Sem entrar no detalhes econômicos, do Custo Brasil, da inflação, até porque não entendo desse riscado, o que sobra é: o Rio da propaganda não está batendo com o Rio que eu vejo nas ruas.
Nara Franco , Rio |
02/10/2013 às 09:52
Rio: belo e abençoado por Cristo, mas salgado nos preços para os cariocas e turistas
Foto: gROUPON
Oslo, capital da Noruega, é o país mais caro do mundo para visitantes. Uma pesquisa do site Tripadvisor - por sinal um ótimo guia de viagem - mostrou que o país onde são pescados os melhores bacalhaus do planeta tem custo elevado para àqueles que gostam de viajar: um hotel quatro estrelas, para dois, com jantar e drinks, sai por $600.
Até aí, "morreu Neves", como diz o ditado, nada demais. A Noruega está na lista dos países de 0 mundo; ou seja, tão desenvolvido que não vejo classificação para ele.
O melhor dessa pesquisa, no entanto, como destacou a revista inglesa The Economist, é o fato de cidades brasileiras aparecerem no topo da lista das mais caras para viajantes. São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, são mais caras (acredite!) que Londres e Zurique.
A revista pergunta: por que o Brasil é tão caro? Eu acrescento: por que o Rio de Janeiro é um absurdo de caro? Como jornalista e profissional de comunicação, sei que percepção e realidade nunca andam juntas. "A mulher de César não baste ser honesta, tem de parecer honesta", diz mais um ditado.
Mas o Rio de Janeiro não só está parecendo caro, como está de fato caríssimo. Pagamos por um padrão londrino, mas se compararmos a capital inglesa com este balneário aqui, a depressão cresce a largos passos.
Não falarei de São Paulo. Não sou daquelas cariocas (e nem carioca sou) que alimentam essa briguinha ridícula entre Rio e São Paulo. Quero falar do Rio. Do Rio da Beyonce, da Madonna, dos astros e estrelas que deixam nós - pobres mortais - de pires na mão.
Porque o Rio está caro. Caro demais. E o que temos em troca? Vejamos: enquanto o Metrô de Londres liga a cidade de ponta a ponta, o daqui - que custa R$ 3,60 e só tem banheiro em UMA estação - liga nada a lugar nenhum. Uma "linguiça", cuja expansão apenas aumentou o número de ônibus na ruas (o tal metrô de superfície). Se eu começar a enumerar ... Iiihhh....
Sem entrar no detalhes econômicos, do Custo Brasil, da inflação, até porque não entendo desse riscado, o que sobra é: o Rio da propaganda não está batendo com o Rio que eu vejo nas ruas.
Adoro essa cidade. Mas chega uma hora que tanto ufanismo sobre a belezas da cidade, que são apenas belezas naturais, se esgotam em um cotidiano puxado, de ônibus correndo, ruas mal cheirosas, línguas negras nas praias, mendigos, esgoto a céu aberto, assaltos e, por fim, os preços.
Enquanto o chope saía por R$ 1,20 a gente até sentava na caixinha de madeira e ria da descontração carioca. Hoje, com a cerveja a R$ 7, garçons folgados, serviços de quinta categoria, banheiros imundos e preços exorbitantes, a gente para para pensar onde termina Londres e começa o Rio de Janeiro.
Ou, onde gente acha a Londres que anda escondida por aqui. Porque ele não está nas escolas, nos hospitais, nos pontos turísticos, nos táxis e assim por diante.
A cereja no bolo é ver professores levando bala de borracha, gás de pimenta e cacetete nas costas. O Rio de Janeiro do sonho olímpico, da agenda magnífica, dos milhões de investimento cai por terra não pelas mãos do tráfico, como muitos imaginavam, mas pela intransigência de governos, câmaras e assembléias.
Desculpem a escrita ranzinza, o mau humor e não deixem de conhecer as belezas da Cidade Maravilhosa. A vida é assim, de altos e baixos. E ver tanto desmando, tanto descontrole, dá uma certa tristeza. Mas somos brasileiros, né. Não desistimos nunca.