Veja a história e dados pitorescos do Terreiro de Jesus, seus templos religiosos, a Escola de Medicina e as ruas que dão acesso ao Pelô
Tasso Franco , da redação em Salvador |
20/08/2017 às 11:59
Terreiro de Jesus vendo-se ao fundo a catedral e o Memorial de Medicina
Foto: BJA
A praça Terreiro de Jesus tem um dos nomes mais originais e bonitos da cidade do Salvador. Fica situada no coração do Centro Histórico, a porta de entrada para o Palourinho e Largo de São Francisco.
Quando da fundação da cidade, em 1549, a área do Terreiro ficava fora dos muros da fortaleza e era um pasto que servia aos animais de montaria e depois aos bichos de criação dos padres do Colégio dos Jesuitas.
Terreiro também tem significado de quintal, de área de lazer, e até de axé, o conjunto de objetos do candombé, força, que fica no terreiro. Todo candomblé tem um terreiro. O samba nasceu no terreiro da casa da tia Ciata, baiana de Santo Amaro que morou no Rio, nos séculos XIX e XX. Terreiro é um lugar de lazer no Recôncavo da Bahia. Terreiros de sambas de roda.
Jesus foi um judeu zelote de Nazaré que se insurgiu contra o Império Romano na ocupação da Galileia e foi executado numa cruz. Seus seguidores implantaram a partir de sua morte o cristianismo, de Jesus Cristo, e nasceu a Igreja Católica. O imperador Constantino Magno, 300 anos após a morte de Cristo, foi o primeiro a praticar e difundir o cristianismo.
Jesus é também conhecido como o Salvador, o santo dos santos da igreja. Quando Dom João III resolveu ocupar de vez o Brasil, em 1548, instituiu o Regimento de Almeirin, e colocou o nome na cidade fortaleza e capital do Brasil, de Salvador. Então, o Terreiro de Jesus é o Terreiro do Salvador.
Ganhou contorno definitivo de praça no Século XVII quando a Companhia de Jesus decidiu com apoio do governo construir a Catedral Basílica inaugurada em 1657. Foi desse local, quando ainda era área da Capela do Colégio dos Jesuitas, que o padre Antonio Vieira assitiu da sacristia a invasão holandesa a cidade em 1624.
A catedral é inaciana, de Santo Inácio de Loyola, o espanhol que estudava em Paris e fundou a Ordem, dez anos antes da fundação de Salvador. No frontispício da catedral tem uma imagem de Loyola. A CIA de Jesus é também conhecida como o braço financeiro da Igreja e de grandes missionários e educadores. Foi a primeira a chegar a Salvador, na armada de Thomé de Souza, com Manoel da Nóbrega.
É nesta catedral que fica o busto de São Francisco Xavier patrono dos missionários da Ordem e padroeiro de Salvador. Destituiu Santo Antônio por determinação da Câmara de Salvador - fato absurdo - sob o pretexto de que teria posto fim a cólera que dizimara muitos baianos.
Na catedral está sepultado Diogo Álvares, o Caramuru, personalidade pioneira na fundação da vila antes de Thomé de Souza e responsável pela fundação da primeira igreja da cidade, a de NS da Graça. Quase todos os arcebispos que atuaram em Salvador, arcebispado primaz, estão sepultados na catedral. O último foi dom Lucas Moreira Neves. A exceção foi dom Eugênio Sales, sepultado no Rio. Hoje, a catedral passa por uma reforma, restauração de várias áreas.
Ao lado da catedral na linha Norte está a antiga Escola de Medicina da Bahia - primeira do país - fundada por dom João VI em 18 de fevereiro de 1808. Dom João VI era príncipe regente (don Maria, a rainha, estava louca) e quando da fuga da Coroa Portuguesa para o Brasil após a ocupação francesa com as tropas de Napoleão Bonaparte ocupando Espanha e Portugal ele fugiu para o Brasil com apoio de uma esquadra inglesa. Por obra do destino, a nau em que viajava antes de chegar no Rio aportou em Salvador.
