Turismo

A IMPRESSIONANTE COMUNIDADE DE "LOS UROS" DO TITICACA, p. TASSO FRANCO

vide
| 03/02/2011 às 10:19
Povo pré-inca que vive como viveram seus antepassados há 2000 anos
Foto: BJÁ
  É impressionante a diversidade cultural no interior do Peru. São muitas etnias, sítios arqueológicos pré-incas, povoados e grupos culturais que mantém suas tradições e mesmo no dia-a-dia, nas ruas das pequenas e médias cidades, e também em Lima, vê-se as pessoas trajando roupas típicas de cada região, sem que haja momento especial para isso.

  No Sul do Peru, Província de Puno, às margens do Lago Tititcaca, esse gigante de 73 km de extensão que banha parte do território do Peru e da Bolívia, fui conhecer a comunidade de Los Uros, um povo pré-inka que mora em ilhas flutuantes e vivem como seus antepassados viveram há 2.000 anoos.

  É algo chocante do ponto-de-vista da dureza que é a sobrevivência desse povo, mas, ao mesmo tempo espetacular de como se guarda uma cultura com tanta determinação. Trata-se, segundo os especialistas, de uma comunidade única no mundo formada por 1.300 pessoas que se dividem e moram em 70 ilhas que construiram com totoras, um seixo (junco) que é nativo do lago e serve de base e lastro.

   Em cada ilha vivem entre 6 e 8 famílias ou 15 a 25 pessoas sob a orientação do mais velho, numa harmonia perfeita, cada qual com atribuições específicas, desde pescar, produzir peças de artesanato, cozinhar, repor as totoras para que a ilha não se inunde de água, limpar o espaço, comprar mantimentos e assim por dia. Cada ilha é interligada por outra através de barcos também feitos de totoras, parecidos com embarcações egipcias, assim como levar alguém ao posto de saúde e as crianças a escola, que fica situada na ilha mãe Summa Pacha.

  Fomos recebidos pelo líder da ilha Q`Ota Marka, senhor Messias, e sua esposa Maria, que nos mostrou como construiram as ilhas e sua manutenção numa aula bastante didática. Todas as ilhas são presas no fundo do lago com âncoras de pedras amarradas nas totoras, as quais são repostas quinzenalmente no lastro porque vão se enxarcando e ficam prejudiciais à saúde.

  Esse, aliás, é o grande drama dos Uros. As pessoas de média idade (50 anos) começam a sofrer de reumatismo precocemente e acabam prostadas nas camas e, sem movimentarem=se ficam doentes e morrem. 

  Estive também no interior da casa do casal numa área de apenas 12 metros quadrados onde dormem, comem e se agasalham. Há uma outra casa que serve de cozinha, num formato diferenciado, outra de banheiro, sendo que na ilha comandada por Messias vivem 6 famílias, inclusive dois dos seus filhos, já jovens, que moram também em suas casas.

  Quando se casam há uma cerimônia especial e continuam vivendo na ilha. Alguns uros, poucos, trabalham nas lanchas que fazem roteiros turísticos para as ilhas e são mais aculturados.

  Na Suma Paccha que é a ilha mãe onde está a escola, construida ainda na época em que o presidente da República era Jujimore, adorado pelos uros porque também mandou instalar placas solares que produz energia, há um restaurante, uma pequena igreja pentencostal, e mulheres e familias uros vendendo peças de artesanato.

  À noite, o lugar é assustador, Não há luz elétrica e algumas ilhas usam nas casas (nem todas) iluminação a gás. Na maioria das ilhas como a de Messias usa-se velas. Os uros dormem assim que o sol se põe e comeám a trabalhar aos primeiros sinais do dia. Mas, alguns deles, aproveitam às noites para pescar no lago Titicaca.

  Para ter acesso às ilhas dos uros foi construido um canal onde navagem as lanchas de turismo. Mas, pode-se também alugar um barco e fazer a viagem sozinho como fizemos, sem pressa e inclusive fazendo um passeio entre as ilhas num barco de totora. 

  O Peru vende bem seu turismo. Graças aos Uros em Puno existem dois hotéis cinco estrelas e vários outros. Alguns hoteis como o Libertador e a Casa Andina têm atracadouros próprios. São centenas de turistas, especialmente norteamericanos e europeus, que vão a Puno só para conhecer os Uros e o folclore local, muito rico, com festa maior que acontece nesse domingo, em homenagem a Nossa Senhora da Candelária.

  É a cultura pré-inca misturada com a européia (da colonização espanhola) e a força da Igreja Católica. (TF)