Colunistas / Política
Tasso Franco

O FIM MELANCÓLICO DO GOVERNO JAIR BOLSONARO E A ESPERANÇA PERDIDA

Foram 4 anos de derrapagens e experiências governamentais sem sucesso
31/12/2022 às 11:36
     Encerra-se neste sábado, 31, melancolicamente, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) eleito em 2018 com 55.13% dos votos (57.797.847) contra Fernando Haddad (PT) com 44.87% 47.040.906 votos. 

   Bolsonaro empurrou ladeira abaixo a confiança que quase 60 milhões de brasileiros havia depositado nele para fazer as reformas que o Brasil tanto espera, há anos, sepultar de uma vez por todas o esquerdismo estatal que não visa a propdutividade e se ampara nas tetas do Estado, privatizar as estatais que sugam o suor dos brasileiros há centuárias, incluindo Petrobras, BB, Correios, Rede Brasil, Eletrobras, Itaipu e outras, e diante de tantos vacilos e derrapagens políticas permitiu o retorno do petismo ao poder central, com os mesmos de sempre e um leque de adesões que vai à direita à esquerda radical, centrão, sindicatos, MST, OAB, universidades e demais sangue-sugas.
  
  Mas com o foi que Bolsonaro, eleito exatamente para não permitir esse retorno, fracassou na sua missão de governar o Brasil por 4 anos? 

  Já comentamos aqui as razões que levaram Bolsonaro à derrota nas urnas contra Lula da Silva, seu maior algoz, e elas servem - em parte - para retornar essa questão crucial e central. 
 
  Ao assumir o governo, em 2019, Bolsonaro ao invés de formar uma equipe de assessores competentes e se aliar às instituições nacionais - o Congresso, o Judiciário, a sociedade civil organizada, os partidos políticos, etc - resolveu se dissociar delas. Ou seja, ao invés de agregar, lição mater de Tancredo Neves para por fim a ditadura de 1964/1984, resolveu espalhar e se isolar no Palácio do Planalto orientado, em grande parte, pelos filhos. 
  
  Ora, esse tipo de atitude nunca deu certo nem poderia dar, salvo se adotasse um governo ditatorial. Numa democracia, isso se torna impossível de governar. E, Bolsonaro, nos 4 anos de governo se viu cercado de adversários poderosos por todos os lados, do Judiciário as institutições privadas, da imprensa e até dos empresários. 
  
  Desorientado, sem assessoria de Comunicação, sem apoio político (brigou logo com o PSL e Gustavo Bebiano, homem forte na sua campanha e mandou Bivar às favas), tratando o general Mourão, seu vice, como se fosse adversário, cercou-se de militares sem experiência na arte de movimentar a máquina pública e seus reais adversários se aproveitaram dessas brechas, dessa fragilidade, e além de dizer que se vivia num regime autoritário com sinais de golpismo, mesmo havendo democracia e todas as instituições funcionando, sem que o presidente soubsesse sair dessa arapuca.
  
  Quando o ministro Edson Fachin resolveu isentar Lula de crimes que havia sido condenado pelo próprio Judiciário, em duas instâncias, mostrando que o Supremo também governava e sepultando a Lava Jato, a oposição engrossou o caldo e Lula se apresentou como candidato a presidente, fazendo o contra-ponto que Bolsonaro fizera com o PT, em 2018, e vencendo a eleição. 

  Não estava escrito nas estralas como se diz. Lula, sim, foi competente, soube organizar uma enorme aliança política até com adversários histórios e levando Geraldo Alckmin (ex-PSDB e ex-candidato a presidente) para ser o seu vice e atingiu Bolsonaro durante a campanha em pontos vulneráveis como a frágil atuação do governo no combate a Covid, o isolamento do país no mundo, a debilidade na economia, a ausência de obras e isso foi fatal.
  
  E por que Bolsonaro não conseguiu sair desse alçapão? 

  Por inépica, por incompetência, por falta de assessoramento. Por ser jornalista e profissional da comunicação não estou puxando a brasa para minha sardinha (visto como da imprensa), mas não conheço governo democrático que sobreviva sem um relacionamento de qualidade com a imprensa, sem profissionais de comunicação para fazer o elo entre as ações governamentaie a sociedade. 

  Não se trata de dar dinheiro ou abastecer sites por debaixo do pano, mas de realizar um trabalho profissional, falar com os jornalistas, usar a midia institucional paga nos veiculos de grande audiência, práticas que todos os governos fazem. 
  
  Veja o presidente Biden, nos EUA: levou o presidente da Ucrânia para Washington e convocou a imprensa para uma coletiva elevando sua popularidade uma vez que Zelenski é, na atualidade, o maior adversário do regime de Putin, igualmente, adversário de Biden.

   O presidente da França, Emannuel Macron, reeleito recentemente para mais um mandato, mas, ainda enfrentando uma forte oposição, foi duas vezes ao Catar apoiar a Seleção de Futebol. 

  Trabalho de quem? Da Comunicação.
  
  E o que fez Bolsonaro durante todo seu governo? Não falava com a imprensa e quando tinha chance de fazê-lo atacava os jornalistas sendo notória a agressão que cometeu a Vera Magalhães num dos debates da TV durante o final da campanha, o que lhe causou enorme prejuizo.
  
  O tratamento que o presidente deu a pandemia do Coronavirus foi - provavelmente - o seu maior desgaste com quase 700 mil mortes o que atingiu diretamente 4 milhões de pessoas considerando as familias das vitimas. 

  O presidente emparedou a OMS, negou a ciência, trocou vários ministros da Saúde, demorou de vacinar a população, passeou de moto sem máscara e capacete, daí ganhou dois epitetos que lhe causaram um prejuizo imenso: negacionista e genocida. 
  
   Na Eduação - outra área de grande sensibilidade do governo - colocou uma pleiade de incompetentes no Ministério (um dos quais se envolveu num possível caso de corrupção), cortou verbas, aniquilou o campo das pesquisas científicas, e sofreu o pão que o diabo amassou uma vez que as Universidades Federais são aparelhos de propagandas do PT e do PCdoB e agiram com muita força contra seu governo.
  
  São erros e mais erros que poderiamos apontar. Erros em série e declarações controversas de Bolsonaro uma hora falando uma coisa e outra momento outra. O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, conseguiu salvar-se a duras penas, mas, as reformas proposta em 2018 pouca coisa aconteceu. Relevante, mesmo, só a Reforma da Previdência. Até uma TV Estatal que consome bilhões em 4 anos, com audiência zero, foi mantida pelo governo.
  
   No seu período de governo nasceu um símbolo da direita que é o "bolsonarismo" (os bolsonaristas) e o presidente, depois da derrota no segundo turno, isolou-se no Palácio do Planalto e ontem viajou para os Estados Unidos.

  Orientado por seus advogados, desde 25 de novembro para cá, adotou uma posição de cautela sem declarações, sem apoio aos moviemntos golpistas instalados em frente a quartéis do Exércio (chegou a condenar essas atitudes), obviamente, se precavendo de possíveis processos judiciários. 
 
   Surpeendemenete, agiu com bom senso uma vez que as Forças Armadas nunca deram quaisquer sinais de que apoiariam um golpe de estado. Lula, pois, assume, dia 1 de janeiro de 2023. (TF)