Todos os anos, turistas de várias partes do Brasil e do mundo chegam à Bahia movidos pela fé ou curiosidade em conhecer o sincretismo, que une diferentes religiões. De um lado, o catolicismo trazido da Europa, do outro, a áfrica negra que preserva suas devoções. As manifestações religiosas movimentam cerca de R$ 8 bilhões por ano no Brasil, de acordo com o Ministério do Turismo. Um dos principais destinos na Bahia é o município de Bom Jesus da Lapa – na oeste do estado -, que recebe aproximadamente 1,5 milhão de romeiros atraídos pela festa, principalmente no mês de agosto. Há também festividades no Recôncavo Baiano e em Salvador, que ganhou ainda mais força como polo do turismo religioso após a beatificação de Irmã Dulce.
Segundo a diretora de serviços turísticos da Secretaria do Turismo do Estado da Bahia (Setur), Maria Auxiliadora Lobão, esse segmento de turista é movido pela fé. De acordo com ela, visitar os espaços onde há restos mortais de um mártir, roupas, ou algum objeto que faça a ligação com o santo atrai os visitantes.
Cachoeira
Outras manifestações baianas também chamam a atenção de turistas, a exemplo da Festa da Boa Morte, realizada em Cachoeira, que foi declarada patrimônio imaterial do estado. A Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte é uma confraria católica de mulheres negras, que preserva rituais das religiões africanas. “Os visitantes estão chegando aqui com mais fé e entusiasmo para participar da festa de Nossa Senhora da Boa Morte e isso nos orgulha muito e nos deixa felizes”, disse Joselita Sampaio Alves, 68 anos, que integra a irmandade há 22.
Afrorreligiosidade na homenagem a Nossa Senhora D’ Ajuda
A população da cidade também preserva a tradição de homenagear Nossa Senhora D’Ajuda. A festa dedicada à santa, que era padroeira dos senhores de engenho em Cachoeira e região, tem atraído a atenção das pessoas, deixando o turismo étnico em alta. “Eu gosto de ver manifestações assim, com banda de sopro e percussão. Tem tudo a ver com esta cidade e lembra antigos carnavais”, afirma o turista Julien Karl, residente em Salvador.
De acordo com o pesquisador Cacau Nascimento, a presença da afrorreligiosidade na Festa de Nossa Senhora D’ Ajuda merece destaque. O desfile reúne mascarados e mandus que remontam à religiosidade africana. Segundo ele, a festa, na essência, está ligada aos movimentos sociais abolicionistas ocorridos por volta de 1870. “É uma sobrevivência do africano, que ainda faz referência às comemorações da abolição da escravatura”.
O evento faze parte do calendário turístico da Bahia, promove integração e a participação dos moradores, além de movimentar a economia do Recôncavo. “Eu recebo na minha pousada gente do mundo todo querendo conhecer mais sobre o candomblé e as mães de santo. O estabelecimento fica cheio e nós recepcionamos de braços abertos esses turistas”, enfatiza o gerente geral da Pousada D’ajuda, Juracy Rocha.
Eventos sagrados e consagrados em Salvador
Em Salvador, são realizadas grandes manifestações religiosas como a Lavagem do Bonfim, que anualmente no mês de janeiro (data móvel) atrai moradores e turistas ao cortejo entre o bairro do Comércio, na Cidade Baixa, e a Basílica de Nosso Senhor do Bonfim. Padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição da Praia também é exemplo de grande manifestação de fé, no dia 8 de dezembro.
Em fevereiro (dia 2), a homenagem a Iemanjá acontece, no bairro do Rio Vermelho, com oferendas de presentes feitas por devotos da Bahia, de outros estados do Brasil e de várias partes do mundo. A devoção a Santa Barbara - associada ao orixá Iansã – é realizada no dia 4 de dezembro e também evidencia a diversidade cultural e religiosa da Bahia, onde 80% da população é afrodescendente.
Para a paulista Telma Guilherme, é uma oportunidade única poder entrar em contato com outras religiões. “Isto mexe com a alma da gente”, disse a turista que esteve presente na Festa de Santa Bárbara. “Vim de coração aberto pra ver, conhecer e participar”. No ano passado, ela esteve na Lavagem do Bonfim.