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'Casa da Barbie' atrai crianças e fãs da boneca em Mogi das Cruzes, SP

Apelido veio por acaso e hoje casa tem bonecas no jardim e na sala.
Moradora abriu as portas e crianças da vizinhança passam o dia brincando.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 27/01/2013 às 11:26
Cristiane em frente a casa da Barbie
Foto: Pedro Carlos
A cena se repete várias vezes por dia. Um carro passa em frente à casa e após alguns instantes dá marcha a ré. O veículo fica alguns segundos parado em frente ao imóvel pintado de rosa e quase sempre na janela traseira está uma criança com o olhar curioso. A casa fica num condomínio de Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo, e é conhecida como “Casa da Barbie”. Com um jardim cheio de placas de madeira com o recorte e a pintura da boneca, além de uma sala de estar com dezenas de Barbies, o local virou atração e a dona abriu as portas para as crianças da vizinhança brincarem.
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Por fora, a fachada da casa rosa com telhado azul chama a atenção. O local lembra uma casa de bonecas. Os retratos pintados em madeira chegam a ter quase 1,80m de altura. Atrás de uma moita, uma Barbie fada descansa sentada. Ao seu lado, uma versão casual da boneca leva uma bolsa e um óculos nas mãos. Há ainda uma Barbie princesa, com um coelho, e, no fundo do cenário, próximo da porta de entrada, uma Barbie com uma cadelinha da raça yorkshire. Estes últimos personagens são inspirados nos moradores reais desse lugar de fantasia. O desenho retrata a estudante de Direito catarinense Cristiane Pichetti, de 35 anos, e sua cadela, Shalita.

“Tudo isso aconteceu por acaso. Quando fomos pintar a casa, encomendei um tom de rosa bem clarinho, só para quebrar o branco. Mas veio um tom errado e ficou um rosa mais chamativo. Os pintores começaram a trabalhar quando a gente estava fora e quando eu vi a casa já estava com uma parte pintada. Aí resolvemos deixar assim mesmo”, conta Cristiane, que mora com o marido, João da Silva, que é representante de uma madeireira, o filho e o enteado, de 17 e 16 anos.

Barbie por acaso

O engano com a cor da tinta aconteceu há cinco anos. Antes de vir para Mogi, o casal morava em São Paulo, mas se mudou para o Alto Tietê em busca de mais tranquilidade. “Meu filho tinha nove anos e estava assustado na capital”, conta Cristiane.

Quando compraram a casa, ela era bem diferente. “Ela era amarela e os batentes, escuros. Era uma casa feita para vender, alguns cômodos não tinham piso. Naquela época a gente ficava o tempo todo entre Mogi e São Paulo e numa dessas voltas para a casa já tinham começado a pintura errada”.

Sala de estar foi decorada com painéis da Barbie
(Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
O engano fez com que a casa se tornasse ponto de referência dentro do condomínio. “Quando algum visitante pedia informação na portaria, o pessoal dizia 'fica ao lado da casa da Barbie', ou 'passa a casa da Barbie e vira na segunda rua à direita'. Aí o nome pegou”, conta Cristiane.
O que a estudante não esperava é que algumas pequenas curiosas quisessem conhecer a Barbie pessoalmente.“Depois as crianças começaram a bater na minha casa, perguntando 'tia, é aqui que mora a Barbie? Cadê a Barbie?'. Aí eu falava 'ela está tomando banho, ela está dormindo'. Não esperava aquilo. Aí meu pai falou, 'porque a gente não coloca umas Barbies lá fora?'. Ele trabalha com desenho e pintura. Ele mesmo desenhou a Barbie, usamos madeira da madeireira do meu marido, meu pai pintou, colocamos os primeiros retratos no jardim e foi o maior sucesso”.
O jardim da casa de Cristiane virou praticamente um “ponto turístico” do condomínio. As pessoas param para tirar fotos. “Uma vez um rapaz veio de São Paulo a Mogi só para levar a namorada para conhecer a minha casa e tirar fotos”, conta.

