Santa Bárbara é uma das santas mais populares de Salvador
Tasso Franco , da redação em Salvador |
04/12/2014 às 18:05
Baianas reverenciam a passagem do andor de Santa Bárbara no Pelourinho
Foto: BJÁ
A festa para Santa Bárbara inicia (de fato) o calendário de festas populares de rua em Salvador. O 4 de Dezembro rivaliza com o 2 de Fevereiro, a festa para Yemanjá. A diferença é que Bárbara era turca e, por professar a fé cristã foi morta pelo pai. E Yemanjá é africana, única festa baiana que tem nome de orixá.
No ato do crime a jovem e bela Bárbara, de familia rica, raios e trovões se apresentaram aos céus, e um dos raios matou Dióscoro, seu genitor. Isso se deu a 317d.C. Canonizada santa pela Igreja Católica nos primórdios da igreja chegou ao Brasil trazida pelos portugueses e no sincretismo religioso do candomblé, representa Iansã, uma orixá, voluptuosa, de forte personalidade.
Daí que se diz que as mulheres que são de Iansã, que recebem a divindade, sejam ariscas como um raio, tanto nas solenidades do candomblé quanto na vida pessoal. Mulher de Iansã não é brincadeira. É quente. É fogo, raio, luz. Troveja. Roda a baiana. Suas cores são marrom e prferencialmente, o vermelha, de sangue que corre nas veias. São assanhadas - no dizer popular.
Há, ainda devotos de Bárbara (idem assanhados e alguns deles rodam também a baiana) e, hoje, 4 de dezembro, seu dia, vimos centenas deles no Pelourinho, no centro de Salvador, conduzindo o andor da santa. São homens fortes, guerreiros. Incansáveis lutadores.
É uma disputa carregar o andar da santa. Dá pra todos. Os homens e também as mulheres vão se revezando nas alças que sustentam o andor. Belíssimo, por sinal. Ornamentado em arco com rosas vermelhas. No trajeto entre a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (Largo do Pelourinho) até a Baixa dos Sapateiros, o percurso seguiu pela rua João de Deus até alcançar o Terreiro de Jesus, onde há o primeiro clímax da festa com vivas a santa, lançamento de pétalas de rosas - sempre vermelhas - e cânticos a Maria, especialmente com força a frase 'o sonho que a mãe Maria plantou', seguida da Ave Maria.
As pessoas vão ao delírio. Choram, sorriem, dão vivas, glória ao pai e assim por diante. Nesse ponto a procissão, sem padres, só com o povo de santo (do candomblé) e baianos de uma forma geral, incorpora uma banda de música do Corpo de Bombeiros, corporação que a santa é padroeira. Aí a emoção aumenta com a música. Os turistas se deliciam. Tiram milhares de fotografias e filmam em todos os ângulos. Alguns perdem suas carteiras para os 'batedores de carteiras', neste ano, muitos deles atuando no Pelourinho.
Neste 2014, não aconteceram trovões, nem raios. Quando isso ocorre a festa fica ainda mais bonita. Os céus falharam, não se sabe se por desejo da santa ou diante da insistência do homem em maltratar o meio ambiente, e as chuvas estão a cada dia mais escassas.
À frente do andor de Bárbara segue outros santos em andores - São Lázaro, São Domingos, São José - mas as pessoas não dão muita importância a eles, salvo os devotos de cada qual. O dia é de Bárbara. Todos querem se aproximar do andor, beijar, tocar as mãos, jogar uma água de cheiro e orar.
Quando a procissão chega a Praça da Sé há um alivio das pessoas porque o espaço é mais largo e corre um vento Sul que vem do mar. Os cânticos seguem com toda à força e o andor chega a Rua da Misericórdia, onde fica a sede da Prefeitura. Adiante, dobra a esquerda, passa ao lado da Câmara de Vereadores e desce a ladeira da Praça. É nesse local, lá no sopé da ladeira, na sede do Corpo de Bombeiros que se dá o clímax maior do evento. A santa é recebida com o troar de sirenes, música, muitos aplausos e alguns filhas de santo de Iansã se manifestam. No popular, dão santo. É um ato muito bonito e religioso.
Minutos depois a procissão segue até o Mercado de Santa Bárbara - passando à frente do Mercado de São Miguel - onde é servido um caruru ao povo. A santa é também a padroeira dos mineiros (estrondo, a pólvora) e dos mercados. Deve ser também dos publicitários, pois, hoje é o dia desses profissionais. Se não for, fica sendo.
Claro que a partir do cortejo e até durante o cortejo a festa tem seu lado profano. As pessoas cantam, dançam e bebem muita cerveja, de preferência. Hoje, as'periguetes' seguiam de 3 latinhas por 5 reais. Bebe-se também muito cravinho na tenda de Carlinhos, na João de Deus, ou no Terreiro de Jesus. Onde também o samba corre solto é no Mercado de São Miguel, amigo da santa.
Todas essas pessoas devotas de Bárbara vestem-se de vermelho. As baianas são lindissimas e as negras e mestiças de Salvador também ficam ainda mais belas. Põem torços nas cabeças e usam batons na cor vermelha, bem fortes. Algumas vestem-se vermelho de ponta a cabeça. O que também acontece com os homens, alguns usando batas muito bonitas, bonés, colares de orixás e cachimbos, alguns deles.
A saudação para Iansã no candomné é Epahey oyá. Cores marom e vermelho. Dia da semana quarta.
Então, a esta Oyá, santa e protetora nosso eparéi, como diz a baianada em baianês.