A Polícia apresentou à sociedade conclusões que a imprensa classificou como incompetente.
A imagem da Polícia baiana saiu manchada no episódio envolvendo o crime que vitimou o servidor municipal da Secretaria de Saúde, Neylton Souto, em 6 de janeiro último, o subseqüente inquérito policial, conclusões e sua divulgação.
Assunto de tamanha importância, até porque o crime teria duas mandantes de alto coturno, uma subsecretaria militante da causa sindical médica e uma consultora indicada pelo Ministério da Saúde por recomendação do atual secretário de Estado, Jorge Solla, caberia ao delegado chefe, João Laranjeiras, como já havia ocorrido no final de fevereiro, presidir a roda de imprensa e assumir a responsabilidade pela divulgação das conclusões do inquérito.
O encontro com os jovens delegados, à frente Arthur Gallas, diretor do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio, resultou num show de incompetência - conforme já amplamanete divulgado pela imprensa - e além de ter frustado as expectativas da sociedade, pôs a Polícia na berlinda como uma instituição incompetente.
Ora, em se tratando de um novo governo, e o governador Jacques Wagner (PT) afirmou em sua mensagem lida na abertura dos trabalhos da 16ª legislatura da Assembléia que dará ênfase a um novo modelo de gestão com ênfase na justiça e nos direitos humanos, estranhou-se esse comportamento da Polícia, primeiro em promover as investigações observando-se o segredo de justiça; segundo em concluir um inquérito repleto de contradições.
Seria improvável que o juiz da 1ª Vara do Crime, Cássio Miranda, tenha solicitado a prisão temporária da subsecretária Aglaé Souza e da consultora Tânia Pedroso, no último dia 9 de fevereiro, com base em suspeitas infundadas. Quem conhece Miranda sabe que se trata de um magistrado rigoroso, porém, extremamente cauteloso e firme quando toma uma decisão.
Do mesmo modo, o prefeito João Henrique, que às vezes age com dois pesos e duas medidas, casos do afastamento e execração do então secretário Arnando Lessa, da SESP; e compreensão política em relação ao secretário da Saúde, Luís Eugênio, não teria afastado Aglaé com sua exoneração. Óbvio que chegaram ao conhecimento tanto do juiz; quando do prefeito dados que comprovavam ou pelo menos suspeitas muito fortes do envolvimento das duas apontadas mandantes.
Tanto assim que elas foram presas e a própria polícia deixou claro na coletiva com a imprensa, segundo depoimento de Gallas, que elas planejavam fugir. Quando esse assunto chegou ao conhecimento da imprensa, logo após a prisão das duas mulheres, posteriormente, orientada por seus advogados, Tânia chegou a dizer que entragaria seu passaporte, dando a entender, assim, de que se tratava de uma pessoa sem vínculos com mando do crime e que não desajaria ausentar-se do país.
Liberadas por força de um habeas-corpus concedido pelo desembargador Mário Alberto Hirs, antes e posteriormente, houve uma movimentação política muito grande no sentido de proteger as duas envolvidas, os sindicatos e instituições médicas publicaram uma nota oficial em A Tarde defendendo a conduta que consideram irretocável de Aglaé e Tânia Pedroso esteve, mais uma vez, num gabinete coroado de representante do PT, para aconselhar-se.
Daí que não faltaram opiniões entre os políticos de que o crime tinha conotações políticas, que o prefeito João Henrique foi extremamemte condescendente com o titular da pasta da Saúde, Luís Eugênio, indicado na cota do segundo turno pelo deputado Nelson Pelegrino (PT), no final de 2004, e contextualizações davam conta de que Aglaé e Tânia são ex-militantes do PT e do PC do B e agiram sob essa inspiração.
Como afirmaram vereadores, deputados e senadores um crime à semelhança do que aconteceu em São Paulo, com o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), de Santo André, e que teve uma enorme repercussão nacional e internacional porque envolvia mandatários da República, em escalções superiores.
É claro que a imprensa nacional não deu o mesmo destaque ao crime de Neylton em relação a Celso Daniel porque, no caso baiano, ainda que se tratasse de um fato envolvendo suspeitas de manobras em altas somas de dinheiro que emanam do Ministério da Saúde, a vítima era um servidor do terceiro escalão de um governo municipal.
De toda sorte e ainda assim, como representa um ser humano, a Polícia na exposição à imprensa das conclusões do seu inquérito policial foi extremamente infeliz, ou propositadamente infeliz, ao destacar cenas em que se atribui envolvimento homossexual entre Neylton e o vigilante Jair, o que a família da vítima e outros, consideraram um álibi desrespeitoso.
A Polícia é parte componente da estrutura de poder do Governo do Estado. Há, ainda, tempo para reparações e conclusões mais objetivas, mais transparentes, ou como deseja o governador Jacques Wagner compatíveis com o seu novo modelo de administração, respeitando-se os direitos humanos e fazendo-se justiça.
Por enquanto, o governo está devendo esta satisfação á sociedade. Se mantiver essa postura até o assunto chegar ao Tribunal de Justiça, levará consigo esse carimbo de incompetência policial para o resto do mandato.