visita do papa Bento XVI ao Brasil já nos deixa um significado maior do que qualquer pronunciamento do sucessor de Pedro no trono de Roma:
É possível a humanidade conviver em paz.
Arrebanhar mais de milhão de pessoas, multidões sem conta, gente de toda origem, idade e cor de pele, guiados por uma mensagem apenas, em absoluto clima de festa, contrição e paz, sem um incidente sequer, é um exemplo. É um sinal de luz, nesses tempos opacos, de tanta desagregação e violência.
Somente por isso já valeu a pena a visita papal.
E não é por causa do ranzinza padre alemão Ratzinger, que ora ocupa o trono, e muito menos em função de sua pregação de apego aos dogmas e preceitos, alguns medievais, da "Santa Igreja". Foi assim também com João Paulo II, mundo à fora.
À essa gente simples, povo de fé, que se espreme e passa fome à espera da aparição papal, pouco importa a posição dele sobre o aborto, o casamento gay, a camisinha, o celibato ou a opção preferencial pelos pobres da teologia da libertação. Não é por causa disso que lá estão jovens, velhos, crianças de todo canto, com lágrimas escorrendo, em estado de graça. A fé e a misericórdia de Deus, o Criador, estão muito acima dessas querelas mundanas.
O que une em estado de paz essa gente é o anúncio, a mensagem do bem, da paz possível entre os homens. O amor evangélico de Jesus, o Cristo, que chega em forma de uma energia que a todos contagia, como se aquele momento os transportasse a um outro mundo, a uma outra "realidade".
"Meu reino não é desse mundo", disse Jesus, há mais de dois mil anos.
A procissão de centenas de padres/bispos vestidos de branco, caminhando para o altar armado, no Campo de Marte (São Paulo), onde o Papa rezaria a missa e anunciaria a santificação de Frei Galvão, na manhã de uma sexta-feira de sol e céu azul límpido, lembrou-me a festa das águas de Oxalá, nos terreiros de Salvador, o cortejo do Senhor do Bonfim da Bahia, o desfile dos Filhos de Ghandi com seu ijexá da paz.
Em Aparecida, são esperados mais de dois milhões de fiéis. Fora os milhões e milhões, em todo o mundo, ligados na tevê. E não é pela "simpatia" de Bento XVI.
A humanidade carece de instantes assim, vive em busca de afeto, de um gesto de amor, de concórdia, de um olhar da divina misericórdia. Nas catedrais, nos templos evangélicos, nas mesquitas, nas sinagogas, nos terreiros de candomblé, diante do marinfindo, banhando-se nas nascentes, quedando-se nas trovoadas ...
A humanidade quer paz e amor.
A gente de santo, o povo de fé dá o exemplo.
É possível, mesmo com todas as nossas diferenças humanas, conviver em harmonia.
Basta um branco, uma luz, um sinal ... Valeu, papa.