Vivemos num mundo diferente, permanentemente vigilantes e sobressaltados com a questão da violência urbana
MIUDINHAS GLOBAIS:
1. Como é viver numa cidade cidade onde não há assaltos a mão armada aos passageiros de ônibus e do metrô, não de roubam veiculos nas ruas, não se arrombam lojas, não há homicidios nem chacinas nos bairros, anda-se nas ruas de dia e de noite sem ser importunados e existe um respeito enorme pelas pessoas idosas?
2. Bem, em Valencia, na Espanha, isso é possível. E como não estou acostumado a essa cultura, pois, resido na capital mais violenta do país onde mortes mais absurdas como a dos 4 jovens taxistas de aplicativos executados a facãozadas, sem que houvesse um clamor, como se fosse algo normal, sente-se essa diferença na pele.
3. Claro, com meu ranço baiano de proteção pessoal onde saimos de casa sem saber de voltamos vivos, ainda uso aquele porta cédulas que se prende na barriga, fico a cada instante conferindo se alguém não levou minha carteira no metrô nas filas e no burburinho de gente no centro desta cdade de Valencia, achando que vou ser roubado, que devo ter cuidado com a bolsa e a corrente de prata no pescoço, a aliança de ouro no dedo, essas precatórias que temos ao sair de casa em Salvador.
4. Felizmente, os valencianos já superaram esse temor há muitos anos, vive-se em paz, o respeito ao próximo é inalienável e anda-se nas ruas sem sobressaltos.
5. Valencia, evidente, tem seus problemas que não são poucos, a imigração de estrangeiros da África e de parte da Ásia em conflito, mendigos nas ruas, moradores de rua vivendo em alguns parques, o drama da chegada das novas tecnologias que tem ceifado empregos, mas, esse trauma da violência urbana que enfrentamos no dia-a-dia de Salvador não existe.
6. Eu mesmo moro no Morro do Gato, área da Barra considerado chique, mas, só posso sair de casa à noite de carro. Se descer as ladeiras dos dois lados, rumo a Ondina; ou ao Chame-Chame, depois das 22h, ou até antes, sou assaltado. Mesmo de tênis e bermuda para fazer um cooper não escaparei. Até porque, em nossa rua, a Amilcar Falcão, quase deserta, várias pessoas já foram assaltadas ao chegarem em casa.
7. Meu filho Tassinho mora em Moncada, uma cidade da Região Metropolitana de Valencia, 20 minutos para o centro da cidade sede da RM de metrô, e sua casa dista 500 metros da estação Seminari do metrô e podemose chegar, como já chegamos, a meia noite, a 1 hora da manhã, a hora que for e não há assaltos.
8. E quem quiser percorrer as ruas do bairro medieval de El Carmen, no casco antigo de Valencia, ruas estreiras e algumas delas escuras, podem fazê-lo a qualquer hora da npite. Ou no Boniferi; ou na Russafa que são dois outros bairros "cool".
9. Por que, então, não conseguimos fazer isso na cidade do Salvador, andar pela rua do Saldanha ou pela Laranjeiras, no Pelourinho, na madrugada?
10. Questão muito dificil de ser respondida pois envolve uma série de fatores, entre eles, o principal, a educação. Infelizmente, a Bahia continua com a pior educação básica do país; Salvador melhorou um pouco na fundamental, mas, o nó górdico começa aí: a falta de uma boa educação de base para todos, universal. Outros fatores são estruturais e veem desde a colonização portuguesa, ainda hoje, insanáveis.
11. Com tentar sair desse buraco? Não se tem uma solução mínima à vista. Não há um programa estruturante forte e a permissidade em nome de um tal liberdade de ir e vir impede muitos avanços.
12. Um exemplo: em Valencia, os bares e restaurantes só funcionam até meia noite. Nos finais de semana podem ir até 1h. Fora daí, se v quiser ouvir uma música ou ir a um local mais animado tem que procurar um club, uma discoteca. O metro só funciona até meia noite com exceções para datas festivas. Todo mundo respeita. Dá meia noite, os restaurantes fecham. Se v estiver dentro apresse para comer sua refeição senão ninguém lhe serve mais. Está na lei, na ordem.
13. Em Salvador, o funcionamento de bares e restaurantes, etc, etc, varam a madrugada. Nas praias, nas esquinas, nos bairros, nos batuques, uma desordem geral, mas, ninguém mexe porque se mexer levantam-se vozes politicas e outros dizendo que é cercear a liberdade. É nas madrugadas que acontecem os maiores crimes da cidade especialmente nos finais de semana, nos bairros,
14. As multas em Valencia são durríssimas. Uma invasão de sinal no trânsito custa 200 euros (R$900,00) e quando v pisa numa faixa de pedestres o veiculo tem que parar. Se v for pego usando o metrô sem pagar custa a passagem 1.1 euros (5 reais) paga uma multa de 100 euros (470 reais).
15. E observem: não há guardas de trânsto nas ruas. A Transalvador inexiste. Tudo é automatizado, computadorizado. Ninguém escapa. E 99.9% da população obedece o que está escrito nas leis. Em Salvador, um camarada põe de uma barraca de chapa na sua rua, coloca mesas e cadeiras, faz um pagode todo final de semana e nada acontece.
16. Recentemente, o cronista Jolivaldo Ffreitas, escreveu aqui neste Bahia Já que a Igreja de Nossa Senhora da Vitória promoveu uma Feira da Fraternidade no bairro da Graça com shows até a madrugada, som altissimo, o que impediu que moradores da redondeza tivessem seus sossegos alterados e nada aconteceu. Reclamar de Sucom, Procom e outros órgãos é perder tempo. Fosse em Valencia o padre estaria arriscador a ir para a ccustódia.
17. É isso. Vivemos num outro mundo e quando se passa algum tempo numa cidade com civilidade, respeito as pessoas, acha-se estranho. É sair do inferno e ir para o céu. E, em breve voltar para o inferno. (TF)