Colunistas / Política
Tasso Franco

ATENÇÃO SENHORES POLÍTICOS: A CLASSE C NÃO TEM DONO

É um contingente enorme da população que deseja mais bem estar
22/02/2010 às 20:21
  Uma esclarecedora entrevista com o sociólogo Bolivar Lamounier publicada em Páginas Amarelas de Veja, nesta semana, aborda algumas questões contidas em seu livro "A Classe Média Brasileira - Ambições, Valores e Projetos de Sociedade" observando-se as questões de natureza política e quais candidatos que terão dividendos diante da ascensão de 30 milhões de brasileiros para a Classe C, com renda entre R$1.115,00 a R$4.807,00, um dos pontos que vem sendo sempre destacado como uma vitória de Lula.

   Não é bem assim. Na propaganda petista, tudo bem. Mas, também não se pode menosprezar o papel do presidente Lula e do seu governo, importantíssimos no processo porque manteve a estabilidade econômica, reforçou-a e tem uma significativa colaboração para que houvesse essa migração. Acontece que, segundo o estudo de Lamounier, trata-se de uma situação que vem do advento da globalização, Plano Real e governos FHC.

   Ou seja, é um esforço compartilhado e que cabe louros em várias cabeças. A questão é de quem for mais competente para mostrar os seus méritos e isso Lula tem sido mais do que FHC e o PSDB, primeiro porque está no poder e a memória do povo é curta, segundo porque sua máquina de comunicação aliada a verve popular do presidente ajudam muito nesse entendimento.

   Uma outra questão posta pelo sociólogo é de que, ainda assim, essa nova classe C tem aspirações renovadas e não se enquadra ou segue qualquer modelo ideológico, muito menos o radicalismo do PT exposto no seu IV Congresso, porque ela foi moldada dentro da contemporaneidade, da aldeia global e tem novas aspirações, inclusive do empreendedorismo. Ou melhor dizendo, aspiram ser patrões, longe de qualquer modelo estatizante.

   Segundo o sociólogo "a estabilidade econômica é algo extremamente valorizado nessa classe C, porque significa a perspectiva de ascensão social, sinônimo de uma vida sem grandes sustos financeiros e com possibilidade de obtenção de financiamentos". Lamounier destaca que "não estamos diante de um fenômeno comportamental tão nídito como era a classe média antiga (no Brasil, sustentada basicamente pelos servidores públicos), e se trata de um universo bem mais amplo.

   Não foi à toa que o presidente Lula desprezou completamente o rol de propostas aprovadas pelo IV Congresso do PT, em linha radical assustadora, exatamente para que possa manter uma empatia sólida com essa classe C que ajudou a construir, porque, como diz Lamounier, ela não tem um único dono e percebe o que se passa a sua volta.

   Se Lula/Dilma atuam nessa direção, cativando-a, quanto mais o fizerem melhor para a campanha do PT. Se cometerem erros e assustarem esse contingente enorme da população se prejudicarão. Outra coisa, essa Classe C não se ilude com discursos do tipo foi eu que fiz, eu melhorei, e pronto. Tem que ter argumentos e a estabilidade econômica (destaque no discurso de Dilma) é o essencial.

   Em certo sentido, muita coisa do que está dito acima sobre o Brasil, vale para a campanha da Bahia. Wagner, Souto e Geddel têm que estar atentos a esse novo fenômeno social, importantíssimo na política brasileira.