Nova dança das cadeiras na Prefeitura de Salvador
As mudanças efetuadas pelo prefeito João Henrique (PMDB) em sua equipe de governo, substituindo três secretários candidatos a deputados, só surpreendeu pela antecipação dos fatos, ao que tudo indica, movidos para encobrir a repercussão negativa da exoneração de Antonio Lins, da Fundação Gregório de Mattos, em caso nebuloso e ainda a ser investigado, com o poeta, tal o "Boca do Inferno" barroco, soltando fogo pelas ventas. Com brasas espalhadas nas trilhas políticas jogaram-se baldes d'água na fervura. Quem conhece o estilo João, nada surpreende, quer por ter exonerado os seus auxiliares sem aviso e/ou solenidade da troca de gentilezas, o que seria louvável e civilizado; quer porque as desincompatibilizações poderiam ser até 3 de abril próximo, prazo estabelecido pelo TSE. Mas, João é assim mesmo, não se discute e cada qual tem seu modo próprio de agir. Aliás, aqueles que trabalham com o prefeito diretamente sabem disso, há um projeto político em curso, e ele estaria acima de quaisquer obstáculos.
Já aconteceu isso na Comunicação, na Saúde, Educação e outras pastas, em tempos idos, e o prefeito, que tem essa prerrogativa, direito especial inerente ao cargo, único e absoluto porque foi o eleito pela população, age novamente nessa direção sem mover disputas internas de ocupação de espaços no PMDB, o seu partido, e sem que tivesse melindrado, como alguém poderia imaginar, a pré-candidatura do ministro Geddel Vieira Lima. Nada. Há paz e os cavalos continuam sem cifres nas cabeças.
Ao que se analisa, os movimentos em torno de Sérgio Brito, ex-Planejamento; e Antonio Brito, ex-Ação Social, ambos candidatos a deputado federal, um à reeleição e o outro noviço, se situam no PSC e PTB, áreas de influência do prefeito e do vice-prefeito Edvaldo Brito. Quanto a Almir Melo, ex-Transporte e Infraestrutura, este sim, vinculado ao PMDB, não há choque com o projeto político do prefeito, porque se trata de um candidato a deputado estadual. Os dois primeiros sim. Um deles, inclusive, com uma Fundação, entrando em bases eleitorais assemelhadas, no terreiro do prefeito. O que desagradou e muito.
Ora, cabe também ao chefe do Executivo nomear pessoas de sua confiança e de suas relações políticas, o que praticou com esmero na nomeação dos substitutos a estas pastas - Liziane Guimarães, Euvaldo Jorge e Reinaldo Saback - com perfis técnico-administrativos adequados à base dos interesses do Município, agregando para si, objetivos comuns. A questão foi entendida e abraçada pelo PMDB como normal, sem arengas e visualizações de novas conquistas neste partido, e sim em outros sítios. E está absorvida.
O que a cidade quer saber, aí sim, é se essas mudanças obedecem a uma diretriz que visa melhorar a qualidade da administração pública, ou se apenas se enquadram dentro de um projeto político eleitoreiro, sem conseqüências práticas para a vida da população. O que temos visto na Prefeitura de Salvador nesses últimos cinco anos são danças nas cadeiras sem que a cidade usufrua esses benefícios. Já foram mais de 60 alterações, um recorde histórico.
Vamos ver se desta vez o prefeito acerta.