Ao tempo em que lhe parabenizo pela correta análise histórica do São João da Bahia, publicada na Tribuna da Bahia e neste site, permita-me acrescer alguns elementos, a meu juízo, importantes.
Apesar de não termos, como Pernambuco e a Paraíba, festas de grande porte concentradas em uma cidade por estado (Caruaru e Campina Grande), a Bahia comemora o São João em seus 417 municípios. Ora, nenhum outro Estado do Nordeste tem 417 municípios.
E não há um único município baiano que não faça ou uma grande festa ou seu forrozinho pé de serra na sede ou nos distritos. E, além de Amargosa, já registrada por você, temos mais de 20 cidades com grandes festas. Isso nos permitiu adotar o slogan "São João da Bahia, a maior festa regional do Brasil" e lançar o São João como um produto turístico nacional, para fazer frente ao gravíssimo problema da sazonalidade que por muitos anos afetou - e afeta ainda - a economia do turismo.
No mês de junho a ocupação hoteleira de Salvador, Ilhéus e Porto Seguro caem para menos de 30%. E como você bem sabe, isso significa menos empregos, menos renda, menor movimentação comercial, industrial e de serviços ligados a cadeia produtiva do setor. Lançado em 2008, com uma única parceria empresarial de peso, o novo produto turístico já apresentou algum resultado: a CVC saiu de 12.000 para 19.000 pacotes no mês de junho. Este ano já temos 27 operadores do Sul vendendo o São João.
Entretanto, você tem toda razão quando alerta para a necessidade de assegurar a continuidade do projeto nesta e nas futuras administrações. Devo registrar que a economia do turismo tem que ser encarada como uma política de Estado e não de governos. Esta, alias, foi a primeira palavra do Governador Wagner que nós estamos empenhados em levar a prática, reconhecendo os dois grandes saltos do turismo baiano ao longo dos últimos 70 anos e das administrações anteriores e nos esforçado para dar inicio a um terceiro salto baseado na inovação, na qualidade e na integração econômica.
Ainda em relação ao São João da Bahia, você acerta quando diz que Salvador, Ilhéus e Porto Seguro não se caracterizam pela força das festas juninas. Eu acrescento: não se caracterizavam. Houve uma evolução nessa área perceptível a olho nu.
Você reparou a quantidade de "outdoors" anunciando forrós em todos os espaços públicos e privados de Salvador? Permito-me imaginar sua resposta em forma de dúvida: E o número de shoppings -centers, lojas ou empresas desenvolvendo ações de marketing, liquidações ao São João?; Mas essas festas e esses ritmos são o verdadeiro São João? Sim e não. Sim porque alguns dos elementos essenciais como a zabumba, o triângulo e a sanfona estão presentes nas modernas bandas do Estakazero, de Adelmário Coelho, Zelito Miranda, Carlos Pita, Gereba, Val Macambira, Del Feliz e tantos outros. Sim porque os casais atendem ao apelo do nosso conjunto pioneiro do forró baiano, o Trio Nordestino de "dançar agarradinho, caindo na brincadeira até o dia clarear".
Não, porque as festas não acontecem mais nos ambientes quase familiares dos bairros e das roças, nem sempre são acompanhadas de quadrilhas com as coreografias tradicionais e com a maravilhosa gastronomia junina. Mas até isso está sendo retomado.
E, finalmente, uma revelação: em pesquisa que realizamos em 2008 constatou-se que mais de 70% das pessoas que participavam da festa em 21 municípios, gostavam mais do São João do que do Carnaval. Sugiro que faça uma espécie de "data- _____" para chegar a mesma conclusão que eu: o São João é a grande paixão dos baianos.
Domingos Leonelli
Secretário da Secretaria de Turismo do Estado - Setur