de cidadania, não compreendo o voto nulo como solução. Ao contrário, entendo ser um protesto que dá maior margem de atuação aos vagabundos que ocupam espaços de poder nos palácios e parlamentos. Sempre votei e voto. Na minha escolha não busco perfeição, coerência absoluta ou purismo celibatário. Todos fazemos parte da sociedade de falíveis.
A sociedade precisa ouvir a voz altiva e contestadora de todos eles sobre essa grave acusação, pois quem cala consente!"