"Olha, que eu vou passar esse Brasil a limpo!", ameaçou o presidente do Senado da República, Renan Calheiros, depois que alguns afoitos do Congresso Nacional insinuaram a criação de mais uma CPI. Dessa vez, para apurar as relações mais que incestuosas entre empreiteiros e senadores, deputados, delegados, advogados, juízes, ministros, desembargadores, governadores, assessores e funcionários públicos de todo quilate...
Tudo isso já fruto de uma estardalhante "Operação Navalha", desencadeada pela Polícia Federal, que levou muito graúdo a passar vexame, dormindo algumas noites sob custódia. E depois, também, de uma reportagem da revista Veja, de grande circulação e influência, mostrar que o nosso mui digno senador Calheiros, legítimo representante da "República das Alagoas" dos malditos tempos colloridos, tem contas pessoais, mais que privadas, pagas por lobista de uma grande empreiteira que costuma financiar campanhas de vários partidos da nossa república. Está na edição desta semana, todas as favas contadas. Pois bem, o senador, acuado, ameaçou!
Foi um Deus nos acuda em Brasília! Petiscos, tucanóides, dementes, peemedebilóides, pecêsdobingos, pepeteiros, tricolores e rubronegros... todo mundo "arrupiado"! Já pensou se esse "home", tão por dentro das mutretas todas, decide passar o papel higiênico com vontade na "tenção" de limpar o fiofó dessa república? Haja celular, haja conchavo, haja conversa, meu rei!
E tome-lhe "aquieta, acomoda", e vamos, rápido, desqualificar e desmerecer a Polícia Federal e sua saga raspadora, é preciso enquadrar essa diligência toda, urgente, antes que a fedentina, mais uma vez possa ameaçar a nossa "demacrogia" populista !
Mas a frase "vamos passar o país a limpo" me fez lembrar, com saudade, o grande estadista, educador, escritor, poeta e Homem de Bem Darci Ribeiro - que Deus o tenha no reino de Vossa glória! Ele vivia a sonhar e a pregar: "É preciso passar esse país a limpo!"
Os "porretas" não o levavam a sério, apesar de o professor Darci ter sido um dos brasileiros mais ilustres e decentes que conhecemos. Ele acreditava no Brasil. Foi fundador da Universidade de Brasília, criou os Cieps no Rio de Janeiro, cria que seria possível um país diferente a partir de uma educação de bom nível para todos. Educação, eis o "x" da questão.
Que diferença, a grandeza do "passar o Brasil a limpo" de Darci Ribeiro, diante da pobreza (ou seria sujeira?) da ameaça do Calheiros, que pode jogar muita melança no ventilador e borrar a tal república lulista, já respingada por outras "cêpêís" e por outras línguas de trapo nervosas, tipo Bob (cuspe) Jefferson. Já esquecemos?
Ah, que tempos! Que costumes!
Sinto-me migalha de uma geração que sobrou e sonhou, independente da cor do time e da bandeira, até em plena ditadura militar, até brigou (arriscando a vida e dando exemplos até hoje) por um país melhor e menos desigual, trabalhando com honestidade, sem botons, sem bandeiras e sem preconceitos, apenas acreditando na dignidade e no respeito ao ser humano.
Saudades de Glauber Rocha, pra citar só um exemplo.
Setembro 2022, duzentos anos de nossa suposta independência! Qual o projeto de nação que temos até lá? Dois de julho de 2023, como a Bahia vai comemorar as lutas de libertação de seu povo? Teremos saúde pública decente pro nosso caboclo? Instrução, boa escola e emprego para preto, mestiço, e branco pobres? Cadê a igualdade? Onde a fraternidade? A liberdade não passa de um bairro cheio de problemas humanos, ainda carente de uma "Independência ou Morte!".
Mas, quem liga pra isso? O importante mesmo é a liberação urgente da verba pública pra empreiteira que vai fazer uma ponte pro nada, abrir o canal da água ardente, botar betume no buraco, correr atrás da verba do SUS (S.O.S.), apagar provas de crimes e voar de jatinho, passear de lancha sem saber quanto custa ou de quem é mesmo o mimo.
Ora, veja! 2023 é daqui a mais de quinze anos, esse cara é louco! Quem perde tempo, hoje, pensando no futuro?
Volto ao brasileiro Darci. Lembro-me dos educadores Anízio Teixeira, baiano de Caetité, que imaginou poder passar o Brasil a limpo através da educação, dos cursos profissionalizantes, de uma escola voltada para as carências de nosso povo e integrada ao processo de crescimento. Ele bem que tentou, deixou sementes, hoje enterradas em solo árido, sem umidade e sem luz. Sem querer político, sobretudo. Mas elas existem, é só revolver a terra. Penso no grande Paulo Freire e sua metodologia de ensino arraigada no solo onde pisa e respinga o suor do povo. O saber é o futuro.
E pergunto, estarrecido diante de tanto "pega ladrão!" nessa república de empreiteiros: Qual é o projeto de educação deste país? Numa era em que o conhecimento é a maior de todas as riquezas, que será do amanhã de nossa gente? Que escola temos e queremos na Bahia? Que ensino podemos ter? E os nossos jovens e crianças que vivem nos morros, nas periferias, nas invasões, na roça, aprenderão a pensar, no quê?
Aliás, sejamos claros... alguém sabe de cor o nome do secretário de educação do município? Existe? E o secretário de educação do novo governo Wagner, já tomou posse? Qual é plano dele para modificar a realidade educacional da Bahia? Quais foram os Educadores convocados para ficar à frente disso? Vamos ser mais diretos: o nobre leitor é capaz de me dizer, sem consultar o Google, o nome do distinto ministro de educação deste país? Qual a diretriz pedagógica, metodológica de ensino que ele defende e que norteia a educação brasileira?
Como se vê, passar o Brasil a limpo é muito mais do que varrer o país dos Calheiros, Zuleidos, deputados, senadores, juízes, governadores, prefeitos, vereadores, militantes azedos de tantas bandeiras, e oportunistas de todos os matizes que atazanam, feito muriçocas de verão, a nossa república populista, sugando o sangue e os sonhos da nação.
Que tal começar com esfregão e muita k-boa ?
Acho que ainda há tempo para se pensar num grande mutirão de limpeza e em projetos de educação e direitos humanos iguais para todos, com metas e data definida : O Dois de Julho de 2003, por exemplo. Não sei se estarei vivo até lá, mas meus filhos e netos bem que merecem um Brasil melhor.