Turismo

CRÔNICA: Ir às compras no Natal da Av. Sete é conhecer a cidade (TF)

É uma festa ir à Avenida Sete para fazer as compras do Natal. Os preços dos produtos são os mais baratos da cidade e ainda se pode pechinchar.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 19/12/2014 às 11:48
Mulher escolhe peça de roupa no meio da Ladeira de São Bento
Foto: BJÁ
​   A Avenida Sete de Setembro, que completará 100 anos com este nome em 2016, aberta que foi inspirada nos 'Boulevards Haussman' parisienses da época desse visionário barão, governo de Napoleão III, foi copiada pelo governador J.J.Seabra, em 1916. 

   Já foi 'chic' como extensão da mais glamurosa do centro, a Direita do Palácio (Rua Chile), hoje é 'pop', no sentido de popular, de ter o mais disputado comércio de rua da cidade. A Sete e as ruas transversais - os becos do Mucambinho, Cabeça, Maria Paz e Forca - este extensão da Rua da Forca que alcança o Largo 2 de Julho - do Rosário - o larguinho do Rosário -, a Piedade em direção da Joana Angélica ou até a Junqueira Ayres via Barris, o Coqueirinho da Piedade, o Portão da Piedade, a 21 de Abril, Nova de São Bento e 24 de Fevereiro - formam um conglomerado de ruas onde o comércio é um grande bazar, nas lojas e nas ruas, becos e praças.

   Nessa época do ano, então, período do Natal, a Avenida Sete, preferencialmente, pois, ninguém diz que vai a Mercês fazer compras muito menos ao Beco de Maria Paz ou ao Rosário, fervilha de gente. 

   Diga-se, gente do povo. Por lá não se vê 'madames' (senhoras), no conceito tradicional, as antigas frequentadoras da Slloper, Ópticas Viúva Neves, As Duas Américas e de Os Gonçalves, as quais, migraram para os shoppings. Na Sete está o povão que vem dos bairros, quer seja, bairros da cidade-alta, como a Fazenda Garcia, Cosme de Farias, Baixa de Quintas, IAPI, Brotas, etc; quer de bairros da cidade-baixa, da Maçaranduba, de Paripe, Periperi, Roma, Uruguai, etc - embora alguns desses bairros tenham seus comércios próprios.

   A Sete, no entanto, tem seu glamour. Se para a 'madame' que mora na Pituba o elegante é ir ao Shopping Iguatemi; para a 'madame' que mora em Plataforma o elegante é ir a Sete, subir o Elevador Lacerda, passar pela Rua Chile e chegar a Sete via São Bento, a porta Sul da Cidade desde a época de Tomé de Souza, seu fundador. 

   Tradição de quase 500 anos, A Direita do Palácio (hoje Chile) era a Rua dos Mercadores das pessoas que vendiam, na época da Colônia, batas, pamonhas, cocadas e ouros viveres.

   A 'muvuca' comercial da Sete, nos dias contemporâneos, começa na Praça Castro Alves, aquela que já foi do povo no Carnaval, com certo ordenamento da Prefeitura, e se inicia pra valer na Ladeira do Mosteiro de São Bento com vendedores ambulantes mercando de um tudo - sandálias, cintos, calcinhas, camisolas, lanches, papéis de paredes, oléo de bacalhau, desinfetante citriodora, sutiãs, etc - e segue adiante, a parede lateral do mosteiro servindo de vitrine e mostruário até a ladeira da Rua Nova de São Bento, que dá na Barroquinha. 

   É nesse trecho inicial que está o Centro Comercial Oxumaré, Edifício Oxumaré, Galeria Oxumaré - o povo lhe dá vários nomes - onde há o maior comércio de jóias populares da cidade - ouro, prata, anéis e pedras de marcassitas, etc - onde pode-se ver um casal de noivos encomendando um par de alianças, em ouro, pela metade ou mais do preço de assemelhado produto vendido numa joalheira dos shoppings.

   À direita de quem sobe a ladeira do São Bento situa-se grandes lojas de varejo, de calçados, produtos do lar e cama e mesa. É uma festa, pois, logo à frente, está o Beco de Maria Paz, que já fez grande sucesso nos carnavais dos anos 1970, hoje, um mini-centro comercial organizado pela Prefeitura repleto de tendas comerciais de um tudo, para crianças e adultos. 

