Eu mesmo, quando vi a Cachoeira da Fumaça no Parque da Chapada Diamantina à minha frente, indomável, num despenhadeiro com 382 metros de altura e águas subindo e outras águas descendo percebi como as forças da natureza se harmonizam e não adianta mexer com elas, apenas contemplá-las.
Saindo da Vila do Capão, a partir da sede da Associação dos Guias locais até a Serra da Larga, onde fica localizada a cachoeira percorre-se 6 quilômetros, dois dos quais subindo o morro e os quatro restantes no planalto do chapadão desfrutando-se de uma vista maravilhosa do vale, das montanhas ao seu redor, da vegetação, fauna e flora, ar puro, nascentes dos rios, águas puríssima cristalina e gelada, uma sensacional e extraordinária percepção de estar flutuando no espaço e aspirando aquele ar puro que renova o oxigênio dos pulmões.
Nosso guia nessa caminha foi o jovem André Vieira, nativo do Capão, acostumado a orientar esta e outras trilhas, experiente, e que vai detalhando cada passo, revelando os nomes das plantas, a importância das nascentes e assim por diante.
Subir a montanha para quem não está com preparo físico em dia, nem pensar.
Esses dois primeiros quilômetros de subidas estão divididos em quatro estágios. No primeiro deles sai do rés do chão e atinge-se uma altura de 150 metros, em nível de dificuldade 2 (moderado, na linguagem dos alpinistas).
Descansa-se um pouco e toma-se uma pequena trilha plana, de aproximadamente 70 metros, e inicia-se nova subida.
Até o terceiro estágio onde se encontra a vendedora de cocos Nalva põe-se a língua de fora. E, evidente, saboreia-se o coco de dona Nalva, a R$4,00 cada um deles.
Essa senhora, numa altura dos seus 300 metros ou mais, sobe todos os dias o morro (ela e o marido) com cargas de cocos nas costas. É um esforço enorme. E têm que levar as cascas de volta para a vila porque não é permitido jogar nenhum tipo de lixo no morro.
Até o último estágio e chegar ao platô do morro chega-se a uma altitude de 1.350 metros, com desnível de 350 metros.
Depois desse esforço todo (algo em torno de 1h), daí pra frente (até a cachoeira) é moleza. São 4 quilômetros de puro oxigênio e paisagem belíssima (mais 1h).
Com a palavra o guia André: - Já vi todo tipo de situação nessa caminhada. De pessoas que não conseguem subir, de gente que falta ar, de visitantes que desistem do meio do caminho, de outros que quebram pés. Mas, a maioria sobe e vai até a cachoeira.
No meio do caminho, quilômetro 3, atravessa-se a nascente do principal rio que forma a cachoeira, uma lagoa. A depender a época do ano, a água atinge os joelhos para cumprir essa etapa (a passagem da lagoa), mas, há uma corda e um caminho de pedras para ajudar os trilheiros.
Bem, após cortar o chapadão andando sobre o morro chega-se a Serra da Larga onde está a cachoeira. É de uma beleza impressionante. Só pode olhar a cachoeira deitado sobre uma pedra para evitar que as pessoas se desequilibrem a ocorram acidentes fatais.
Mesmo deitado, a depender do dia e dos ventos, corre-se perigo. Portanto, todo cuidado é pouco e deve-se, sempre, seguir a orientação do guia.
Nas proximidades desse espaço está Paulo, um vendedor de pastel de palmito, suco de maracujá do mato, água mineral e refrigerante em lata.
Paulo é também conhecido por Valtinho diz que já viu muita coisa na Fumaça, de mortes, gente levada pelo rio ou que caiu no despenhadeiro, gente chorando de emoção, outros meditando, orando e tudo mais.
A Cachoeira da Fumaça tem a peculiaridade das águas também subirem em direção ao espaço. Uma corrente de ar que vem do vale faz com que impulsione uma parte do volume das águas que despencam de uma altura de 382 metros.
É sensacional.
A impressão que se tem ao chegar à ponta da pedra é de um pássaro. Dá-se uma vontade enorme de voar. Claro, apenas na imaginação e no sonho porque se alguém fizer isso adeus. (TF)
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