Turismo

A CIDADE que lucra com o turismo ao "vender" o fim do mundo, em Goiás

alendário maia prevê catástrofe para o dia 21 de dezembro deste ano.
Místicos acreditam que cidade goiana está protegida de desastres naturais
Elisângela Nascimento , G1 Goiás | 21/11/2012 às 07:20
Pousada com Ets e cúpulas de disco voador
Foto: EN
O misticismo da cidade de Alto de Paraíso ganha força com a proximidade do dia 21 de dezembro, data que, de acordo com o calendário maia, encerra um ciclo de 5.125 anos e marca o fim do mundo. Como para os esotéricos a cidade goiana está protegida de qualquer catástrofe, moradores e autoridades da região se preparam para receber, pelo menos, 15 mil turistas, mais que o dobro da população atual.

Cortada pelo paralelo 14, que também atravessa Machu Picchu, no Peru, Alto Paraíso está em cima de uma placa enorme de quartzo, de 4 mil m2, cercada por rochas e paredões. Para os místicos, a força dos cristais protege a cidade de qualquer profecia apocalíptica. A cerca de 230 km de Brasília e a 410 km de Goiânia, o município está a 1.300 metros de altitude do nível do mar, e abriga o ponto mais alto da região Centro-Oeste, com 1.691 metros de altura. “Isso reforça ainda mais a crença de que estamos protegidos de qualquer desastre natural, como tsunamis”, explica o prefeito reeleito da cidade, Álan Barbosa (PSB).

Ele considera a crença no fim do mundo uma boa oportunidade para o turismo local, mas reconhece que está preocupado com o grande número de turistas esperados na cidade, cuja capacidade é de 3 mil visitantes. Por isso, ele adianta que está finalizando um plano emergencial para os setores de saúde e segurança pública do município, que tem apenas 6.885 habitantes, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010.

PROGRAMAÇÃO ARTISTICA

“Estamos organizando uma programação artística e cultural, a partir do dia 12 de dezembro, aniversário de emancipação da cidade. As atividades vão até o Réveillon. Mas nossas principais atrações turísticas estão fora da cidade, como cachoeiras, trilhas, o Vale da Lua e o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Isso requer atenção especial para evitar acidentes”, alerta. O prefeito informou que vai solicitar reforços para o atendimento médico e no número de policiais civis e militares, já que a cidade tem uma delegacia, mas não há delegado. Apenas um agente.

Apesar de reconhecer a importância do misticismo para o turismo da cidade, Álan Barbosa garante que não acredita no calendário maia. “Se eu acreditasse no fim do mundo, não teria me candidatado à reeleição. Estaria em uma das nossas cachoeiras, descansando”, brinca.
Alienígenas
Quase toda a decoração de ruas e comércios de Alto Paraíso, incluindo hotéis e restaurantes, é inspirada em temas místicos. Um alienígena dá as boas-vindas ao turista logo na placa de entrada da cidade, às margens da GO-118. Em frente, dois portais de pedras remetem ao esoterismo. Poucos metros adiante, também na rodovia, um monumento tem a forma que lembra uma nave espacial.

Com crenças polêmicas, o engenheiro agrônomo Edison Pereira Lemos, de 68 anos, mudou-se de Brasília para Alto Paraíso há quase dez anos. Ele acredita em extraterrestres e discos voadores e assegura que o dia 21 de dezembro marcará o fim do mundo. Certo de que sobreviverá, sua principal preocupação nos próximos dias será estocar frutas secas e água. “Eu troco informações com cientistas e pessoas no mundo inteiro pela internet. A previsão é de que apenas 15% da população resistirá”, prevê.
No entanto, pondera: “As pessoas não precisam correr para Alto Paraíso.

 Todas as terras acima de mil metros de altitude oferecem segurança. O importante é fazer uma faxina no coração. Perdoar todas as pessoas e fazer a conexão, entrando em meditação”. Lemos argumenta que a data iniciará ‘uma grande transição planetária’. “Haverá a inversão dos polos, ou seja, mudará o sentido do globo terrestre. Isso causará muitos estragos, como vulcões e tsunamis”, afirma. Para ele, o amanhecer do dia 21 de dezembro será deslumbrante. “Arco-íris cruzando arco-íris”, descreve. Os problemas começariam após o meio-dia.

POUSADA DO FUTURO

O corretor de imóveis Nilton Kalunga orgulha-se de ter vendido dois lotes para construção do que se chama de ‘Pousada do futuro’. O local ainda está em obras, mas é possível obsevar detalhes curiosos. A temática ETs também está presente na decoração. Um alienígena enfeita a beira da piscina, e a sauna da pousada, bem como os quartos, têm formato de cúpula.
Pintados de branco, os chalés – construídos à base de cimento e ferro - têm três janelas grandes e vários buracos no teto, que não têm telhas. “É uma construção ecologicamente correta. Nas janelas e nos buracos do teto serão colocados vidros, para aproveitar a luz natural. A cama é de alvenaria. Além do lado ecológico, alguns querem se proteger melhor de possíveis catástrofes e, por isso, não usam telhas, para diminuir os impactos de uma possível ventania”, esclarece o corretor.