Dentro da casa

Não demorou para que a brincadeira passasse para dentro da casa da estudante de Direito. As crianças começaram a trazer suas bonecas e Cristiane abriu sua sala de estar para que elas brincassem. As paredes do hall e da sala agora estão tomadas por pinturas da Barbie e estampas de rosas.

A última novidade é um “castelinho”, também feito em madeira pelo pai de Cristiane, que ocupa boa parte do hall da casa. Os habitantes são diversos modelos da Barbie e de seu namorado, Ken.

“Tem crianças e amigas que agora me dão bonecas. Eu também brincava de Barbie quando era criança, mas não sou uma colecionadora. Trouxe de Santa Catarina uma boneca antiga, da minha infância”. Até a fabricante da Barbie mandou um kit com cinco bonecas para Cristiane depois que a história ficou conhecida.

Todos os dias vêm crianças brincar na casa. “Tenho 26 bonecas da Barbie e um aplicativo de celular com todas as roupas dela”, conta a pequena Beatriz Ripamonti, de 10 anos. Ela e sua irmã, Beatriz, de 8 anos, são frequentadoras da casa de Cristiane e, apesar de pertencerem a uma geração que lida com smartphones e tablets (as meninas brincavam com seu iPad durante a entrevista) desde cedo, ainda são apaixonadas pela boneca Barbie, criada há quase 54 anos.

Cristiane e sua cadelinha, Shalita, também foram re-
tratadas nos painéis do jardim (Foto: Pedro Carlos
Leite/G1)
Mesmo em um condomínio de alto padrão, onde muitas crianças brincam com tecnologia de ponta desde cedo, Cristiane recebe cartinhas feitas à mão por baixo da porta da sua sala. “Acho que são crianças tímidas que mandam as cartas. Quando tem o endereço de onde veio eu respondo”, conta a estudante. A maior parte das cartas são de meninas que dizem ser “muito fã da Barbie” e pedem para conhecê-la. Há ainda desenhos da boneca.

Segundo Cristiane, a parte masculina da casa não se incomoda de morar na casa da Barbie. “Eles entraram na brincadeira e não ligam”, afirma.

De férias na casa da madrinha, o garoto Vitor Matheus Pichetti, de 11 anos, veio de Balneário Camboriú, também em Santa Catarina. “Cada vez que eu venho aqui tem mais Barbies. O pessoal que vem ver a casa fica sempre aqui fora. Gosto de ficar assistindo filmes com a minha madrinha. Não me incomodo com quem vem conhecer a casa, acho legal”, conta.

Negócio

2013 é o ano em que Cristiane pretende realizar um projeto: transformar a brincadeira de casa da Barbie em um negócio. “As pessoas sempre falam para eu fazer alguma coisa, mas o curso de Direito exige bastante, então não tenho muito tempo. Ano passado tentei fazer uma festa da Barbie e as crianças ficaram eufóricas, mas chegou minha época de provas e acabou não dando certo. Mas agora penso em fazer uma casinha da Barbie na beira da piscina e uma atividade 'Lanchando com a Barbie', para as crianças brincarem na hora do lanche”, Cristiane conta que está querendo contratar uma estagiária do curso de Psicologia para monitorar as crianças.

“Também penso em alugar o espaço para fazer aniversários temáticos da Barbie. Mas claro que aí seria cobrado. Nada muito caro, mas o justo”, conta a estudante, que atualmente abre as portas da sua casa para crianças e fãs da boneca gratuitamente.
E não são apenas as crianças que se encantam com a casa. “As mãe vêm e às vezes tiram mais fotos que as crianças”.

A impressão que fica é que anos atrás, no começo desta história, quando as crianças perguntavam para Cristiane onde estava a Barbie, elas estavam falando com a própria. As cartinhas das meninas emocionadas também revelam isso. Cristiane guardou todas.
Personagem e pessoa se confundem. Quando as meninas dizem que querem conhecer a Barbie, elas estão se referindo à catarinense de longos cabelos loiros e olhos claros. Quando perguntada se, no fim das contas, ela virou a Barbie, Criatiane ri e admite “é, acho que sim