A greve em A Tarde e o processo contra Varela
Foto: BJÁ |
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Profissionais de A Tarde, em greve de advertência, no pátio, na última quarta-feira |
Nesta semana aconteceram em Salvador dois fatos que apontam algumas mudanças na Bahia, o que é raro, sobretudo em se falando de momentos vinculados ao meio jornalístico, ainda muito provinciano. Mas, como até o ditador do Egito caiu, hoje, pressionado pelo povo na praça, não a Castro Alves que essa é de folia e aviões, os movimentos acontecidos em A Tarde e na TV Itapoan apontam luzes no final do túnel.
Em A Tarde, a demissão de um jovem repórter (Aguirre Peixoto), filho de Biágio Talento, outro repórter cuidadoso e de grandeza que também atua na mesma empresa, por motivos que os profissionais da redação apontam como injustos, por interferência do mercado imobiliário, resultou numa revolta que já resultou, até agora, numa greve de advertência por 2h30min, a demissão voluntária do editor-chefe, Florisvaldo Mattos, a decisão de manter a redação em "estado de greve" permanente até que a empresa decida sobre algumas normas de conduta.
Estou na imprensa há 43 anos e já fui repórter de A Tarde, editor de Cidade e de Política, e fundado do Caderno de Cultura, entre outros, e nunca presenciei um movimento deste no jornal que, embora tenha perdido a liderança de circulação para o Correio, ainda é o veículo de comunicação impresso mais influente e importante do Estado.
Ainda é verdade que, o que sai em A Tarde (e não o que cai como estão dizendo por aí), tem repercussão. E, diga-se, é um veículo cuidadoso que apura os fatos ouvindo todos os lados, tudo dentro da norma ética jornalística.
Mas, há e sempre houve, uma distância enorme entre os profissionais da redação e a direção da Casa. E esse tratamento sempre foi na linha dura.
Veja que, recentemente, um ex-editor do jornal, Sérgio Matos, foi anunciado pelo prefeito João Henrique como secretário de Comunicação, porém, como havia posto A Tarde na Justiça do Trabalho, reclamação natural, teve o nome vetado para assumir um cargo público. E o prefeito JH que já havia nomeado um neto da dona do jornal para seu gabinete, consentiu.
Lembro, só num exemplo bobo, que, quando sai de A Tarde, nos início dos anos 1990, para montar o Bahia Hoje de Pedro Irujo, demissão voluntária, o jornal não liberou meu FGTS porque Irujo seria um concorrente. Há casos e casos. A Tarde sempre se portou como se fosse uma espécie de dona da Bahia.
Que o diga o ex-governador Juracy Magalhães, o qual sofreu uma campanha impiedosa. O mesmo aconteceu com Waldir Pires, o "vermelho", em 1962.
Hoje, o jornal pretende implantar seu parque industrial em Simões Filho e aguarda pendências. O seu terreno da Avenida Tancredo Neto é valioso e já teria sido apalavrado com a Construtora Odebrecht.
O episódio Aguirre Peixoto mostrou, no entanto, que a direção da empresa precisa modernizar seus métodos e atuar como se fosse parceira com os profissionais que atuam na Casa. E, desta feita, ao contrário de tantas outras, como a roda do mundo gira com sopros de liberdade, compreensão, solidariedade, os profissionais da redação se rebelaram e venceram. Uma vitória parcial, mas, bastante significativa até o momento.
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O outro episódio foi o fato do deputado Marcelo Nilo ter interpelado judicialmente o radialista Raimundo Varela, da TV Itapoan, outro que atua como se fosse o dono da Bahia, acima de tudo e de todos, e que fala o que bem entende, agride as pessoas e vai ficando por isso mesmo. Desta feita, no entanto, Marcelo apresentou uma queixa crime na Justiça por difamação e calúnia, e quer reparação por danos morais.
Varela é um velho conhecido da imprensa baiana, já foi interpelado judicialmente também pela TV Band, e, embora seja, reconhecidamente um bom comunicador, polêmico, às vezes extrapola em suas críticas, como aliás aconteceram com João Henrique, Antonio Imbassahy e outros, e depois vai almoçar nos gabinetes como aconteceu na época de Imbassahy.
Em críticas fora dos limites desqualificou a Assembleia Legislativa e deputados estaduais da Bahia várias vezes e depois colocou uma pessoa de sua familia como candidata a deputada estadual.
É isso. É preciso ter coerência, responsabilidade e respeitar o próximo.
A Bahia é lenta em suas mudanças. Esses dois exemplos são emblemáticos e promissores.