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O que podemos aprender com Elza Soares?, por NARA FRANCO

O rapper Rael fazia uma festa negra, com toques do forte rap paulistano, quando chamou Elza Soares para cantar "A carne", clássico da carreira da cantora
Nara Franco , Rio | 17/09/2017 às 10:15
Elza e os jovens no Rock in Rio
Foto: Fábio Tito
Se anontem  a drag queen Pabllo Vittar roubou a cena no Rock In Rio, a noite de ontem pertenceu a Elza Soares. Com 80 anos, a cantora se reinventa a cada apresentação com um contudente discurso politico em defesa dos negros e das mulheres. Arte é atemporal e muito menos monotemática. Elza tem a idade somada de muitas bandas, mas não chega com velhos hits. Traz para o palco temas atuais ao lado de jovens que certamemte têm idade para serem seus netos. 

O rapper Rael fazia uma festa negra, com toques do forte rap paulistano, quando chamou Elza Soares para cantar "A carne", clássico da carreira da cantora  que diz: "a carne mais barata do mercado é a carne negra".  No telão ao fundo, imagens de Elza como uma rainha africana. O discurso de Elza ganhou nova roupagem na boa banda de Rael, que ficou ao lado da cantora rendendo homenagens à diva para inserir versos de "Negro Dama", dos Racionais. 

Elza entrou no palco em seu trono (devido a problemas na coluna ela apresenta-se sentada) empurrada por oito homens fortíssimos, sendo 4 deles dançarinos. Delírio na platéia. Ao longo do show, os oito fizeram saudações com os punhos cerrados, imitando o gesto do movimento Panteras Negras, criados nos anos 60. Os Panteras Negras foram um grupo radical de combate à discriminação racial nos Estados Unidos. 

O ápice do show foi a introdução de "Maria da Vila Matilde". A cantora pediu gritos e o público devolveu em uníssono: "Fora Temer". A musica fala de violencia contra mulher, problema vivido por Elza em sua vida. Difícil mesmo é entender como uma "senhora" de 80 anos é a artista brasileira mais moderna e contemporânea do festival. Elza reúne tudo que o mundo de hoje requer: engamento, empoderamento e críticas ácidas. Sem julgar escolhas alheias, mas em certo ponto a arte tem que incomodar. Não apenas pelas novidades musicais, mas pelo conteúdo. 

Diz o refrão de "Maria da Vila Matilde": "Eu quero Ver / Você pular, você correr / Na frente dos vizinhos / Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim".  Não à tôa o álbum "A Mulher do Fim do Mundo" foi eleito o melhor do ano passado pela crítica especializada. Um soco no estômago. 

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