Há muitos anos não se assistia uma euforia dessa natureza no país patrocinada pelo futebol, sem a política no meio
1. O Flamengo ao vencer a Libertadores das Américas recolocou o Brasil no título de "o país do futebol". Já foi chamado assim no tempo da euforia das Copas do Mundo quando chegou a conquistar o penta. Nas duas últimas décadas tinha diminuido esta paixão com os sucessivos fracassos da seleção e a falta de um titulo e um clube, a exemplo do Real Madrid ou do Bayern de Munique, que empolgasse o torcedor. E o Flamengo neste final de 2019 conseguiu essa façanha com uma euforia que há muitos anos não se via. A ponto de ter mortes, por emoção, tumultos, gente viajando 210 horas de ônibus para ver uma partida de futebol, entre ida e volta ao Peru.
2. O que vimos nesses últimos dias pela televisão com torcedores enfrentando todos os obstáculos possíveis para chegar a Lima, capital do Peru, de trem, a pé, de ônibus, de avião, de carro, a ocupação da cidade andina com bandeiras e camisas rubronegras; e hoje, a chegada da delegação vitoriosa ao Rio e o desfile pelo centro da cidade, nem na copa do penta assistiu-se essa euforia. A última Copa da Rússia, salvo o cenário belíssimo da cidade de Moscou, o torcedor brasileiro parecia um "chinês" em matéria de amor a canarinho e ao futebol.
3. O amor ao Flamengo não se restringe ao Rio de Janeiro. Imagens mostraram São Paulo, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e outras capitais com estádios e outros locais lotados de torcedores para assistir uma partida de futebol por telões com os jogadores do Flamengo distantes milhares de quilômetros. E, para alegria dessas pessoas, o Flamengo venceu no apagar das luzes, bem como o torcedor gosta, numa virada de placar espetacular, dessas que a crônica esportiva chama de "inacreditável futebol clube".
4. E o inacreditável aconteceu: dois gols em 3 minutos faltando 5 minutos para terminar a partida vencendo o atual campeão das Américas, time de grande tradição, o River Plate da Argentina. Uma conquista para um bi das Américas que demorou 38 anos desde o primeiro título com a geração de Zico e Adílio, agora com Gabigol, Felipe Luis, Diego Alves, Rafinha e Bruno Henrique, e outros, e mais um técnico que parece um bruxo de outro planeta, um português com nome abençoado de Jesus e que ganhou o epíteto de "Mister" para toda a sua vida e história do futebol.
5. Há aqueles que certamente hão de criticar entendendo que o povo precisa de educação e saúde e não de futebol embora uma coisa não tenha nada com a outra, até porque, registre-se, a conquista do Flamengo está desligada do mundo da política, hoje, no país, radicalizada diante da vitória de Jair Bolsonaro e de um campo adversário que não se conforma com a derrota até os dias atuais. Deveria este campo adversário fazer como a direção do River que, em momento de altivez, de grandeza esportiva, parabenisou o Flamengo, resgaurdando o direito de também defender os seus atletas.
6. Salvo a rídícula atitude do governador do Rio de janeiro que se ajoelhou aos pés de Gabigol e merecidamente foi menosprezado pelo atleta, um político que até já se lançou pré-candidato a presidência da República, de uma forma geral, os políticos brasis se comportaram de maneira discreta, Bolsonaro obviamente torcendo pelo Flamengo como 99% dos brasis, mas, sem cometer impropriedades. A festa, creio que entenderam, é do povo e para o povo, gerada por um time de futebol. E só.
7. Digo do povo na forma de expressão geral porque o Flamengo, time de massa do Rio, do povão, abriga todo tipo de torcedor: do milionário capaz de sair de Fortaleza, voar para o Rio; do Rio para São Paulo, depois Foz de Iguaçu e Lima com 34 horas de vôo e reserva num hotel 5 estrelas de MiraFlores o bairro mais chic da capital peruana; e do porteiro do prédio que ainda assiste o jogo ouvindo por um rádio de pilha e vestindo a camisa rubro-negra no trabalho.
8. Viva o Flamengo e (com licença de João Ubaldo Ribeiro) Viva o Povo Brasileiro. Se a política não dá alegria ao povo, a cada dia com mais trapalhadas no Congresso e nas Assembleias e Câmaras de Vereadores, com um judiciário que abre a porteira ao colarinho branco, agora, na Bahia, até o presidente do TJ foi suspenso do cargo por 90 dias e uma desembargadora tem 57 contas bancárias, suspeitos estão pelo CNJ de praticarem possíveis vendas de sentenças, vamos louvar o futebol, amar o futebol, um esporte supreendente, e que só ele é capaz dessa emoção como a que o Flamengo nos oferece.