O meio político está querendo explicações sobre a ausência de Wagner no São Francisco
Causou muita estranheza no meio político o fato do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, não contar com a presença do governador Jaques Wagner (PT), na sua viagem pelas cidades ribeirinhas do Rio São Francisco, objeto de reconhecimento das localidades e sua população, perspectiva de obras de revitalização em algumas áreas, e dar início a transposição das águas do São Francisco para atender populações do Nordeste brasileiro.
Mais expectativa se criou ainda em torno desse momento, querendo-se saber até onde vai o relacionamento Geddel/Wagner; e vice-versa, sobretudo pelo fato de Geddel ter sido recebido pelo governador mineiro Aécio Neves (PSDB) e contar com a presença do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em Cabrobó, no canteiro de obras.
A resposta dada à imprensa pelo governador baiano às críticas feitas pelo líder da minoria da Assembléia Legislativa, deputado Gildásio Penedo (DEM), sobre esse questionamento, que considerou "omissão", e também sobre porque os deputados do PT não registram os investimentos carreados para o Estado (R$130 milhões) pelo ministro Geddel, aduzindo que fora um problema de agenda diante de viagem a Europa, não se sustenta.
Ora, segundo o governador disse nas emissoras de rádio e TV na última-quinta feira, 14, véspera da Assembléia dos Professores da Rede Estadual de Ensino de 2º grau, portanto, um outro momento delicado para o governo, era de que iria a Portugal, tratar de aspectos técnicos para construção de um estádio de futebol visando a Copa de 2014; e a Espanha, verificar atividades da indústria pesqueira.
Obviamente, assuntos que permitiriam adiamento da viagem ao Velho Mundo uma vez que, ambos os temas, ainda que relevantes, poderiam ser tratados numa outra oportunidade. Ademais, além da viagem de Geddel, significar o lançamento da maior obra do governo do presidente Lula da Silva, o Estado enfrenta duas greves (professores da rede do 2º grau e universitários) e um caos na saúde nos hospitais de emergência, inclusive com ameaça de interdição do Clérinston Andrade, pelo Ministério Público Estadual.
Acrescente a todos esses momentos de natureza político/administrativa, a filiação do prefeito João Henrique (PDT), ao PMDB, nesta segunda-feira, 18, justamente o partido de Geddel.
Ora, o ministro havia dito à imprensa que não faria qualquer lance político na Bahia sem comunicar ao governador Wagner. Pelo exposto, certamente, não se esqueceu de falar sobre a filiação do prefeito.
Para criar mais celeuma em torno desses encontros/desencontros, na edição de A Tarde, deste domingo, 16, o PMDB publicou um anúncio/convite à filiação de João Henrique abordando a parceria do Ministério da Integração com "o presidente Lula e o prefeito", deixando de lado o governador Wagner.
Teria sido proposital? Teria sido uma resposta de Geddel a "omissão" dita por Gildásio Penedo a ausência de Wagner na viagem ao Rio São Francisco?
Esse tipo de questionamento nunca se sabe. Até porque, no meio político, há um intricado mecanismo de defesa/ataque, simulação/dissimulação, não perceptível aos mortais comuns.
Uma coisa é certa: isso não é normal. Nem em política; nem muito menos em gestão administrativa.
No momento em que Geddel faz uma peregrinação por municípios do São Francisco, além da transposição, faz política; e no momento em que anuncia a filiação do prefeito e "melhoria qualidade de vida da população de Salvador" faz também política.
E o mundo da política requer apetite, requer ousadia, requer afirmação de liderança. E é exatamente isso que Geddel está fazendo enquanto o governador se encontra nas terras de Camões e do apóstolo Tiago.