Camarada encontra com a repórter e uma TV e quase 'morre' com a pimenta do 'bolinho vermelho'
- Você por aqui! Encontrei consigo na festa em louvor a Santa Luzia, tá lembrado? - questionou a jovem.
- Si. Yo estoy lembrado. É que me gostou muito de Salvador e resolvi ficar mais um tempo na Bahia, 'quiprá' - quis dizer quiça - yo fica morando por acá - respondeu o gringo sem tirar o olho da praia.
- Pelo visto v gostou muito dessa praia? - inquiriu mais uma vez a repórter perguntando porque não descia a escada e ia tomar um banho de mar.
- Sí! Mi gosta muito daqui. Yo já tomei banho de mar e não sei porque, alguém levou meu par de tênis por algum descuido. Deve ter trocado na hora de ir embora pensando que era seu. Yo tava dentro do mar e quando voltei pra minha cadeira o tênis tinha desaparecido - comentou dizendo que, agora, preferia ficar olhando as pessoas do calçadão.
- Oh! que pena - disse a repórter - advertindo o 'russo' que ele deveria ficar mais atento com seus objetos porque em Salvador não era uma praia do mar Báltico; nem muito menos Ibiza e, de fato, algumas pessoas levam objetos trocados que encontrarm dando bobeira.
O 'russo' então ficou sem entender direito querendo saber o que era 'bobeira' e a repórter explicou que era o contrário de 'olho vivo', de 'ficar atento às coisas' diante de costumes diferenciados que temos no Brasil.
- Ah! sí, vocês brasileiros tem uma linguagem que às vezes yo no entendo nada e también unos costumes bem diferenciados daí que, explicava a repórter, agora quando ando na praia levo comingo as havaianas em mãos como os baianos fazem, uma em cada mão como se fosse uma luva.
A repórter sorriu e disse: - Você daqui a pouco vai ficar baiano, pode deixar - e se despediu do 'russo' dizendo que iria complementar uma matéria no Farol da Barra.
O 'turista russo' então ficou ali bizurando a praia, tentando cavacar uma conversa com a baiana Neide que vende acarajés e cocadas em frente ao forte de Santa Maria, e adquiriu uma cocada coberta de amendoim depois de mitigar a fome com um acarajé completo.
Mas, diga-se foi um suplício para ele entender o bainês do tabuleiro da baiana.
Primeiro perguntou: - Que son esses bolinhos vermelhos?
A baiana então respondeu: - São acarajés, bolinhos fritos de feijão fradinho servidos com camarão, salada e caruru, um produto originário do povo-de-santo.
Aí foi que a coisa ficou ainda mais complicada para o 'russo' entender. - E quando custa um povo-de-santo desses?
- Povo-de-santo é o costume, a tradição donde vem o aracajé e ele completo custa R$8,00 - aduziu.
- Completo como? - inquiriu o 'russo'.
- Com todos os ingredientes inclusive a pimenta cozida no dendê.
Ele então pediu um bem completo e ficou apreciando os meninos pularem no mar do pear do forte. Pagou pelo serviço, recebeu o troco de uma nota de R$10,00 e abocanhou o acarajé logo na área onde tinha mais pimenta, não sei se por azar do 'russo', mas, o certo é que o gringo começou a tossir e a soprar o vento ficando 'vermelhão' parecendo que iria morrer, a ponta de uma auxiliar da baiana socorrê-lhe e solicitar a Raimundinho, um jovem que vende guaraná na praia que trouxesse uma latinha bem gelada para o 'russo', tentando aliviar sua aflição.
Depois que o 'russo' tomou um gole maiusculo de guaraná e recebeu dois tapões nas costas para se desentalar ele ficou melhor e disse que nunca tinha comido algo tão ardiloso, que o acarajé era bom, mas, parecia coisa que teria vindo das profundas do fogo tão o ardor que sentira.
O gringo não falou que parecia coisa do 'demo' porque não quis pronunciar essa palavra, certamente por educação religiosa, ele um católico ortodoxo.
A baiana astuciava. Sabia que muitos gringos mais afoitos ao delicirar um acarajé tinham esse tipo de comportamento, mas, temeu pela sorte do 'russo' e o refresco servido por Raimundinho fora a salvação.
Presenteou-o com uma cocada 'pra o senhor adoçar a boca' - disse.