Turismo

TURISMO ÉTNICO-AFRO COM ESTADOS UNIDOS PODE SER BOM NEGÓCIO PARA BAHIA

Texto de Mariana Machado Lira, da Agecom
| 13/03/2008 às 23:32
A secretária de Estado toca pandeiro ao lado de Gil, no tamborim (Foto/Manu Dias/Agecom)
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  A visita da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, é estratégica para a revisão do acordo comercial bilateral entre Brasil e EUA que determina a quantidade de vôos originados para ambos os países.

 A Secretaria de Turismo acredita ser esse um documento já ultrapassado, porque não contempla uma nova realidade: o crescimento do turismo étnico-afro na Bahia, motivado pela curiosidade dos negros norte-americanos em conhecer a sua ancestralidade africana.


 E por isso, o governo do Estado espera obter o apoio de Condoleezza na ampliação do número de vôos diretos para a Bahia. Atualmente só há um vôo semanal direto dos Estados Unidos para Salvador.


 O Programa de Desenvolvimento do Turismo Étnico-afro foi lançado pelo governo em agosto do ano passado, durante as festividades da Festa da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, que a cada ano atrai um número cada vez maior de visitantes estrangeiros. Na época, o Ministério do Turismo assinou um convênio no valor de R$ 1,245 milhão para ações imediatas de diagnóstico.


 Grande parte desse dinheiro já foi investida em cursos e seminários voltados para associações de capoeira e comunidades religiosas de matriz africana e em pesquisas que identificaram as principais necessidades para a estruturação desse tipo de segmento turístico no Estado.  Uma boa notícia é que em cerca de um mês, uma missão da empresa de aviação Delta Airlines virá à Bahia para finalizar as negociações acerca dos vôos diretos.


"Já tivemos duas reuniões em Atlanta, sede da empresa, em novembro do ano passado e em fevereiro desse ano. Nessa terceira reunião, sentaremos com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero para a definição. A Delta Airlines já avisou que só opera com no mínimo dois vôos diretos por semana", explica Billy Arquimimo, coordenador de Tursimo Étnico-afro da Setur.


A Setur já sabe também que é preciso investir na qualificação e especialização de guias de turismo, do empresariado e dos serviços de hospedagem. Para isso, trabalha com a possibilidade de construção de oito home-stays, espécies de pousadas, em entidades de utilidade pública que já têm a prática da hospedagem de turistas afro-americanos, como blocos afros, centros culturais, terreiros de candomblé e restaurantes.

Há um levantamento de locais onde esses home-stays poderiam ser erguidos, com recursos de aproximadamente R$ 6 milhões do ministério do Turismo, conforme acenou a ministra Marta Suplicy. Seriam nos bairros do Curuzú, Liberdade, Pau Miúdo (Centro de Capoeira Mangangá), Pirajá (sede do projeto Cortejo Afro), Federação e Itapuã, em Salvador. Fora da capital, as possibilidades são Cachoeira, Maragogipe e São Francisco do Conde.


Nas ruas do Centro Histórico de Salvador, um dos principais locais de visitação estrangeira da Bahia e talvez o mais marcado pela herança cultural dos negros africanos, a vida segue em um ritmo próprio, marcado pela percussão dos blocos afros, que ali têm sede, e pelos sons de línguas diferentes. A curiosa Jéssica, de 5 anos, aluna do Balé Folclórico da Bahia, sentada nas escadarias da Casa de Jorge Amado, pergunta ao pai se todos os ‘gringos' que vão ao Pelô são brancos. O pai, um comerciário de 47 anos, lhe dá uma aula sobre turistas estrangeiros e diz:"O turista estrangeiro negro vem em menor quantidade, mas vem."


Aguinaldo Silva, presidente do Bloco carnavalesco Filhos de Gandhi, com sede no Pelourinho, avalia positivamente o programa estadual de incentivo ao turismo étnico-afro: "Além de trazer divisas para o Estado, proporciona que esses turistas conheçam as suas origens, fincadas na África", afirmou.


Para o guia de turismo Josué Cassiano, essa é uma boa política. "Os negros norte-americanos têm interesse na busca por sua identidade cultural. Mês passado, por exemplo, guiei um pai de santo nova-iorquino", contou.

Centro Histórico


A partir das oito horas da manha desta sexta-feira, 14, o Centro Histórico terá a sua rotina quebrada com a visita da secretária de Estado, Condoleezza Rice. Primeiro, ela, o governador e suas respectivas comitivas vão à igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, seguem depois para o Museu da Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba), na praça da Sé, onde vão conhecer projetos sociais desenvolvidos em parceria entre a empresa Neoenergia, governo do Estado e a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid ).


Em seguida, vão, à pé, ao Museu Afro da Bahia, no Terreiro de Jesus (Centro Histórico), seguidos pelo grupo infantil "Bagunçaço" (um dos projetos do convênio Coelba/Usaid) e capoeiristas. No Terreiro, está prevista uma apresentação do Olodum. Por volta das 10h, a secretária Condoleezza Rice embarca para Santiago do Chile.