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100 MILHÕES DE VISUALIZAÇÕES EM APENAS 6 DIAS DO VÍDEO "KONY 2012"

VIDE
| 12/03/2012 às 21:26
Joseph Kony, do Exército de Resistência do Senhor
Foto: EFE

Com mais de 100 milhões de visualizações em apenas seis dias, "Kony 2012", um vídeo de 30 minutos sobre o líder guerrilheiro de Uganda Joseph Kony, tornou-se o maior viral da história, de acordo com um estudo da organização Visible Measures divulgado nesta segunda-feira.

O vídeo, realizado pela ONG americana Invisible Children, denuncia o uso de crianças como soldados pelo Exército de Resistência do Senhor, comandado por Kony, e faz um apelo pela captura do líder guerrilheiro, acusado de crimes contra humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

A Visible Measures monitorou não apenas as visualizações do arquivo original, publicado no site Vimeo, mas também as respostas ao vídeo (cerca de 750), totalizando 112 milhões. O documentário foi dublado ou legendado em espanhol, italiano, francês e chinês e recebeu mais de 860 mil comentários de internautas.

Com isso, segundo o estudo, "Kony 2012" ultrapassou outros vídeos muito assistidos, como a apresentação da cantora Susan Boyle no programa "Britain's Got Talent" em 2009 (70 milhões de visualizações em seis dias). O clipe "Bad Romance", da cantora Lady Gaga, levou 18 dias para ultrapassar a marca de 100 milhões de visualizações (hoje são mais de 900 milhões).

As forças de Kony são acusadas de atrocidades em Uganda, na República Democrática do Congo, na República Centro-Africana e no Sudão do Sul. Em outubro passado, o presidente americano, Barack Obama, anunciou o envio de cem soldados das forças especiais a Uganda, para ajudar a capturar Kony.

O Exército de Resistência do Senhor começou a atuar no norte de Uganda nos anos 1980. Seus integrantes diziam lutar por um "Estado bíblico" e pelos direitos da população acholi, que habita a região.

O grupo, considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, agora opera principalmente em países vizinhos a Uganda e é acusado de sequestrar crianças, forçando os meninos a combater como soldados e usando as meninas como escravas sexuais.

Em 2008, Kony se recusou a assinar um acordo de paz com o governo de Uganda, quando descobriu que não poderia garantir a retirada dos mandados de prisão do TPI.

Críticas ao vídeo

Apesar do sucesso na internet, o vídeo foi duramente criticado por moradores de Uganda, ainda que apenas 10% do país tenha acesso à internet. Muitos acusam a ONG de simplificar uma história complexa e omitir o fato de que , inicialmente, o grupo liderado por Kony lutava contra o Exército de Uganda, que cometia violações brutais aos direitos humanos. Diplomatas também afirmam que o governo do país cometeu genocídio na região norte durante a busca pelo líder guerrilheiro.

"Não há contexto histórico (no vídeo). É mais uma coisa da moda", disse Timothy Kalyegira, cientista político de Uganda. "A perspectiva apresentada (pela ONG) é muito limitada", disse Ogenga Latigo, um político da oposição.

O analista político Nicholas Sengoba questionou o momento da divulgação do vídeo, meses depois de Obama enviar tropas ao país. "Esse conflito existe há anos e temos que nos perguntar o motivo de isso aparecer agora", afirmou. "Acredito que estas pessoas têm outros objetivos que não estão claros."

Veja o vídeo da Invisible Children sobre Joseph Kony:


Mas o vídeo também recebeu elogios de autoridades como o procurador do TPI, Luis Moreno-Ocampo, que chamou a iniciativa de "incrível" e "exatamente o que precisamos". A Humans Right Watch, organização de defesa dos direitos humanos, disse esperar que a campanha seja útil e elogiou o objetivo de "pressionar líderes a proteger civis".

Métodos da ONG

Os métodos de atuação da Invisible Children também foram alvo de questionamentos. A ONG é acusada de gastar a maior parte de seu financiamento com salários, despesas de viagem e realização de vídeos.

Alguns blogueiros também afirmam que a entidade de fiscalização de ONGs Charity Navigator deu ao grupo apenas duas de quatro estrelas por transparência financeira. Além disso, um artigo da revista Foreign Affairs acusou a Invisible Children e outras entidades sem fins lucrativos de "manipular fatos por motivos estratégicos".

A ONG publicou uma resposta às críticas em seu site, incluindo prestações de contas e explicações sobre os métodos que emprega.

"Estamos fazendo o nosso melhor para ser mais inclusivos, transparentes e factuais que possível. Construímos esta organização com a filosofia de 'ver para crer' em mente, e é por isso que somos uma organização baseada na mídia", afirma a Invisible Children no comunicado. "Nunca proclamamos um desejo de 'salvar a África', mas, em vez disso, uma tentativa de inspirar a juventude ocidental para 'fazer mais do que simplesmente ver.'"

Com AP e BBC