MIUDINHAS GLOBAIS:
1. Nanhum prefeito de Salvador nos últimos 35 anos fez seu sucessor político; nem nenhum governador ao longo desse período também influenciou o eleitorado a ponto de eleger o prefeito da capital. No caso dos presidentes da Reública a influencia foi zero. O eleitorado de Salvador tem uma maneira de votar na decisão da escolha do prefeito bem peculiar, própria, surpreendente até. Digo isso para mostrar aos nossos leitores que, em 2020, está se falando muito nas influências de ACM Neto (prefeito) e Rui Costa (governador), mas, pode dar uma zebra (deputado Isidório) e ninguém deve se surpreender com isso. Isidório, como sabemos, nem é de Neto; nem de Rui, embora esteja, em tese, vinculado a base ruista.
2. Vamos então a história para refrescar a memória dos nossos internautas. Após a redemocratização do Brasil, em 1984, voltaram as eleições diretas nas prefeituras das capitais que foram consideradas áreas de segurança nacional e entre 1964/1984 tiveream prefeitos nomeados pelos militares do Golpe de Estado, a chamada Revolução de 31 de março de 1964.
3. Governava a Bahia, João Durval Carneiro (1983/1986) eleito após a queda de um helicóptero que matou o então candidato de ACM (governador nomeado entre (1979/1982), Clériston Andrade. Era prefeito da capital, nomeado por ACM, Mário Kértesz (1979/1982) o qual insinuou que seria candidato a governador. Fazia uma boa gestão, inovadora, e resolveu concorrer com Clériston que também havia sido prefeito nomeado por ACM, 1972/1975, prefeito da capital e dirigia o Baneb, além de ser amigo pessoal do "velho".
4. ACM não gostou da atitude de MK e o demitiu da Prefeitura. Faltando 40 para o pleito, Clériston morreu e ACM que poderia ter indicado MK se não houvesse a briga, optou pelo deputado federal, João Durval, politico de Feira de Santana com bases no interior, eleito governador contra Roberto Santos, que fora governador nomeado pelos militares entre 1976/1979.
4. MK, popular, oxigenado com a briga de ACM, aproveitou a oportunidade e candidatou-se a prefeito pelo voto direto, em 1984, e venceu o pleito. Sem nomes para prefeito da capital, ACM deu um apoio camuflado a Marcelo Cordeiro e o maior adversário de MK, Jorge Hage, também não deu pro gasto. MK criou um slogan "Deixa o coração mandar" que foi avassalador, à semelhança do "a Bahia quer mudar", de Waldir Pires.
5. Na sucessão de João Durval. MK apoiou não de forma decisiva a influenciar no resultado do pleito, a Waldir Pires, eleito governador pelo PMDB, mesmo partido de MK. Waldir elegeu-se com o apoio dos "carlistas" (de ACM), Nilo Coelho, Rui Bacelar e Jutahy Magalhães, eleitos, vice governador e senadores, respectivamente. Foi a maior vitória da politica baiana até hoje com 1.500.000 votos de frente, isso em 1986. Proporcionalmente, hoje, essa frente seria de 3 milhões de votos.
6. Veio a eleição de 1988 para prefeito e MK tentou emplacar o nome de Gilberto Gil como seu sucessor. Gil era vereador e poeta. Seu nome esbarrou, entre outros, no governador Waldir Pires o qual o vetou. O empresário Pedro Irujo que havia entrado na política apoiando Waldir em 1986 e era proprietario do espólio dos Diarios Associados (Rádio Sociedade e TV Itapoan), viu a brecha e lançou o radialista Fernando José, o mais popular da cidade com o slogtan "Mata a Cobra e mostra o Pau". Resultado: Fernando José, que não era político, tornou-se prefeito.
7. Waldir comete o maior erro político de sua trajdetória e passa o governo para Nilo Coelho, PMDB, em 1989. ACM que sofrera derrota em 1986 renasce das cinzas, tal Fênix, e vence o pleito eleição direta em 1990, para governador. Veio então a eleição municipal de 1992 substituição de Fernando José, o qual, nos primeiros dois anos ainda se subordinou a Pedro Irujo e MK pulou fora do barco; e nos últimos dois anos se tornou independente graças a ação marketeira de Fernando Escariz, seu secretário de Imprensa. Terminou a gestão de forma melancólica.
8. A deputada Lidice da Mata que havia enfrentado ACM na campanha de 1990 com a chapa Rosa Choque - Lidice, Salete e Bete - cresceu aos olhos dos eleitores, se filiou ao PSDB de Mario Covas, candidatou-se a prefeita da capital pela centro-esquerda e venceu o pleito. ACM foi de Manoel Castro, dançou. Lidice foi a primeira mulher eleita prefeita de Salvador, mas, derrapou na gestão, em parte, perseguida pelo govermador ACM; e noutra parte porque esqueceu de fazer o dever de casa.
9. ACM, em 1994, sai candidatou a senador, pos Antonio Imbassahy como governador tampão e elegeu Paulo Souto, um técnico, seu sucessor. Em 1996, aproveitando o desgaste de Lidice lança Imbassahy prefeito e este vence o pleito contra Nelson Pelegrino na onda de ascensão do PT com as campanhas lulistas a presidente. Imbassahy vai governar de 1997/2004. Sua segunda eleição deveu-se mais a ele próprio, que fazia uma boa gestão, do que ao apoio do eleito governador César Borges, em 1998.
10. Dá-se a sucessão de Imbassahy, em 2004, e este, sem candidato próprio e forçado a apoiar o nome referendado por ACM, Cesar Borges, vê a ascensão do "zebrão" João Henrique a prefeito da capital. JH vai governar de 2005 a 2012, pois, foi reeleito graças a uma ação do PMDB com Geddel Vieira irrigando recursos federais para sua gestão. A essa altura, mesmo com Lula presidente desde 2003 o eleitor não deu a menor atenção aos candidatos lulistas em 2004 e 2008. Lembrando, ainda, que Jaques Wagner (PT) foi eleito governador da Bahia, em 2006. Influência de Wagner na eleição de Salvador, em 2008, zero.
11. Aconteceu a sucessão de JH, em 2012, e elege-se ACM Neto (DEM), Wagner (PT) já no segundo mandato. Neto venceu Walter Pinheiro e Lidice da Mata, em 2012; e venceu Alice Portugal (PCdoB) já apoiada pelo governador Rui Costa, em 2016. Chega-se, assim, a eleição de 2020, ACM Neto apoiando Bruno Reis, este sim, um candidato de coxia, do prefeito (anúncio oficial será dia 6 de janeiro) e Rui com vários candidatos de sua base, mas, dele mesmo, do seu partido, o PT, até agora não saiu um nome.
12. O desafio é este quebrar a regra que vem de 1984 de nenhum prefeito fazer o sucessor; e nenhum governador eleger (ou ajudar a eleger) um prefeito da capital.
*** Em tempo: Nesses 35 anos participei de várias campanhas políticas como assessor de imprensa ligada ao marketing político e também como consultor. Em 1984, atuei na campanha de Marcelo Cordeiro; em 1986, na campanha de Waldir Pires: em 1990, na campanha de Luis Pedro, governador; e, 1992, na campanha de Pedro Irujo, prefeito: em 1994, na campanha de Paulo Soto, governador; em 1998, na campanha de César Borges, governador; em 1996, na campanha de Imbassahy prefeito onde fui secretario de imprensa da PMS por 8 anos, 1997/2004. Depois fiz campanhas em MG, Espírito Santos e Tocantins. Em 2006 montei o Bahia Já onde estou até hoje e eventualmente faço consultorias.