Os primeiros colonos desbravadores percorriam as trilhas até o Vale do Patí, a 30 km de distância, à procura de garimpos e na fixação ao campo aberto com a agricultura familiar.
As estradas precaríssimas até Palmeiras, basicamente trilhas para animais (burros) não permitiam bons negócios. No início do século passado prosperou o plantio do café e ganha contornos a Vila Velha (hoje, Vila do Capão ou Caeté-Açú) com invocação
a São Sebastião como padroeiro e igreja católica instalada em 1916, conforme se vê na fachada do templo e nas anotações de Romilton Santos, Nem, o jardineiro e escritor local.
Sem estrutura de comercialização e sujeito às especulações dos mercados nacional e internacional o cultivo do café não progrediu. Mas, no rastro dessa aventura empresarial surgiram alguns personagens que ganharam dinheiro e investiram no local, em especial, Lídio Belo.
Com a débâcle do café, em meados do século passado, já com a Vila Velha instalada surge um movimento de garimpagem patrocinado (ou explorado) pelos "fazendeiros do café" no antigo estilo que predominou em toda Chapada Diamantina do "quinto" e da troca da garimpagem por comida.
Alguns desses homens da labuta da garimpagem foram se fixando no local e plantando roças de frutas, bananas, laranjas e outras. Os filhos desses trabalhadores formam uma comunidade intermediária constituída por carpinteiros, pedreiros, auxiliares e alguns migram para São Paulo e outros nunca mais deixaram o Capão.
E quantas histórias têm esses pioneiros. Um deles é Emanuel Henrique Alves, Sêo Dozinho, o homem que prevê as chuvas, que já foi garimpeiro, e que nunca saiu (nem quer sair do Capão). Tem (como diz) "umas casinhas de aluguel" no local e vende frutas na porta de casa. Mas, o bom mesmo de Sêo Dozinho são as histórias, a conversa.
Em 1968, conta-nos Nem, o prefeito Lolô Lopes, de Palmeiras, abre a estrada que liga a cidade à vila e Sêo Dái compra o primeiro carro do local, uma C10 vermelha.
Em 1984, instala-se a energia elétrica no Capão e o local vai mudar novamente de ciclo econômico com o surgimento do turismo. Nesse ano, um norteamericano George Glass filmou e divulgou para amigos e na mídia dos EUA uma fantástica cachoeira perdida no meio do vale, com 382 metros de altura, e que tinha a peculiaridade (raríssima) de suas águas também subirem.
Essa cachoeira, pouco conhecida dos moradores de Palmeiras, da Chapada e da Bahia passou a ser um objeto de desejo de visitas de trilheiros, do pessoal ligado no ecoturismo, no turismo de aventuras, dos "bichos loucos" das comunidades alternativas e ganhou o nome de Cachoeira Glass, hoje, Cachoeira da Fumaça (mudança de nome que aconteceu em 1994).
A partir daí e da chegada da primeira pousada, a Candombá, o Capão se internacionalizou, surgiram novas pousadas e restaurantes e, além da trilha até a Cachoeira da Fumaça, a mais requisitada e principal atração turística do local, existem outras trilhas e passeios que valem à pena conhecer e fazer. (TF)
* (Veja matéria na Editoria Turismo sobre a trilha da Cachoeira da Fumaça)