IX caminhada Azoany encheu as ruas do Centro Histórico até a colina de São Lazaro, para saudar os santos protetores dos doentes, São Lazaro e São Roque, que no sincretismo afro-baiano são representados por Omolú e Obaluaiê, respectivamente.

  Um espetáculo que expressou muito axé, cheio de misticismo e uma história de um povo que relembra através da fé, um período de opressão.
 

  O povo de Santo e adeptos, todos vestidos de branco, se aglomeravam no largo aguardando a liberação dos caminhos feito pelo Babalorixá, Luís Miguel de Oxossi. Depois de algumas obrigações ritualísticas e oferenda a Exu, os sons dos atabaques (Rum, Rumpi e Le) deram o ritmo e a mensagem para seguirem o percurso.
 
  Ao tempo em que o sacerdote faz a dança dos seus deuses retorcendo o corpo sem perder o equilíbrio, dando forma e beleza aos movimentos e expressões corporais, pronunciando os mais complicados enredos que a mente humana ouse conceber.

  Lá fora, o espocar dos fogos de artifícios sinaliza a saída da caminhada, organizada pela Associação Comunitária Alzira do Conforto, acompanhado do padé de Exu, o banho de pipoca e milho branco. Milhares de pessoas partem a pé em direção a colina de São Lazaro, em louvor a São Roque. Alguns levam seus balaios cheios de oferendas para distribuir as pessoas que se encontram no trajeto.

  A chegada a São Lazaro coincidiu com a realização da procissão a São Roque dando um maior colorido a festa ao santo protetor dos doentes. A essa altura era difícil encontrar um lugar vazio no largo da Igreja. Depois de encerrada as cerimônias religiosas, o povo caiu no samba de roda, regado a uma cerveja bem geladinha. A festa varou a madrugada.

  MAIOR VISIBILIDADE

  O Presidente da Associação, Albino Santana disse que esse percurso vem sendo realizado a 40 anos pelo Babalorixá Martinho de Obaluaiê, mas que "a partir de 1998 resolvemos dar maior visibilidade a essa obrigação religiosa, dando o nome de Caminhada Azoany, que na nação Jeje significa Obaluaiê. Desse tempo para cá, a cada ano, o número de adeptos aumenta sensivelmente", contou.

  Santana, preocupado com os afros-descendentes viu nessa caminhada uma forma de se auto afirmar quanto a sua religiosidade, e lembrou que no passado, o candomblé fora perseguido pelo Estado e todo o seu aparato, com polícia  invadindo terreiros de candomblé e apreendiam seus instrumentos e seguidores. Hoje, a Constituição Nacional nos garante a liberdade de religião e direito de ser visto com respeito não como marginais, comenta.

  O presidente da Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro (FENACAB), Aristides Mascarenhas acha de grande valia para os afros-descendentes essa caminhada, pois é uma forma de estar congregando com o povo de santo, mostrando seus direitos. Sobre o sincretismo ele acha fácil conviver com as duas forma de expressão. O católico com o sincretismo dentro da igreja e na área externa para quem quer colocar o doboru (a pipoca) em forma de um milagre de Obaluaê.

Segundo o livro "Os Orixás, Omolú e Obaluaiê" são variações do orixá Xapanã (nome proibido no Candomblé e na Umbanda), sendo Omolu sua forma jovem e Obaluaê tem uma relação de poder sobre as doenças, principalmente as epidêmicas. Faz parte da essência desse Orixá  tanto causar, quanto possibilitar a cura de uma enfermidade.

As figuras de São Lázaro e São Roque estão diretamente ligadas aos aspectos referentes às doenças. São Lázaro foi citado em uma das parábolas de Jesus, no evangelho de São Lucas, como um pobre mendigo cheio de feridas na pele, que pedia à porta de um homem rico. Lázaro não tinha amigos, mas somente cachorros em sua companhia. Já São Roque foi um jovem médico francês que viveu na Idade Média e abriu mão da sua riqueza para seguir uma vida próxima a Cristo. Ele se tornou santo por conseguir uma cura milagrosa sobre a peste negra que contaminou a Europa naquela época.