Dom Pedro I tinha 7 anos de idade e a Corte foi até a catedral orar e o governador Saldanha, da Bahia, fez tudo para que Dom João VI se estabelecesse em Salvador. Mas, não conseguiu. Em compensação, ele abriu os portos as nações amigas e criou a Escola de Medicina, hoje, Faculdade de Medicina da UFBA, que não funciona mais no Terreiro.
No antigo prédio, que já sediou o Nina Rodrigues, o necrotério, há um conjunto de museus e o Memorial de Medicina. É um conjunto belíssimo aberto à visitação pública.
Ao lado desse conjunto está a Cantina da Lua, de Clarindo Silva, um espaço de lazer - bar e restaurante - e cultura que vem funcionando desde a década de 1960. Mais adiante nessa mesma linha situa-se a Igreja de São Pedro dos Clérigos erguida para substituir a antiga ermida dos jesuitas derrubada em 1708. A nova igreja é dos séculos XVIII e XIX em estilo neoclássico e rococó. Tem várias imagens em roca. É um templo pouco frequentado e abre eventualmente. Quase sempre está fechado e em suas escadarias dormem mendigos.
Adiante há mais duas casas comerciais. De testada com a catedral demarcando a praça na linha Oeste está o tempo dominicano dedicado a São Domingos de Gusman datado de 1731 com fachada rococó e cúpula bulhosa. O teto da nave tem uma arte belíssima de Joaquim da Rocha. É outro templo pouco frequentado pelos baianos. São Domingos é mais cultuado na Amércia Espanhola especialmente na Colômbia.
Era numa área dessa igreja que o rábula Cosme de Farias atendia seus clientes no direito popular, isso nas décadas de 1950/1960. Cosme morreu no inicio dos anos 1970 e era o advogado dos pobres. Foi vereador e ia da igreja até a sede da Câmara andando e sendo cortejado pelo povo. Gostava de tomar uma pinga nos bares da Sé. Imortalizou-se na cidade e hoje há um bairro com seu nome Cosme de Farias bastante populoso.
Na linha Sul da cidade e da Catedral fica um corredor de casarões, o bar onde se aprecia o melhor cravinho da cidade, lojas de souvenirs a Fundação ACM, o politico que restaurou e deu vida ao Pelô, a partir de 1990. Há quem o critique, até hoje, porque retirou muitos moradores da área para reformar os casarões.
O Terreiro é acessado por seis ruas: a antiga Direita do Colégio partindo-se da Praça da Sé e chegando a Catedral; a Alfredo de Brito que fica entre o Memorial de Medicina e a Cantina da Lua, na área Norte, que dá na Ladeira do Pelô (é o outro nome dessa rua - Ladeira do Pelô incluindo o largo adiante); mais a frente as Ruas João de Deus e Laranjeira, a primeira descendo para o Pelô em direção ao largo e a segundo paralela ao templo dominicano em direção ao estacionamento da Baixa dos Sapateiros;
E no lado Sul ficam a rua do Saldanda - descida de veiculos - onde se situam lojas de eletrônicos e instrumentos e peças musicais; e a rua da Oração - na esquina da Fundação ACM. Na testada oeste fica a boca da entrada do Largo de São Franciso área com bares e restaurantes e a Delegacia de Policia em Turismo.
No centro do Terreiro está um belissimo chafariz que, no momento, está quebrado, sem jorro d'Água. Há uma permanente roda de capoeira nas proximidades do chafariz, em frente ao Memorial de Medicina, e algumas tendas de mulheres que fazem tererê - modelo afrobaiano de pentear o cabelo. Há, ainda, em frente a Cantina da Lua um ponto de táxi; e em frente a Fundação ACM um posto da PM.
O Terreiro durante os ciclos de festas populares da cidade é ponto de shows com bandas num palco. E, no 2 de Julho, data cívica da Independência da Bahia, há um Te Deum na Catedral e folguedos, anualmente.
