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CHARGISTA DE A TARDE SIMANCA é demitido e fala sobre a censura

É difícil ter liberdade sem independência econômica.
Da Redação ,  Salvador | 12/06/2017 às 17:40
Charge que teria sido censurada no jornal e colocar no Facebook
Foto: Simanca
  O chargista cubano Osmani Simanca foi demitido de A Tarde. Na sua page do facebook rlr publica a seguinte nota de esclarecimento con a charge sobre o ex-ministro Geddel Vieira Lima, censurada: 

   Serei sempre muito grato pela oportunidade que tive, quando há mais de 15 anos comecei a trabalhar em “A Tarde”, periódico com uma tradição jornalística de mais de 100 anos. Foi sem dúvida uma honra publicar, aprender e aperfeiçoar-me com meus caros colegas e amigos. Durante minha estadia no diário ganhei importantes prêmios nacionais e internacionais e meus desenhos publicados originalmente em “A Tarde” foram, frequentemente, reproduzidos por outros jornais e revistas ao redor do mundo.

Depois da penúltima mudança na direção do jornal comecei a ser questionado sobre o conteúdo das minhas charges, sendo algumas delas censuradas. Estes desenhos proibidos foram reproduzidos com grande sucesso em outras mídias. Havia muito tempo que textos e matérias completas dos meus colegas eram cortados, mas não a charge. A charge era um pequeno oásis num deserto de tesouras.

É difícil ter liberdade sem independência econômica. A maior parte da imprensa sempre dependeu da propaganda dos governos. Isto não seria problema caso estes governantes não pressionassem jornais e jornalistas, e se jornalistas e jornais democráticos não se deixassem pressionar para escrever elogios ou críticas desmerecidas. Nosso rumo deve ser sempre definido pela ética e pela virtude, coisas raras nestes tempos sombrios, cheios de ódio e intolerância. Dizia Joseph Pulitzer: “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.

Com a última mudança na direção do jornal, as pressões aumentaram ao ponto que tive que explicar o que era uma charge, e qual era o papel da sátira política em uma sociedade democrática e na imprensa livre. Fui indagado sobre quem me dava as pautas ao que respondi que as pautas eram os fatos, os quais pesquisava em profundidade, consultando várias fontes e colocando minha opinião na forma do jornalismo gráfico, caracterizado pela charge ou caricatura política. Fui advertido para não mexer em determinados temas e personagens, uma tarefa impossível no meio da putrefação política e ética em que se encontra o Brasil.

Quero agradecer às demonstrações de solidariedade de meus colegas, amigos e leitores por referencia a minha demissão sem justa causa e cuja verdadeira causa, de maneira resumida, expliquei neste texto.
Termino aqui, com este pensamento de Eurípedes:
“Todo o céu é da águia o caminho, 
Toda a terra é do homem nobre a pátria”
Osmani Simanca

SOBRE A CHARGE
 
   Na sua postagem, Simanca acrescentou uma charge sua coberta com um “X” vermelho. Nela, o ex-ministro Geddel Vieira de Lima aparece agarrado a um edifício, fazendo alusão ao episódio que provocou a demissão do então ministro da Cultura Marcelo Calero e a posterior saída de Geddel do governo. No caso, Geddel teria pressionado Calero a liberar junto ao IPHAN a construção de uma torre onde ele seria proprietário de um imóvel.