   No trecho seguinte, mais conhecido como Relógio de São Pedro, aí a movimentação de pessoas é ainda mais intensa e os passeios dos dois lados são tomados por ambulantes e até trechos da rua, o asfalto. É uma gritaria. Você pode comprar um 'pega-tudo' por R$1,99; um barbeador de R$0,50; ou uma camisola de R$10,00. Agora, no Natal, as pessoas podem comprar uma roupa de papai ou mamãe noel, bolas, enfeites, árvores de natal, passarinhos, etc, tudo a preços populares.
 
   Normalmente, cada peça - as mais em conta - não costuma passar de R$10.00. Neste Natal os cintos de mulheres parecem que estão em moda e as sandálias rasteirinhas, cada qual, a R$10,00; As bolsas também custam R$10,00 a unidade e os relógios 'chiquérrimos' variam entre R$10,00 e R$20,00. Os panos com florais - cortes de tecidos com melancias, limões, etc - paga-se R$10,00. Dá pra fazer um short bacana. Ah! shrot para homens têm à mancheia em toda rua, nas caminhonetes estacionadas na avenida, nos portais do São Bento e no Relógio.

   Este ano parece que não apareceu nada especial ou de novidades que chame mais a atenção dos clientes. Curioso que tem muita gente comprando plantas em caqueiros e até aquelas mamães noel sexy, aquelas vestimentas para a noite especial do bom velhinho, com viagra. 

   Nesse trecho do Relógio de São Pedro este ano a Prefeitura está fazendo obras de remodelagem do local e está uma barafunda, com um enorme tapume, o que impede a movimentação das pessoas. Do outro lado da rua está o Edificio Politeama, o maior centro comercial e de serviços da Sete. Sêo moço! É um mercado persa a entrada. Vende-se de tudo, do acarajé e do lanche rápido, a cortes de tecidos nas lojas e máquinas de fazer bainhas de calças.
 
   Pense numa muvuca comercial! Em apelos para vendas de produtos de toda natureza é nesse trecho ai que vai do Banco do Brasil na cabeça da Nova do São Bento até a entrada do Beco do Mucambinho, onde se toma o rumo do 2 de Julho ou seguindo em frente até a Piedade. Pra completar, aí está o INSS, a previdência que atende capital e interior.

   Não se surpreenda se um camarada parar um carro em frente a uma loja de eletrodomésticos e carregar uma geladeira nas costas e colocar no veiculo. A Sete é assim. 

   Engarrafamento de veiculos é bom sinal. Ótimo sinal. Só quem reclama são os motoristas. Os comerciantes e ambulantes adoram, porque representam mais gente, mais vendas. Eles só não gostam quando tem passeata da CUT e dos partidos politicos que veem como aquele bolodorio que ninguém quer ouvir e para tudo. As vendas caem. Aí não dá - diz-se Amaro Conceição, camelô do Relógio.

   Adiante, chega-se a Praça da Piedade. É um local bom pra respirar do sufoco, descansar e até rezar. As pessoas podem orar na Igreja de São Pedro ou no Convento Capucho Franciscano Menor da Piedade. A Praça da Piedade tem um comércio mais light - plantas, vendas de lanches, de mapas, etc - e de pessoas que dão plantões tirando pressão dos clientes. Claro, a R$10,00. Se o camarada chorar que só tem R$5,00 vale o que tem. 

   Na Piedade, à direita de quem sobe tem o mini centro Comercial da Forca - referente a Rua da Forca. Antes, na época da Colônia, os prisioneiros subiam essa rua para serem enforcados na Piedade. Daí o nome, Largo da Piedade. Lá estão os bustos dos mártires da Revolução dos Alfaiates.

   Adiante, subindo em direção ao Campo Grande, vem a parte mais transitável da Sete, os trechos que vão da Piedade, passando pelo Rosário e Mercês, do Convento das Mercês. No Larguinho do Rosário, os ambulantes em tendas credenciadas estão se especializando em bijus, bijouterias; e à direta da Rua, há muitas lojas de tudo - óticas, tecidos, confecções, sapatos, bancos, etc. 

   Curioso na Sete é quantidade de gente que compra cortes de tecidos para elas próprias costurarem suas roupas. Sai muito mais em conta. Da Mercês pra cima não há comércio, pois, à direita está a Casa da Itália e o Palácio da Aclamação e chegar-se ao Campo Grande. 

   Portanto, a Sete comercial natalina é dividida em três trechos: Das Mercês a Piedade; da Piedade ao Relógio; do Relógio ao São Bento. É uma maravilha andar pela Sete nessa época do Natal. Quem deseja conhecer a cidade e sua gente tem que fazer esse roteiro turístico e de compras.