O primeiro pronunciamento do governador Jacques Wagner (PT) ao assumir o governo da Bahia ficou a desejar. A população esperava que o chefe do executivo apresentasse propostas mais consistentes para a Bahia, em especial, nas áreas de desenvolvimento e geração de emprego e renda, sobretudo levando-se em consideração que a Bahia deu um pulo significativo durante a gestão Paulo Souto (PFL) 2003/2006.
É de se dizer que o governador Wagner ainda não teve tempo de apresentar uma proposta mais consistente e ainda não tomou pé das entrelinhas do governo. Mas, até em função de já ter sido deputado federal e ministro do governo Lula, Wagner deveria ter sido mais ousado, pois, esta era a expectativa da população que o elegeu.
Wagner também foi econômico em relação ao funcionalismo público, as estruturas do poder centralizado e descentralizado e não quis meter a mão na cumbuca antes do tempo, embora alguns dos seus secretários já tivessem emitido opiniões sobre a necessidade de fazer concursos públicos para acabar com as contratações sob regime diferenciado. Só na educação são 11 mil pessoas nessa situação e Wagner sabe que não haverá tempo, em 4 anos, para instituir o modelo à base do concurso público para todo esse pessoal.
Isso, evidente, sem falar na PM, na Saúde, na Infra-Estrutura, no sistema prisional, nas merendeiras, no pessoal auxiliar de limpeza e administrativo, o que seria mais de 20 ou 30 mil pessoas se submetendo a aprovação de concursos, coisa que nenhum secretário da Fazenda gosta de ouvir, em especial, logo no início de governo. Mas, de toda sorte, este é um compromisso de Wagner e ele não terá como escapar da cobrança dos sindicalistas para que haja essa efetivação.
O Sindifaz, por exemplo, já colocou uma matéria paga em A Tarde dizendo que existem mais de 400 fazendários em condições de se aposentarem e não o fazem, agora, porque perdem 40% dos salários. Então, aguardam Wagner para que haja uma reparação e a aposentadoria merecida. Os professores também estão na lista de espera e o professor Rui já disse que vai cobrar os reajustes merecidos. Ou seja, cobranças vão ter muitas daqui para frente e o governador é experiente e saberá como resolver, embora, cofres públicos têm limites estabelecidos pelo bom senso e pela lei de responsabilidade fiscal.
Wagner também não quis adiantar quais são os programas que pretender instituir na área social deixando escapar no seu discurso que o luz para todos, com certeza, chegará a todas as famílias baianas. É certo, no entanto, que sendo alinhado do presidente Lula vai se mobilizar para ampliar a base popular que se beneficia com o Bolsa Família, programa que o presidente já disse que será reforçado e que setores do Brasil (o PSDB) não entenderam ainda o seu alcance social de retirar muitas famílias da miséria e refogar a economia em vários municípios.
O governador Wagner foi generalista na maioria dos assuntos que focou - educação, saúde, social, segurança, etc. - e certamente vai dar vida e forma aos seus projetos na medida em que mantenha contato com os interlocutores do governo federal e azeite sua equipe. Certamente também vai cobrar de cada assessor do primeiro escalão propostas para avaliar se devem ou não serem executadas.
Haverá, sem dúvida, uma sombra a perseguir Wagner nos próximos quatro anos: a administração do ex-governador Paulo Souto com números de fazer inveja a muitos estados, em especial na agricultura, na educação, na saúde, tecnologia e industrialização. A Bahia, hoje, é o quinto estado em industrialização e sexta economia do país. Além disso, tem o melhor Índice de Desenvolvimento do País, embora, sendo o estado que possui a maior área do semi-árido nacional os índices de pobreza sejam elevados.
Ademais, o ex-governador Paulo Souto vai se manter na política e estará atento às criticas que por ventura venham em sua direção e Wagner sabe que se houver uma alimentação nesse sentido, sem consistência, a tendência é de Souto conquistar mais confiança junto à população e 2010 é logo ali na esquina.
O governador Wagner avisou que vai se dedicar ao máximo na tarefa de administrar e, por enquanto, não vale qualquer referência em relação ao governo Waldir Pires (1987/89), embora o jornal do senador ACM já tenha estampado em manchete que Wagner começou igual a Waldir. Essa será, sem dúvida, uma estratégia a ser utilizada por ACM e caberá a Wagner, até para que não seja verdadeira a comparação, dar força motriz ao seu governo logo nos primeiros dias.
De sorte que o jogo começou pra valer a partir de hoje, 2 de janeiro, pois, dia primeiro do ano, além de ser de confraternização universal ainda se falava a linguagem dos palanques. Bem, agora é governar pra valer e dizer para que veio.