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NF , RJ |
02/08/2017 às 21:50
Valongo a porta de entrada dos escravos no RJ
Foto: Visit Rio
A Trilha do Valongo é uma verdadeira aula de história ao ar livre. Chamada de Pequena África, o local é a memória viva de período da escravidão no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro. Hoje, é um espaço de resistência e divulgação da cultura negra. Todos os locais podem ser conhecidos a pé e com diversas opções de bares e restaurantes para uma pausa.
O passeio começa no Jardim Suspenso do Valongo (Rua Camerino s/n), na encosta do Morro da Conceição. O Jardim data de 1906, projeto de autoria do arquiteto Luiz Rey. Construído nos moldes dos parques franceses do século XIX, retornou aos padrões originais após a obra de revitalização da Zona Portuária. Réplicas das estátuas dos Deuses Minerva, Marte, Ceres e Mercúrio, que antes adornavam o Cais da Imperatriz, estão expostas no jardim.
Dentro do Jardim está o Centro Cultural Pequena África, instituição que desenvolve ações de resgate e preservação da cultura afro-brasileira. Na programação, o destaque são os encontros Ydaobá, uma roda de conversas sobre ervas sagradas que acontece às quintas-feiras das 15h às 17h30. A entrada custa R$ 20 e o visitante pode levar um frasco para armazenar o preparo de ervas. Mais informações no Facebook: https://www.facebook.com/centroculturalpequenaafrica.
Próximo ao Jardim está o Cais do Valongo, antigo cais localizado entre as atuais ruas Coelho e Castro e Sacadura Cabral. Recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO em julho deste ano por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas. Construído em 1811, foi local de desembarque e comércio de escravos africanos até 1831. Durante os vinte anos de sua operação, entre 500 mil e um milhão de escravos desembarcaram ali.
Saindo dali, ande pela Rua Camerino, que no século XIX tinha o nome de Rua do Valongo. Ela e suas adjacências abrigaram, a partir de 1769, por ordem do Vice-rei Marquês do Lavradio, o maior mercado de compra e venda de escravos do país. No número 5, você irá conhecer a Casa da Tia Ciata. Hilária Batista da Silva (1854-1924), conhecida como Tia Ciata, era cozinheira e mãe de santo nascida na Bahia. É uma das figuras mais influentes da cultura negra carioca. Realizava encontros entre músicos e religiosos filhos de santo e nesses saraus o samba dava o tom.
Músicos como Donga e Pixinguinha eram frequentadores assíduos da casa de Tia Ciata.
A Casa da Tia Ciata abriga atualmente o escritório da Organização dos Remanescentes da Tia Ciata (ORTC) e espaço cultural para manter viva a memória da dama do samba. Uma exposição permanente é a principal atração do espaço, Logo ao lado, no número 7, está a sede do Afoxé Filhos de Gandhi, que promove ensaios abertos quinzenalmente.
Para acompanhar a programação, curta a página no https://pt-br.facebook.com/GandhiRIO/.
Chegue à Pedra do Sal (Rua Argemiro Bulcão s/n, Saúde) e contemple o local, antes habitado por africanos recém-chegados ao Brasil. A região é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e fica ao lado do Largo de São Francisco da Prainha. Nela, fizeram rodas de samba Donga, Pixinguinha e João da Baiana. Foi lá também que se estabeleceu a Comunidade Remanescentes de Quilombos da Pedra do Sal. A Pedra do Sal tem hoje uma das melhores rodas de samba da cidade.
A programação pode ser conferida no Facebook: https://pt-br.facebook.com/rodadesambapedradosal.
A próxima parada é o Largo de São Francisco da Prainha. A vocação do lugar, que concentrou rodas de capoeira, samba e as casas de zungu (onde as mulheres faziam e vendiam angu, no início do século XIX), persiste, com uma série de eventos que evocam a cultura africana. Todo terceiro sábado do mês, às 18h, acontecem as Rodas de Samba Moça Prosa. No Largo está a Igreja de São Francisco da Prainha, erguida em 1696 por ordens do Padre Francisco da Motta. Em 1704, o prédio foi doado em testamento para a Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, atualmente denominada Ordem Franciscana Secular.
Mais um sítio importante é o Cemitério dos Pretos Novos ou Instituto dos Pretos Novos. A transferência do mercado de escravos da região da Rua Primeiro de Março (antiga Rua Direita) para a do Valongo implicou na mudança do Cemitério dos Pretos Novos do Largo de Santa Rita para o Caminho da Gamboa, atual Rua Pedro Ernesto 32, onde fica o Instituto. O sítio arqueológico foi descoberto em 1996, quando moradores reformaram a casa. Arqueólogos identificaram milhares de fragmentos de restos mortais de jovens, homens, mulheres e crianças, africanos recém-chegados.
Considerado o maior cemitério de escravos das Américas, estima-se que tenham sido enterrados ali de 20 a 30 mil pessoas, embora nos registros oficiais esses números sejam menores. Hoje a casa funciona como centro cultural para o resgate da história da cultura africana e oferece cursos e oficinas, além de uma biblioteca sobre a temática negra.