Wagner será forçado a participar do debate
O governador Jaques Wagner diz que não vai politizar o tema da crescente onda de violência na Bahia, com destaque nacional diante do assassinato do delegado Clayton Leão, da 18ª de Camaçari, e apresentou uma tese esdrúxula, até desaconselhável a um chefe de executivo dando conta de que, se soubesse como combater o crime de forma eficiente seria milionário. De pronto, recebeu em troca, uma crítica ferina do senador César Borges (PR), quase seu aliado no plano local, e agregado ao projeto Lula/Dilma no âmbito nacional, o epíteto de Pôncio Pilatos. Aquele que lavou às mãos diante do povo à sua porta pedindo a execução de Jesus.
Em tese, o governador não tem poderes para brecar a politização da violência e da sequência de crimes que acontecem na Bahia porque os temas se impõem por exigência da sociedade. E, no momento, o tema em foco, como prioridade 1 é a segurança pública. O governador inclusive sabe disso porque pesquisas de avaliações internas do seu governo feitas pela Campus, e antes pela Vox, apontam nessa direção. Então, ainda que não deseje politizar essa questão, porque no momento é desfavorável ao seu desempenho governamental, vai ter que encarrar o problema.
E, o que é mais sintomático: terá que fazê-lo em duas frentes. A primeira no circuito da gestão. Tentar, ainda, até que a campanha eleitoral propriamente dita comece, a partir de 6 de julho, e com mais intensidade depois de 17 de agosto, melhorar o desempenho da Segurança Pública, se municiar de informações desse setor, analisar dados, convocar os poderes Judiciário e Legislativo, enfim, reduzir os níveis de tensões em que vive a população. Se conseguir pelo menos minimizar esse ambiente carregado que se disseminou pelo estado representa um ganho substancial.
A segunda frente será política. Não tem jeito. Ainda que o governador não queira será forçado a debater o assunto porque seus adversários, hoje, já priorizam essa bandeira, imagine-se o que acontecerá durante a campanha. E reze o governador para que não ocorram fatos, mais adiante, que chamem a atenção nacional porque aí será fatal para suas pretensões políticas. O melhor, portanto, é se organizar nessa direção, estabelecer comparativos, acercar-se de uma "troque de choque" parlamentar, pois, vem chumbo grosso à caminho e não é pouco.
Veja que, no crime do delegado Clayton, se a imprensa não procurasse alguns parlamentares da base do governo, não teria saído uma linha em defesa do governador. Entre os sindicatos, apenas o Sindilimp, emitiu uma nota de apoio à Polícia. Espontaneamente, nenhum deputado saiu em defesa do governo, nem na Assembleia; nem na Câmara. Até mesmo os candidatos ao Senado, Lídice da Mata, e Walter Pinheiro, nada falaram. E, na equipe de governo, no ambiente dos direitos humanos, zero. Enquanto isso, do outro lado, um bombardeio. Artilharia pesada e que fez um estrago enorme na imagem governamental.
Há de se dizer que a imprensa colaborou nessa direção. Evidente. A midia trabalha, preferencialmente, com a cultura do mal. Isso inclusive faz parte do viver nacional. Mas, ela só avança nesse direção se existirem fatos. Brizola se queixava demais da Rede Globo e a exposição da "guerra" nos morros do Rio de Janeiro. A manutenção do noticiário nessa direção, nos dias atuais, é tão itensa quando na época brizolista porque o problema continua e se agrava. A Bahia, hoje, vive esse drama. Sua vitrine está trincada e ganha espaços porque faltam ações competentes para conter a violência.
Aqui do meu palanque, sem votos, convocaria até a oposição para um pacto. E todos os setores da sociedade. Sem isso, só a proteção divina.