Colunistas / Política
Tasso Franco

SALVADOR EXPÕE SUA POBREZA DE FORMA CRUEL NO CARNAVAL

uMA MOSTRA DA NOSSA REALIDADE
19/02/2012 às 21:01
MIUDINHAS GLOBAIS:

  1. O Carnaval é a festa que expõe com toda crueza a pobreza de Salvador. Estima-se que, na capital baiana, existem algo em torno de 400 a 500 invasões locais onde vivem em condições que necessitam de melhorias habitacionais e sanitárias, algo em torno de 1.2 milhão de pessoas. Os números não são absolutos porque faltam estudos mais abalizados sobre esta matéria, assim como, algumas invasões já dispõem de boa infra-estrutura e residências de qualidade.

  2. Uma invasão como a Roça da Sabina, por exemplo, que fica na entrada da Avenida Centenário e na boca do Carnaval está consolidada e algumas familias têm boa qualidade de vida, uma minoria. Ainda assim, a baixa renda é genérica. Já uma invasão como a Nova Constituinte, em Periperi, abriga milhares de pessoas e sua infra é precaríssima. Talvez, hoje, o drama maior da cidade esteja no entorno da Lagoa da Paixão, em Valéria.

  3. Então, é natural que algumas dessas familias ocupem os circuitos do Carnaval para curtir a festa, ainda que seja as sobras, e para trabalhar. Ganhar alguns trocados e melhorar um pouco suas rendas, em especial, milhares de cordeiros e vendedores ambulantes, os quais, esses últimos se instalam como podem nas proximidades dos circuitos e só retornam aos seus bairros na quarta-feira de cinzas.

  4. É uma loucura. Hoje conversei com uma senhora que instalou um isopor na Ladeira do Ipiranga e ela me disse que está há três dias, praticamente sem dormir, e espera conseguir no final da festa um lucro em torno de R$600,00 se não chover e tudo correr bem. Assim como essa senhora que se chama Madalena e mora na Formiga de São Caetano existem milhares na cidade, só cadastrados pela Sucom, oficialmente, são 2.750.  

  5. Há quem ganhe mais; e quem ganhe menos. A disputa é enorme. A favelização de doer o coração. Na Ladeira do Morro do Gato tem uma familia numa barraca (vide foto)onde se vende comidas e bebidas onde estão da avó aos netos e até um bebê recém nascido num berço. É algo extremamente penoso. Essa familia calcula que levará em torno de R$800,00 de lucro do Carnaval, vendendo o PF feijoada a R$10,00.

  6. Nessa "batalha" um ispor grande, de chão, chega a acomodar entre 150 a 200 "piriguetes" (cerveja de 200 ml a coqueluche da festa) e ices (sminorffs, outra coqueluche). Para gelar uma carga dessas são necessários três sacos grandes de gelo (R$12,00 cada um deles) e partir para a oferta aos clientes. Há, ainda, os isopores menores, de mão, de ombro, que as pessoas vendem diretamente nos circuitos, mais próximos dos foliões.

  7. No valor de compra, 3 "piriguetes " sai por R$2,10 na venda R$5,00. A ice é mais lucrativa e ocupa menor espaço, mas também vende menos. Custa R$3,00 e sai por R$5,00. Quem se especializou somente em ice e fez boa compra está se dando bem. A latinha é pequena, fácil de gelar e o lucro quase 70%.

  8. Há, ainda, uma infinidade de vendedores de outros produtos: bombons, halls, máscaras, cigarros, chicletes, sombrinhas, acarajés, abarás, roscas, hot-dogs,  espetinhos de "gato" e assim por diante. Nada escapa da criatividade popular e tem até quem venda charutos e apitos. 

  9. Na luta pela sobrevivência essa é uma das pernas da realidade de Salvador e de nada adiantou a Prefeitura anunciar que não aceitaria essas pessoas dormindo nas ruas se não há alternativas. Melhor assim, na batalha e em paz. Também não adianta tapar o sol com a peneira: há o camarote e a tenda favelada e ponto final.
 
  10. O mais são os políticos fazendo demagogia, o que também é natural.
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