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Calamidade cósmica: o que dizem as imagens dos 'pilares da destruição"

Imagens de estruturas imensas de gás e poeira mostram estrelas maciças que destroem a nuvem em que nasceram.
Globo/BBC , Mundo | 04/11/2016 às 11:10
Região R44, na nebulosa de Carina. Após ser formada, estrela maciça começa a destruir a nuvem
Foto: ESO

Pilares gigantescos que simbolizam, ao mesmo tempo, criação e destruição.

As recém-descobertas estruturas foram observadas na nebulosa de Carina a partir de um instrumento instalado no Very Large Telescope (VLT), localizado no observatório astronômico europeu mais avançado do mundo, no Paranal, no Deserto do Atacama, no Chile.

Ao contrário dos famosos "pilares da criação" da nebulosa de Águia, uma das imagens mais icônicas do universo, as estruturas que aparecem nestas imagens poderiam ser chamadas de "pilares de destruição", de acordo com o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês).

As torres e pilares que aparecem nas novas imagens da nebulosa de Carina são enormes nuvens de poeira e gás dentro de um centro de formação de estrelas, localizado a cerca de 7.500 anos-luz de distância.
Segundo cientistas do ESO, o que observamos nada mais é do que a colorida nebulosa de Carina "devastada por estrelas brilhantes próximas".

Milhares de imagens de uma só vez

O VLT é um conjunto de quatro telescópios e vários instrumentos, incluindo o MUSE (sigla em inglês para Multi Unit Spectroscopy Explorer), explorador espectroscópico que permitiu obter estas imagens espectaculares.


O MUSE fornece espectros simultâneos de numerosas regiões adjacentes no céu. E o que faz dele uma ferramenta tão poderosa é a sua capacidade de gerar milhares de imagens da nebulosa de uma só vez, cada uma com um comprimento de onda de luz diferente.

Esse recurso permite aos astrônomos detectar as propriedades químicas e físicas do material em diferentes partes da nebulosa, explica o ESO.

"Em nossa galáxia, a Via Láctea, novas estrelas ainda estão se formando. Estas estrelas são formadas a partir de nuvens gigantes de gás e poeira que, por alguma razão, entram em colapso até que seu interior atinja temperatura suficiente para ativar o mecanismo de produção de energia: a fusão de átomos de hidrogênio em átomos de hélio", disse à BBC Miguel Mass-Hesse, coordenador da rede de transmissão do ESO.

"Algumas dessas estrelas são relativamente pequenas, como o Sol, mas outras são bem maiores e muito mais brilhantes. À medida que acendem, a luz emitida por estas estrelas evapora e destroi os restos da nuvem em que elas se formaram, dissipando o material ao seu redor até deixar uma cavidade praticamente vazia de gás e poeira. Nestas imagens, podemos ver esse fenômeno em todo o seu esplendor ", acrescenta.

Pontos cor-de-rosa

A BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, pediu a Mass-Hesse que explicasse em detalhes o que pode ser observado nas imagens, como a que vemos acima: a região R18 da nebulosa de Carina.

"Os pontos rosa são estrelas que ainda se encontram dentro da nuvem de poeira original. A poeira absorve a luz azul, deixando passar apenas o componente vermelho, daí surge a cor que vemos."

Uma das primeiras consequências da formação de uma estrela maciça é que ela começa a destruir a nuvem em que nasceu - fenômeno que o ESO descreve como "ironia".

"A tese de que as estrelas maciças têm um efeito considerável sobre o ambiente ao seu redor não é nova: sabe-se que estas estrelas lançam uma enorme quantidade de radiação ionizante (emissão com energia suficiente para arrancar elétrons de átomos). No entanto, é muito difícil obter evidências da relação entre essas estrelas e o seu entorno".

Estrelas que destroem seus criadores

A equipe do ESO analisou o efeito dessa radiação de energia nos pilares: um processo conhecido como fotoevaporação, quando o gás é ionizado e depois dispersado para longe.

A partir da observação dos resultados da fotoevaporação - que inclui a perda de massa do pilares -, foi possível descobrir a causa.