Até pessoas tem nome de Iguatemi em função do shopping e a cidade do Salvador não pode aceitar uma mudança dessa
Tasso Franco , da redação em Salvador |
07/01/2015 às 10:16
Iguatemi se transformou numa área da cidade, num bairro, numa marca inigualável
Foto: iBahia
A Alianse Shopping - controladora do Iguatemi - anuncia que vai investir R$3 milhões para divulgar a nova marca do centro comercial que passará a se chamar de Shopping da Bahia.
As razões segundo o diretor da Aliansec para o Norte e Nordeste, Ewerton Visco, filho do 'velho' e saudoso Visco pioneiro com Rique no Iugatemi, seria criar uma identidade própria e desvincular-se da marca Iguatemi que pertence ao grupo Jerissati, a quem paga R$20 mil/ano para continuar usando essa grife.
Se for por uma imposição do Jereissati em vetar o uso da marca Iguatemi, até se entende, tamanho absurdo. Se não for por isso - e certamente caberia um recurso jurídico - trata-se de uma burrice inominável, um anti-marketing com o shopping e com a cidade do Salvador.
Ora, o Iguatem nasceu na confluência de uma área de expansão da cidade para o Litoral Norte após a prefeitura na gestão de ACM (1967/71), no governo Luis Viana Filho, ter aberto a Avenida Paralela, uma nova via, monumental, em direção a Lauro de Freitas e ao Litoral Norte, até então com acessos pela orla atlântica e pela Estrada Velha do Aeroporto.
ACM quis colocar o nome da avenida de Luis Viana Filho, para agradar o governador, mas, este, por bom senso, pediu que colocasse o nome do seu pai, Luiz Vianna. Até hoje, há essa confusão. A avenida chama-se, oficialmente, de Luiz Vianna. A imprensa só chama Luis Viana Filho e o povo de Av Paralela.
Quando o paraibano Newton Rique montou o Iguatemi, no inicio da década de 1970, foi de uma ousadia extraordinária. Salvador só tinha um shopping mambembe, do pai de Bebeto jogador de bola, no Largo da Tanque. O comércio de Salvador se concentrava na AVenida Sete e Chile, Bx dos Sapateiros, Calçada, Liberdade e áreas rarefeitas da Barra e Pituba.
Rique ousou e deu certo. O Iguatemi tornou-se um fenômeno de vendas e de marketing agregado a qualquer produto.
Nascia, assim, a área do Iguatemi, região do Iguatemi, bairro do Iguatemi, o Iguatemi, como queiram tudo na boca da população e dos publicitários que passaram a vender produtos - edificios, flats, terrenos, etc - associados a marca Iguatemi.
Uma grife, um selo disputadíssimo. Sinônimo de tudo: de luxo ao popular. Fenômeno nunca visto porque o Iguatemi tinha (e tem) a área chique, vip; a e área pop. Tudo se misturava e se mistura.
Só depois chegaram os outros shoppings. O Barra que já passa dos 25 anos, o Itaigara, e mais recentemente o Paralela, o Aero Plaza, Paseo, o Salvador e o Norte Shopping. Ainda assim, ninguém bate o Iguatemi. É igual ao hino do Bahia. Tá na boca do povo.
De repente, vão mudar para o insoso, sem sentido nome de Shopping da Bahia. Ora, Shopping da Bahia é uma assinautra. Salvador Shopping - o shopping da Bahia; Itaigara - o shopping da Bahia.
Serve pra qualquer um. Shopping da Bahia era a assinatura do próprio Iguatemi em suas campanhas publicitárias.
Toda vez que acontece um absurdo dessa natureza a população rejeita. Quando Otávio Mangabeira construiu a Fonte Nova ficou para sempre a marca Fonte Nova. Oficialmente, depois, era Estádio Otávio Mangabeira. Nunca pegou.
Com Wagner foi ao chão e construiu-se a Arena Itaipava, por imposição da venda casada de uma marca de cerveja. A Itaipava pode gastar (e ganhar) rios de dinheiro. Vai ser sempre Arena Fonte Nova ou Fonte Nova.
O Iguatemi, através da Aliansce também pode gastar rios de dinheiro com esse tal Shopping da Bahia. Vai ser sempre Iguatemi.
Pra se ter uma idéia da força dessa marca tem várias pessoas - e eu conheço pelo menos duas - que tem o nome próprio de Iguatemi. Foi igual a quando o astronauta russo Yuri Gagarin foi a Lua, em 1968, que surgiram milhares de Iuris, Yuris, no Brasil.
Na história de Salvador - salvo melhor juizo - não conheço nenhum bairro ou área da cidade - que tenha surgido a partir de um centro comercial. Há até sub-áreas identificadas com o comércio, como é o caso do Relógio de São Pedro, na Avenida Sete, mas, nada que se iguale ao Iguatemi.
A parte da cidade-baixa junto ao Porto chama-se Comércio, um epíteto genérico. O Largo 2 de Julho - oficial - o povo só chama Campo Grande; a Praça Inocêncio Galvão, o povo só chama Largo 2 de Julho; a Avenida Afrânio Peixoto o povo só entende como Suburbana.
Então, ainda bem que Visco sabe que será dificil tirar da cabeça da população a marca iguatemi. Vão gastar rios de dinheiro à toa e gerações e mais gerações só vão chamar o local de Iguatemi.