Colunistas / Política
Tasso Franco

O ESTÁDIO DE PITUAÇU E A DEMOCRACIA

As diferenças entre posturas de Wagner x ACM e a bandeira da democracia
01/02/2009 às 02:03

Foto: Foto: Agecom
O governador Wagner e o ex-governador Roberto Santos na re-inauguração de Pituaçu
 
            Ouvi de alguns deputados na Assembléia Legislativa e em programas esportivos de emissoras de rádio uma frase que remete ao período em que o ex-governador e ex-senador ACM comandou a política na Bahia, dando conta de que, "se fosse na época de ACM" essa postura dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, misturado com atuação Ibama e até da Secretaria do Meio Ambiente do governo estadual querendo interditar uma obra a ser inaugurada, tudo isso não seria levado em conta e o político baiano mandaria todos às favas e inaguraria o estádio "na marra". E mais, faria um escarcéu, mandaria promotores e juizes plantarem batatas e ainda faturava no marketing político "como um político retado".


            Vai, evidentemente, uma diferença enorme entre o comportamento político de ACM e do governador Jaques Wagner, o primeiro formatado no poder graças as benesses do regime militar que se implantou no Brasil a partir de 1964 e perdurou até 1984, e o segundo na luta sindicalista no Pólo Petroquímico de Camaçari, nos anos 1970, e depois no Patrido dos Trabalhadores, a partir de 1982. São vivências diferenciadas e os comparativos ensaiados pelos deputados e radialistas não se equivalem para definir atitudes em relação a Pituaçu e as querelas jurídicas e ambientalistas.


            Um princípio que Wagner tem adotado desde que assumiu o governo do Estado, e vale também para os momentos no Ministério de Lula e na Câmara Federal, quando foi ministro e deputado, respectivamente, diz respeito a sua atitude democrática. Esta é uma bandeira que empunha com determinação de um monge e não se afastará dela, mesmo que seus adversários o provoque, com analogismo em relação a ACM e nas cascas de banana que o PMDB tem colocado no seu caminho, num rompimento político que já existe desde o segundo turno da campanha municipal em Salvador, mas, permite a convivência dos contrários sem que um ou o outro, digo Wagner e Geddel, anunciem isso de público como de fato e de direito.


            Wagner jamais se ingualaria a uma provável atitude de ACM, se governador e vivo fosse de abrir Pituaçu na "tora" para a alegria do povo, porque, se assim agisse estaria jogando na Lagoa de Pituaçu o seu princípio básico que é a bandeira democrática. Ademais, se gesto dessa natureza combinaria com ACM, dado ao perfil autoritário que cultivou aliado ao reconhecimento do povo, pois, em parte, tudo nele era consentido, com Wagner seria esdrúxulo e completamente extemporâneo. O atual governador foi duro com o MPF e MPF, porém, acercou-se de sua Procuradoria Jurídica, em Salvador e Brasília, para manter o jogo Bahia x Ipitanga.


            O que causa espécie na atitude de grupos ambientalistas, do IBAMA, Secretaria do Meio Ambiente, MPF e MPE é que o Estádio de Pituaçu foi construído originalmente no governo Roberto Santos, em 1978, quando o entorno da Avenida Luis Viana era praticamente virgem. E, durante esses 30 anos, não me recordo de movimentos condenando a obra no plano de agressão ao meio ambiente, assim como a ocupação das Malvinas, na década de 1980, trazendo enormes problemas ambientes numa enorme área. Sobre isso, ninguém dá um pio. A área do atual Bairro da Paz foi depenada por milhares de pessoas e os ambientalistas nada disseram.


            Também surpreende a pretensão desses órgãos de prováveis defesas dos cidadãos interferindo nas gestões municipal e estadual, determinando isso e aqui, exigindo assinaturas de Termos de Ajustes de Condutas - TAC - e uma série de determinações que não tem o menor cabimento, até porque prefeito e governador foram eleitos pela vontade popular, pelo voto direto na urna, e em qualquer cidade do mundo, a expansão urbana acontece dessa forma. Quem quiser criar cotias e preservar espaços da Mata Atlântica tem que morar no interior, em fazendas.  Tomar leite in-natura da vaquinha Mococa e ouvir o coaxar de gias nas lagoas. Em sendo assim, já que juizes e promotores querem dar pitaco em tudo, seria interessante que houvesse eleições diretas para esses cargos nos Ministérios Públicos e no Tribunal de Justiça.


            Nos próximo dias teremos as eleições nas Mesas Diretoras da Câmara de Vereadores e da Assembléia Legislativa. Em todas, o governador tem confidenciado a interlocutor que continuará empunhando o príncípio democrático, e até sua assessoria de imprensa postou com sabedoria que sua visita a Jequié teve esse viés, ao conduzir no mesmo barco de Xangô os contrários Roberto Brito, Issac Cunha, Leur Lomanto Jr e Luis Amaral.

            Dai que, nem os MPs; nem o PMDB vai desviar essa conduta do governador, no último caso para que não aconteça o ocorrido na campanha de João Henrique quando Walter Pinheiro e o PT foram tratados como traidores. O PMDB pode provocar, lançar novas cascas de banana, arreliar a candidatura Marcelo Nilo, PSDB, à reeleição da ALBA, disputar a eleição da UPB como provável vencedor, nada disse alterará o princípio da atitude democrática do governador, uma espécie de dogma visando 2010 e seu futuro político.


            No momento em que derrapar nesse item, e Pituaçu e a eleição na ALBA têm sido testes imporantes nesse processo, se igularia a ACM e aos demais de perfil autoritário. Wagner quer chegar em 2010 com essa bandeira imaculada e pronta para desfraldá-la diante dos seus adversários, seja quais forem. É um diferencial que usou em 2006, com extraordinário sucesso, e vai mantê-lo, em 2010.


            A diferença é que, agora, também exerce a função governador, de administador do Estado. E, neste caso, precisa mostrar mais serviço.