Colunistas / Política
Tasso Franco

O FENÔMENO OBAMA E SALVADOR

Barack Obama pode ser eleito presidente dos Estados Unidos
25/02/2008 às 08:12


            A eleição para presidente da República dos Estados Unidos desperta a atenção de todo mundo e tem uma visibilidade de mídia impressionante. Nessa vitrine estão em disputa os senadores Barack Obama e Hillary Clinton, pelo Partido Democrata, e praticamente confirmado o nome de John McCain, do Republicano, apoiado pelo presidente George W. Bush.


            O que há de novo e diferente do contexto em outras eleições norte-americanas e sua relação com Salvador é o fato de que Barack Obama é negro e vem surpreendendo a senadora Hillary, no momento Obama à frente entre os convencionais democratas, podendo se tornar presidente dos Estados Unidos. As pesquisas apontam que se Barack enfrentar McCain ele será o vencedor.


            O fato de um negro alcançar a presidência do país mais poderoso e rico do mundo não mudará, substancialmente, sua política externa nem vai modificar o panorama do continente africano, uma vez que, independente da etnia do presidente, os Estados Unidos têm a política de primeiro ele, segundo ele, e terceiro ele. É um império e isso não mudará com Obama, embora, poderão ser implantados alguns programas e projetos que beneficiem a comunidade negra no mundo.


            Salvador, como se sabe, tem duas minorias: os negros (14%) e os brancos (16%) e uma maioria mestiça (70%) constituída da formatação indo-euro-afro-descendente com matrilínea predominante afro. Ou seja, o mestiço baiano tende mais para o negro do que para o tupinambá ou para o branco. Se o leitor atravessar a Baía de Todos os Santos e for a Ilha de Itaparica, por exemplo, vai encontrar na ilha um mestiço com matrilínea tupinambá. Ou seja, mais puxado aos nativos originais da Bahia (tez acobreada, cabelo liso, pouca barba) os indígenas.


            Somando-se, pois, os negros (14%) com os mestiços (70%), a população de Salvador, majoritariamente, tem predominância afro-descendente (84%). Essa história de que Salvador é uma cidade negra tem sentido apenas metafórico. Os números do IBGE são estes aí acima. Analisando-se por essa ótica, salvo os nomes de Edvaldo Brito (PTB) já oficializado candidato, Olívia Santana (PCdoB) e do secretário Luis Alberto (PT), estes últimos pré-candidatos a prefeito de Salvador, a relação percentual entre os candidatos negros e a cidade, além de desproporcional, não guarda possibilidade de empolgar o eleitorado, como está acontecendo com Obama, nos Estados Unidos, nem há um sentimento de mobilização e vitória.


            O caso mais emblemático, salvo Edvaldo Brito que chegou à condição de prefeito por nomeação dos militares de 1964, é do secretário e deputado federal Luis Alberto (PT), negro que tem uma expressiva votação desse segmento populacional da cidade, porém, não consegue emplacar o seu nome na disputa interna do seu partido. Luis Alberto, se o PT tivesse algum bom sendo nessa direção e abandonasse as questões ideológicas internas, poderia ser o Obama de Salvador.


            O momento nunca teve tão oportuno. Obama está vencendo Hillary com as minorias e uma população afro-descendente e mestiça norte-americana e uma parcela significativa dos brancos que deseja uma mudança de atitude no país e viu no senador negão, a figura representativa desse emblema. É claro que Obama ainda não venceu Hillary e terá no próximo dia 3, em Vermont, Rhode Island e Texas uma prova de foto. Se passar nesses Estados certamente consolidará o seu nome elevando sua exposição de mídia, nos Estados Unidos e em todo mundo, a níveis estratosféricos.


            Uma candidatura de Luis Alberto (PT) com Olívia Santana (PCdoB) na vice, se bem trabalhada no marketing como foi a chapa Rosa Choque (neste caso, fora da etnia, mas voltada contra ACM) para o governo do Estado, em 1990 (Lídice, Salete e Beth) daria um trabalho enorme aos adversários, porque além de poder apresentar um projeto para a cidade via PT, como sempre argüi e defende o deputado Nelson Pelegrino, tem esse componente étnica, sempre falado e até indevidamente citada pelos políticos nas formas mais variadas, muitas das quais sem argumentos científicos como é o caso de se dizer que Salvador é a segunda cidade negra do mundo e outras bobagens, deveria ser testado na vontade popular, nas urnas.


            E o fenômeno Obama, com certeza, daria uma ajuda substancial nessa direção desde que o senador emplaque sua candidatura nos Estados Unidos pelo Partido Democrata. Há, inclusive, uma coincidência, uma vez que a eleição em Salvador será em outubro e nos Estados Unidos no início de novembro. Daí que haverá uma massificação enorme da mídia em relação a Obama.


             A cidade gostaria de ter um projeto nessa direção, de afirmação da negritude, não da forma que hoje se apresenta só tocando tambor e fazendo folclore, em sua maioria, mas, no sentido de mudar esse perfil na economia, na saúde, na educação, com um projeto vigoroso e diferenciado?


            Essa é a questão que se põe em debate e a forma como seria apresentado esse projeto à sociedade. Um ponto é pacífico, certo e consensual. Uma das pernas para que essa transformação aconteça só se dará via educação melhorando a qualidade do ensino nos três níveis - fundamental, médio e superior. E, por enquanto, não há sinais evidentes de que isso esteja acontecendo, daí que a organização social vai continuar por longos anos nesse mesmo diapasão em que se encontra.


           Um projeto para cidade mestiça e negra (84% da população) se bem apresentado, sem esse papo furado de racismo e auto-estima, mas calcado na base de qualquer sociedade, o bem estar, a educação, o desenvolvimento, a melhor qualidade de vida, pode dar o que falar. A questão, no caso de Luis Alberto, o único que teria possibilidade de ter uma candidatura competitiva, esbarra na ideologia interna do PT.