Colunistas / Política
Tasso Franco

O PREFEITO JOÃO HENRIQUE NO PT

A sucessão à prefeito de Salvador já começou
22/04/2007 às 10:20
   O prefeito João Henrique promoveu um movimento na semana passada colocando no colo do governador Jacques Wagner (PT) seu destino político ao solicitar ingresso no PT, preferencialmente, ou no PMDB, em segunda instância, e trouxe preocupações em vários segmentos dos meios políticos da capital.

    Qualquer que seja a situação a ser abrigado haverá ganhos políticos para o prefeito, quer ingresse no PT ou no PMDB, pois, se tratam de siglas mais fortes do que o PDT, legenda por onde disputou e venceu o pleito, em 2004, ambas mais competitivas em 2008 do que na última eleição municipal. O PT é o partido do governador; o PMDB a legenda do ministro Geddel Vieira Lima, hoje, aliados.


     É exatamente ai que se configura, também, um ganho e uma perda para o prefeito, uma vez que um movimento dessa natureza envolvendo o PT requer discussões internas nessa legenda, como se sabe composta por correntes ideológicas diversas, partido que, ao vencer a eleição para governador se sente, mais do que nunca, em condições de ter um candidato próprio visando a eleição municipal de 2008, na capital.


     Historicamente, o candidato natural é o deputado Nelson Pelegrino, o qual, já tentou três vezes consecutivas a sua eleição e não conseguiu, porém, tal como o presidente Lula se sente habilitado, mais uma vez, a disputar a próxima eleição. Além dele, há o deputado federal Luis Alberto, hoje, numa secretaria de Estado, e o deputado federal Walter Pinheiro, coordenador da bancada e bom de votos.


      Daí que o ingresso de João Henrique no PT como candidato deste partido na eleição de 2008 não seja uma tarefa assim tão fácil. Há quem defenda essa postura, até porque o prefeito ao fazer a consulta à Wagner calçou-se de algumas pre-consultas internas na base aliada do PT hoje em sua administração, mas também existem aqueles que advogam o ingresso do prefeito desde que entre na fila da disputa interna do diretório municipal para a indicação do futuro candidato, hipótese que João Henrique não quer nem ouvir falar.


       Caso o prefeito ingresse no PMDB a situação será de uma imprevisibilidade ainda não posta em discussão, uma vez que, em tese, se daria o confronto entre PMDB x PT na disputa municipal, salvo se o PT aceitar a indicação do vice-prefeito; ou vice-versa. Ou seja, João Henrique (PMDB) candidato a prefeito e Nelson Pelegrino (PT), candidato a vice; ou o inverso. Hipóteses, ambas, em princípio, descartadas na medida em que o PT, hoje, tendo o controle do governo do Estado se aceitar uma alternativa dessa natureza passa a idéia de fragilidade e isso poderá provocar um efeito cascata em outros municípios.


       Para forças do PT essa é a hora do partido fazer o prefeito de Salvador: Mas, entre o pensamento desejoso e a realidade existem obstáculos, um candidato competitivo precisa ser trabalhado desde já com a ajuda do governador, pois, o cenário que se apresenta hoje deverá ser o mesmo de 2008, como pequenos ajustes, porém, completamente diferente de 2004.


       João Henrique não terá a parceria de primeira hora do PSDB, como aconteceu na última eleição, o PT está mais forte com a eleição de Jacques Wagner para governador, o PSB encontra-se mais competitivo com a performance de Lídice da Mata, na última eleição para deputada federal, o PCdoB também se encontra robustecido, e até o PSC do pastor Átila cresceu. Só quem perdeu força foi o PFL, hoje Democratas, mas, mesmo assim, esse partido ainda tem uma base eleitoral razoável na capital e manterá seus 10 a 15% dos votos, a depender do candidato.


      Há, ainda, um fator novo que é a candidatura do ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB), hoje, o líder das pesquisas de opinião. Imbassahy se tornará competitivo se conseguir ingressar no bloco das oposições conquistando apoios para um eventual segundo turno, e isso só o tempo permitirá dizer se ele terá sucesso ou não. Por enquanto toca a sua candidatura no PSDB, isoladamente, mas, conversa com os outros partidos e até com o governador Jacques Wagner, encontro já divulgado pela imprensa.


       João Henrique está desgastado, faz uma administração sofrível, mas, não está morto politicamente. Só faz isso. E sabe manejar os contrários de uma maneira impressionante, trafegando numa corda bamba, dando a impressão que vai cair, porém, mantendo-se firme em direção à sucessão com competitividade. Seu último movimento foi uma jogada extremamente hábil, tão inteligente que se tornou um exercício de análise dos seus competidores e mexeu na sensibilidade do PT, a ponto de estrelas coroadas defenderem o seu ingresso e candidatura como prioritária.


      Além disso, está no poder, é audacioso, pode ainda praticar medidas populistas até o pleito, controla parte da máquina administrativa e possui uma característica parecida com a do presidente Lula da Silva que blinda sua imagem diante de tantos problemas que enfrenta na sua administração, em especial, o crime envolvendo o servidor municipal da saúde, Neylton Souto. A rigor, analisando esse item, vê-se que o prefeito faz de conta que não é com ele, que o crime não aconteceu numa secretaria do município em sua gestão. E o desgaste passa ao largo.


      Quanto ao PDT esse partido não ficará órfão. Tem história, a sigla é leve, admirada pelos trabalhistas e o deputado federal Marcos Medrado, que foi vice-prefeito na duas gestões Imbassahy (1997/2004) deverá se apresentar como candidato. Natural que isso aconteça, uma vez que Medrado sempre sonhou em ser prefeito de Salvador. Evidente que terá um longo caminho a percorrer, mas, em sendo político pisará firme na estrada visando 2008.


       O jogo da sucessão na capital já começou. Ninguém se iluda. A fase de aquecimento já passou e os atores estão organizando suas estratégias, cada qual, à sua maneira. Mas, por enquanto, quem manobra as peças com movimentos surpreendentes é o prefeito João Henrique. E, como se trata de um ser político, toda atenção aos seus lances merece cuidados especiais.