Colunistas / Política
Tasso Franco

PROFESSORES GUERREIROS DA BAHIA

A greve dos professores já dura 33 dias
11/06/2007 às 09:22
   Os professores sempre foram os patinhos feios do governo. Isso é histórico, desde o tempo do Colégio dos Jesuítas implantado na Bahia no alvorecer de instalação do Governo Geral do Brasil, na época de Mem de Sá, seu terceiro governante, idos do segundo quartel de 1500.


   São centúrias de promessas e de tentativas de que, algum dia, a categoria terá ganhos à altura do seu desempenho, do seu valor. Faz parte dos anais da vida do Estado e, todas às vezes que um governante aproxima-se do poder, as tais perdas e humilhações sofridas ao longo do tempo são postas à luz de novas esperanças, quase sempre nunca concretizadas.


   É o que está acontecendo agora, no nível de segundo grau, para os professores da Rede Pública Estadual. Engajados num projeto político que parecia promissor, enfim, àquele que iria amenizar a situação desse segmento, apresentou-se, pois, no Poder, como outro qualquer governante, e isso provocou revolta, indignação e uma greve que se arrasta há 33 dias. A idade de Cristo.


   Para piorar a situação diante de um quadro que se requeria muito diálogo, o governo recorreu à Justiça, em direito legítimo, e obteve a bula da ilegalidade do movimento grevista com a adicional de que incorrerá ao Sindicato da categoria uma multa de R$20 mil/dia, caso os professores não retornem às salas de aula.


   Com isso, o governo colocou no seu colo uma bomba de alto teor explosivo, uma vez que os advogados do Sindicato interpuseram um agravo de instrumento, e os professores consideraram a medida como uma atitude irreconhecível e inaceitável do ponto de vista político por parte de um governo que, tem no topo do poder, um sindicalista de raiz.


   A tese hoje sustentada pelos professores, atualmente, é que o governador Jaques Wagner igualou-se a tantos outros que recorreram à mesma medida, perdendo, assim, a confiança da categoria, lançando sua biografia no rol das nulidades comuns e atirando às favas o discurso sindicalista do entendimento, do diálogo.


   Ademais, causou ainda mais indignação o fato do governo ter convocado uma liderança nacional da CUT para intermediar a questão, evitando a explosão da bomba, uma vez que em sendo ilegal a greve e o presidente do Sindicato, Rui Oliveira, descumprindo uma determinação judicial poderia ser preso.


   Está aí, pois; caso Rui seja posto na cadeia, a maior das gravidades, a denotação da bomba com estilhaços que se espalhariam por Ondina e adjacências, causando perdas irreparáveis no governo Wagner e até em seu futuro político. É uma situação tão inimaginável, mas, plausível, que o governo colocou em marcha um plano de provável entendimento com o secretário Rui Costa, à frente, independente da Mesa Permanente de Negociação.


   A ninguém interessa uma situação de maior gravidade e tensão, mas, já que o assunto foi posto no plano do Poder Judiciário, mesmo que o governo não queira a prisão do sindicalista Rui, como já dito pelo secretário Costa, ninguém sabe ao certo o que acontecerá, uma vez que a categoria está mobilizadíssima e aguerrida, como não se via há anos, e o governo já disse que só negocia com o fim da greve.


   Se o governo não cede um milímetro na tabela de reajuste já aprovada pela Assembléia Legislativa e os professores também não arredam pé de sua posições, a tendência é de continuidade do movimento, salvo se acontecerem medidas mais radicais ou se o selo do entendimento prevalecer com avanços à categoria, sobretudo no diz respeito aos interstícios, ao não achatamento salarial entre os níveis.


  O Sindicato aguarda no início desta semana a resposta do seu apelo judicial e fará uma Assembléia Geral, amanhã, para decidir sobre os rumos do movimento. Até lá é provável que já se tenha costurado um entendimento. Parlamentares do PC do B, APLB/Sindicato, membros da CUT e representantes do governo estão trabalhando nessa direção.


  A propósito do PC do B, aqui lembrado porque Rui Oliveira pertence ao seu quadro político e foi candidato a deputado na última eleição, tradicionais figuras ligadas ao movimento estudantil como os deputados Javier Alfaia (estadual) e Alice Portugal (federal) têm se apresentado timidamente e deverão pagar o preço de ser governo.


  Não adiante falar do problema estudantil em São Paulo, com fez recentemente Alice, numa emissora de rádio em relação a ocupação da USP. Sua base é a Bahia e é aqui que tem que mostrar sua posição, honrar as suas tradicionais posições com a categoria dos professores.


  Essa é a questão. Situação grave, delicada, tudo que Wagner não gostaria de enfrentar ainda mais no início do seu governo, na área mais importante que é a educação, o âmago de tudo.


  Mas, faz parte do jogo político, faz parte dos deveres de um governante. Cabe portanto, bom senso e entendimento. Sem isso, a bomba prestes a explodir em seu colo, o governador deveria avocar à si a responsabilidade da negociação e ocupar os espaços na mídia para que não venha a pagar um preço irreparável, adiante.


  Os professores estão cobertos de razão. Governo que deseja transformação, de todos nós (com diz seu slogan) tem que priorizar a educação. E educação é, sobretudo, valorização do professor.