Ao indicar o engenheiro eletricista, Robinson Almeida, para a Agência de Comunicação - Agecom - o governador Jacques Wagner (PT) promoveu uma inovação que até agora o mercado dessa área ainda não entendeu. Comentam-se, nos bastidores, que diante da recusa do deputado Emiliano José (jornalista por profissão) na véspera do anúncio da primeira lista dos ungidos para o primeiro escalão teria ocasionado uma pororoca e, no refluir das águas, na correlação e equilíbrio das forças internas do PT, o deputado Walter Pinheiro, emplacou Almeida.
Nunca se sabe exatamente o que se passa nessas ocasiões, mas o certo é que a Agecom, tradicionalmente dirigida por um profissional do segmento comunicação - jornalista, publicitário, radialista, etc - terá a coordenação de um estranho ao ninho no mercado. Óbvio que o governador eleito tem todo direito de escolher quem bem entenda, pois, não se exige diploma para qualquer dos postos de primeiro, segundo ou terceiro escalão.
Na República, o presidente FHC inovou ao colocar o economista José Serra na pasta da Saúde e este se saiu muito bem. Aqui na Bahia, o governador Lomanto Júnior (1963/1966) pôs Jorge Calmon, então jornalista de A Tarde, hoje emérito, como secretário do Interior. O presidente Lula da Silva tinha uma estrutura comandada pelo administrador e ex-presidente do Sindicato dos Bancários de SP, Luis Gushinken, no comando da Secretaria de Comunicação, e mais o jornalista Ricardo Kotscho, na secretaria de imprensa, e André Singer, como porta-voz.
É provável que Wagner adote um modelo dessa natureza nomeando um porta-voz e um assessor de imprensa, deixando para Almeida a tarefa de formular e cuidar da política de comunicação na sua forma mais ampla. Não há notícia, no entanto, de que na reforma administrativa a ser encaminhada pelo PT à AL, a Agecom retorne o status de Secretaria de Comunicação, como aconteceu no governo Roberto Santos (1976/79), com orçamento próprio e objetivo bem definido.
O que sabemos é que a Comunicação, importante segmento do governo, tem sido considerada ao longo dos últimos anos uma espécie de vilã, bode expiatório, bode preto ou coisa do gênero, na medida em que se critica ferozmente gastos na mídia institucional e na venda do produto Bahia, como se alguém pudesse fazer esse tipo de operação sem o uso dos meios de comunicação de massa - rádio e televisão. Na última campanha eleitoral, esse foi um dos pratos cheios do programa do candidato do PT.
E agora, o que fará Wagner no governo? O novo chefe da Agecom, em entrevista a esta TRIBUNA DA BAHIA afirmou que "os gastos com propaganda não serão maiores do que os gastos no programa que está sendo feito para divulgação". Confesso que não entendi. E, mesmo que me esforçasse para entender é impossível fazer uma correlação dos gastos com a venda do produto Bahia (a promoção no Brasil e no exterior) e a divulgação que é gratuita e reserva-se a um esforço pessoal do governador e de sua equipe.
Estima-se que o governo movimente uma verba em torno de R$60 a R$80 milhões/ano na conta Comunicação, com rubricas da Agecom, Cesta do Povo, Bahiatursa e outros. Só a Bahiatursa investe em torno de R$30 milhões/ano e isso é absolutamente normal, embora, para os olhos de alguns petistas na oposição ao governador Paulo Souto, seja considerado um absurdo. Há, inclusive, quem faça comparativo dizendo que esse dinheiro seria mais útil se utilizado para fazer casas populares como se uma coisa tivesse a ver com a outra.
Enquanto a Comunicação não for entendida como uma rubrica igual à Saúde, Educação, Transporte, dá nesse tipo de análise esdrúxula. Daí que torci muito para que o chefe da Agecom fosse o deputado Emiliano José, mestre na arte de ser estilingue, jornalista por profissão, para que ele sentisse o gosto de dirigir alguma coisa e ser vidraça. Mas, infelizmente, ele teria pulado fora do barco alegando, como saiu na imprensa, que vai cuidar de sua vida política.
Ainda assim restou-lhe a oportunidade de como professor da área de Comunicação explicar aos seus alunos como Wagner escolheu um engenheiro eletricista para ser o chefe da Agecom. É um bom case. Quem também está devendo uma explicação ou uma palavrinha de alento que seja aos coleguinhas jornalistas e publicitários são o Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia, o Sinjorba; a Associação Bahiana de Imprensa (ABI), e a Associação Baiana das Agências de Publiciade (Abap).
Esse é um tema interessante a ser abordado e as entidades têm, assim, uma boa oportunidade para se manifestarem.