Apesar de ele não gostar da comparação com "Minority Report", a referência cultural é perfeita: quem usa a tela multitoques pode fazer exatamente o que o personagem interpretado por Tom Cruise fez no filme do diretor Steven Spielberg. Duas ou mais pessoas podem operar o equipamento ao mesmo tempo, já que ele é capaz de reconhecer -- e transformar em comandos -- o toque simultâneo de diversos dedos.
Divulgação/CNN John King, o 'operador oficial' da tela multitoques do canal americano CNN. (Foto: Divulgação/CNN)
O aparelho fez sucesso em sua estréia na televisão mundial, quando apareceu na cobertura da prévia eleitoral de Iowa da CNN, em 3 de janeiro deste ano. A tela tornou-se uma ferramenta importante para explicar os resultados das votações no complexo processo eleitoral americano.
A tela multitoque é uma revolução em um dos pontos mais importantes da tecnologia, mas que, curiosamente, sempre recebeu menos atenção por parte dos desenvolvedores: a interface, ou seja, a forma pela qual as pessoas "conversam" com os computadores.
Desde o surgimento do mouse moderno, em 1972, a maneira de utilizarmos equipamentos eletrônicos pouco mudou. O próprio "touchscreen", antecessor do multitoques, ficou relegado a poucos equipamentos, tornando-se algo corriqueiro apenas em caixas eletrônicos e aparelhos como computadores de mão.
Ao eliminar a tradicional combinação "mouse e teclado", o produto da Perceptive Pixel torna o uso de computadores mais intuitivo. E, de fato, não é preciso conhecimento técnico algum para utilizar a tela multitoques. É como brincar com papéis espalhados sobre uma mesa, só que com acesso a qualquer informação armazenada no computador ou na inte
O sucesso do iPhone, que utiliza tecnologia semelhante, também facilitou o trabalho de ensinar as pessoas a utilizarem a tela.
O equipamento em si é bastante simples: um retroprojetor de alta resolução coloca as imagens do computador em uma tela, iluminada internamente por LEDs, pequenos diodos que emitem luz. Quando alguém pressiona o dedo contra a superfície, ocorre um fenômeno - que o inventor Jeffrey Han percebeu pela primeira vez ao observar um copo d'água - chamado "reflexo total interno frustrado".
Parece complicado, mas o fenômeno significa apenas que a luz que seria refletida naquele ponto da superfície acaba se "espalhando" internamente pela tela. Atrás da tela, uma câmera capaz de detectar luz infravermelha percebe esse toque, e o equipamento está quase pronto. Bastou escrever um software capaz de medir o tamanho, a posição e o movimento desses toques, e convertê-los em comandos de computador.
Enquanto a maioria das pessoas ficou fascinada com a apresentação do produto na Technology Entertainment Design de 2006, na Califórnia, a Darpa (sigla em inglês para agência de projetos de pesquisa avançada em defesa) vislumbrou um uso prático para a tecnologia, e fez a primeira compra. "Foi um contrato grande, coisa de centenas de milhares de dólares", afirma. Logo de cara, o sucesso financeiro do invento foi garantido.
Agora, a tendência é que, com o aumento da escala de produção e a queda no custo dos materiais utilizados na fabricação, o preço de equipamentos multitoques caia.
Afinal, a concorrência está chegando - a Microsoft prepara, para os próximos meses, o lançamento do Surface, computador em formato de "mesa" que também é operado por comandos diretamente na tela. E o próximo Windows, sucessor do Vista, deverá impulsionar a fabricação de máquinas que sigam esse princípio.
"Acho que a tela multitoque é útil sempre que há a necessidade de exibir, manipular e analisar uma boa quantidade de informações gráficas", afirma Han, que não admite, no entanto, que sua criação tenha "assassinado" o mouse. Mesmo porque, segundo ele, ainda há espaço para desenvolver a tela multitoques.
"Em termos de equipamento, o produto está completo. Mas precisamos descobrir novas funções, novas formas de exibir informações e de transformar a tela em algo útil para novos públicos", avalia o inventor. Em um mundo ideal, Han acredita que o equipamento deveria estar presente em escolas, hospitais, escritórios de arquitetura e engenharia e, por que não, nas residências.