A cirurgia robótica vem revolucionando os tratamentos oncológicos minimamente invasivos por proporcionar diversos benefícios para os pacientes, como menor tempo de recuperação e menor risco de sequelas. O uso dessa tecnologia será um dos pontos centrais de discussão do 39º Congresso Brasileiro de Urologia, que apresentará as três plataformas robóticas mais usadas na urologia para tratamento dos cânceres de próstata, rim e bexiga em todo mundo: os robôs Da Vinci, Versius e Hugo RAS, sendo os dois últimos inéditos na Bahia. O evento será realizado entre os dias 18 e 21 de novembro no Centro de Convenções, em Salvador.
Realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia, o CBU203 é considerado o maior evento da especialidade da América Latina e o 3º maior do mundo. O evento vai reunir mais de 3 mil médicos brasileiros e estrangeiros em uma programação intensa de cursos, palestras, exposições e simpósios. O objetivo é debater e apresentar as principais novidades sobre diagnósticos e tratamentos das doenças urológicas, além de ser uma oportunidade de troca de informações, conhecimentos e experiências entre os especialistas da área de todo mundo.
O 39º CBU 2023 acontece durante a Campanha Novembro Azul e terá foco especial na saúde do homem, como a prevenção e tratamento do câncer de próstata. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa é que mais de 71 mil homens recebam o diagnóstico da doença ainda este ano no Brasil, sendo mais de 6.500 somente na Bahia. O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens acima dos 45 anos, porém tem altas chances de cura em 90% dos casos quando diagnosticada precocemente.
“O sistema robótico revolucionou as cirurgias minimamente invasivas por permitir aos médicos realizar procedimentos com pequenas incisões e precisão aprimorada, o que oferece importantes benefícios aos pacientes, como recuperação mais rápida e menor risco de complicações pós-cirúrgica. Atualmente, existem mais de 100 plataformas robóticas espalhadas pelo Brasil e mais de 120 mil cirurgias já foram realizadas utilizando essa tecnologia”, afirma o urologista Lucas Batista, coordenador do Departamento de Cirurgia Robótica da Sociedade Brasileira de Urologia e chefe do Serviço de Urologia da Universidade Federal da Bahia.
A prostatectomia radical robótica também conhecida como cirurgia robótica de próstata está desempenhando um papel crucial na luta contra o câncer de próstata por oferecer uma chance maior de cura e menor risco de sequelas em comparação às cirurgias aberta e a laparascópica, como disfunção erétil e incontinência urinária, para aqueles que enfrentam a doença. No caso do câncer de rim, a cirurgia robótica permite maior possibilidade de preservação do órgão afetado, evitando futura insuficiência renal.
Plataformas
As plataformas robóticas proporcionam uma visão de campo cirúrgico muito melhor do que numa cirurgia aberta, pois a sua visualização é feita através de uma um conjunto de lentes ópticas em três dimensões (3D), que produzem imagens de alta definição. Os robôs também possibilitam maior precisão dos movimentos e um sistema anti-tremor que reduz os tremores das mãos do cirurgião, o que garante mais qualidade das imagens.
O robô Da Vinci, desenvolvido pela empresa Intuitive Surgical, é o sistema mais utilizado nas salas de cirurgia em todo o mundo. No Brasil, já existem mais de 106 sistemas instalados que já ultrapassaram a marca de 120 mil procedimentos no país. É o único disponível na Bahia atualmente. É usado para realizar uma variedade de procedimentos minimamente invasivos em mais de 10 diferentes especialidades cirúrgicas, sendo a urologia a mais utilizada.
Ainda pouco difundido no Brasil e inédito na Bahia, o robô Versius é mais compacto, flexível, manobrável e transportável, podendo ser utilizado em diferentes salas e hospitais. Fabricado pela CMR Surgical, o equipamento utiliza braços robóticos modulares que podem ser ajustados de acordo com as necessidades do procedimento.
Também inédito na Bahia, o Hugo RAS é um sistema desenvolvido pela Medtronic e projetado em parceria com cirurgiões de várias partes do mundo para viabilizar a cirurgia robótica. O equipamento possui configurações flexíveis para se adequar ao espaço da sala de cirurgia. O sistema utiliza a mesma tecnologia aprovada em procedimentos abertos e laparoscópicos. Apresenta opção de gravação de vídeo segura e descomplicada, foi projetado para reduzir o custo total e ter utilização otimizada.
Os sistemas robóticos Versius e Hugo RAS têm se mostrado importantes alternativas para a democratização da cirurgia robótica, já que possuem materiais mais baratos e instrumentos reutilizáveis.
Popularização da cirurgia robótica
A cirurgia robótica chegou ao Brasil em 2008 e hoje mais de 80 hospitais já possuem a tecnologia, oferecendo o que há de mais moderno no tratamento minimamente invasivo para doenças como câncer e outras condições benignas. A técnica chegou na Bahia em 2019 e hoje é realizada em quatro hospitais de Salvador, todos da rede particular.
Segundo o chefe do Serviço de Urologia da UFBA e coordenador do Departamento de Robótica da SBU, Lucas Batista, a cirurgia robótica deve se popularizar em breve no Brasil, assim como aconteceu com a videolaparoscopia. Atualmente, já existem plataformas robóticas em atividade no Sistema Único de Saúde em alguns estados do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo Lucas Batista, já existe uma mobilização de médicos baianos para trazer a tecnologia para os hospitais públicos na Bahia.
“Atualmente, um dos desafios para a popularização da cirurgia robótica é o elevado custo de produção e manutenção. Entretanto, com a chegada de novos modelos produzidos com materiais mais acessíveis, a tecnologia deve se popularizar ainda mais no SUS, permitindo a todos um tratamento mais moderno para o tratamento de diversas doenças”, afirma o especialista.