Com a chegada da imagem à Basílica Santuário Nosso Senhor do Bonfim e do cortejo religioso à Colina Sagrada, as baianas fizeram a tradicional lavagem das escadarias da basílica
Tasso Franco , Salvador |
12/01/2023 às 15:25
Axé com duas belas à vista, uma belíssima; a outra mais ainda
Foto: Otávio Santos
A emoção tomou conta dos fiéis que acompanharam a chegada da imagem do Senhor do Bonfim ao seu santuário da Colina Sagrada, na manhã desta quinta-feira (12). Fogos de artifício, execução do Hino ao Senhor do Bonfim e bênção aos fiéis, concedida pelo padre Edson Menezes, reitor da Basílica Santuário Nosso Senhor do Bonfim, marcaram as homenagens.
Este ano, a celebração do santo de maior devoção na Bahia tem um simbolismo especial, pela sua retomada após dois anos de pandemia de Covid-19 e pelo bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, em 2 de Julho.
A fisioterapeuta Tainá Medrado, de 49 anos, participou da “Corrida Sagrada”, com largada às 7 horas, chegando ao Bonfim por volta das 10 horas.“Sempre faço o percurso andando, mas esse ano resolvi correr. É uma emoção diferente, cheia de esperança de que em 2023 as coisas sejam diferentes,que a gente consiga respirar e fazer parte das manifestações populares, a exemplo dessa, que é grandiosa. Agradeci muito e pedi saúde a toda a família”, contou.
Com a chegada da imagem à Basílica Santuário Nosso Senhor do Bonfim e do cortejo religioso à Colina Sagrada, as baianas fizeram a tradicional lavagem das escadarias da basílica, com água de cheiro. Presente ao evento há 30 anos, a baiana Zuleide da Conceição, 70 anos, conta que sempre prepara a roupa e as flores com muito prazer.
“Desde criança a minha mãe me trazia e eu peguei o gostinho. Fui ser baiana de acarajé e passei a fazer uma roupa todo ano para vir à Lavagem do Bonfim, assim como o meu arranjo de flores. Esse ano eu vim para pedir paz para o mundo e saúde para todos”, disse.
Fé e sincretismo – Há 15 anos, o ator Gabriel Tavares, de 35 anos, participa da Lavagem do Bonfim. “A fé é isso, vai se propagando de uma pessoa para outra e se torna algo muito grandioso, porque o Senhor do Bonfim é tudo na vida da gente. Eu sou filho de Oxalá, então estou aqui como adepto do candomblé. O sincretismo é muito forte e é muito bom a gente se encontrar depois de dois anos de pandemia. É um misto de emoção e gratidão”, revelou.
Já a coreógrafa Deborah Colker, que em 2021 estreou o espetáculo “Cura”, com trilha sonora de Carlinhos Brown, veio à Lavagem do Bonfim esse ano pela primeira vez e se emocionou bastante com a celebração. “É uma promessa antiga que eu consegui cumprir. Eu vim andando e quando cheguei aqui a emoção me pegou. Acho que a fé é maior que a religião, maior que a cultura, maior do que a gente. É algo que te conecta com a terra, com o céu, com tudo. Eu preciso muito da cura, busco sempre e acho que o Senhor do Bonfim é a cura do que não tem cura. Abre os caminhos e traz a gente aqui”, falou.
Centenário – O tema da lavagem deste ano foi “Há 100 anos cantando ‘Glória a Ti neste dia de glória”, em referência ao Hino do Senhor do Bonfim, criado por Arthur de Salles e João Antônio Wanderley em 1923, em comemoração ao então centenário de luta pela Independência do Brasil, na Bahia. Os versos foram eternizados em gravações como a do cantor Caetano Veloso, no disco “Tropicália ou Panis et Circensis”, de 1968. Como de costume, o hino foi entoado por uma multidão na chegada do cortejo à Colina Sagrada.
As homenagens ao Senhor do Bonfim seguirão até o próximo domingo (15), quando às 10h30 será celebrada uma Santa Missa Solene presidida pelo cardeal arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Salvador, Dom Sérgio da Rocha, que ao final dará benção apostólica com indulgência plenária. Às 16 horas do mesmo dia, haverá ainda a Procissão dos Três Pedidos, com saída da Igreja Nossa Senhora à Colina Sagrada.