Colunistas / Miudinhas
Tasso Franco

ARTISTAS E ENTIDADES DESPEZARAM A OBRA DE JORGE AMADO, p TASSO FRANCO

A maioria dos blocos afro-baianos ignorou a temática amadiana no Carnaval
21/02/2012 às 21:00
MIUDINHAS GLOBAIS:

   1. A maioria dos artistas e das entidades carnavalescas desprezou o tema do Carnaval de Salvador, homenagem ao centenário do escritor Jorge Amado, salvo exceções. Evidente que ninguém estava obrigado (a) a seguir o tema, mas, em se tratando do maior escritor brasileiro e que tem sua obra baseada nos costumes, tradições, culinária, misticismo e outros atributos baianos era de se esperar que mais gente e blocos aprovietassem esse gancho para expor aspectos da obra amadiana.

  2. Quem melhor tratou desse tema foi a cantora Daniela Mercury com encenações de Dona Flor no trio elétrico e outras performances como Gabriela e mais um ou outro astro e estrela que se preocupou com isso, Margareth Menezes e Ivete Sangalo pouquissimo, e outros de grande visibilidade como Claudia Leitte, Aline Rosa, Bell Marques, Durval Lelys, Tomate, Parangolé desconheceram.

  3. O mais curioso é que os blocos afro-baianos também não deram atenção ao tema e olhe que Jorge é autor de Jubiabá, o primeiro romance que insere um negro de forma politicamente correta na literatura, e muitos dos seus trabalhos tendo como cenário a cidade do Salvador, especialmente o Centro Histórico, estão repletos de passagens da negritude, de sua força junto à população, e referências enormes ao povo de santo.

  4. Os blocos afro (a maioria absoluta) preferiram fazer exaltações a África e ao Oriente deixando escapar uma oportunidade impar de tratar da obra de Jorge Amado. No contexto geral seria até educativo para a população esse remake amadiano, visto com alguma intensidade no Carnaval do Pelourinho, mas, sem uma contextualização que prendesse a atenção do público.

  5. As empresas que são as grandes beneficiárias do Carnaval de Salvador e os camarotes ainda que só visem lucros teriam, no mínimo, a obrigação de fazer referências a obra de Jorge e o que se viu foram distribuições de muitos brindes mais evocativos dos seus produtos do que da literatura amadiana. Até a Petrobras, uma estatal que colocou R$8 milhões na folia falhou nesse sentido.

  6. No final, quem melhor fez a representação da obra de Jorge Amado foi a escola de samba Imperatriz Leolpodinense, Rio, que a tratou muito bem em suas alas, carros alegóricos e assim por diante. Não ví, pode ser que esteja enganado, nenhum trio com uma imagem de Jorge e Zélia sentados na casa do Rio Vermelho como o fez a Imperatriz, e muito menos algo voltado para os cenários baianos da obra de Jorge.

  7. E olhe que são muitos e bons. Paciência. Fica para seu bicentenário de nascimento daqui a 100 anos. O Carnaval de Salvador perdeu, portanto, a oportunidade de se despausterizar, de sair dessa mesmice de abadás, abadás e abadás e de blocos afros (salvo exceções) com as mesmas coreografias