A primeira reação ao ouvir o som da Mukindala é, sem dúvida, dançar; a segunda é, inevitavelmente, concluir que o DNA musical da Bahia é próspero, inesgotável em sua capacidade criativa, abundante em matizes rítmicas, farto em batidas e levadas. Não à toa funciona como um caldeirão de onde surgem novos talentos e ritmos, não à toa ofereceu os elementos primordiais para o inventivo e inquieto Carlinhos Brown criar a Mukindala.
A banda chega aos palcos dando vida a diferentes linguagens rítmicas, com foco no parambandam, ritmo afiliado do merengue, instrumentalizado no bairro Candeal, local de nascimento e berço criativo de Carlinhos Brown. Na sua sonoridade, estão as típicas sanfona e tambora do merengue, somando-se a elas as batidas dos timbaus e elementos da bateria. Num hipotético resumo sensorial da banda, a Mukindala é um convite instintivo à dança.
O novo grupo percussivo afro-brasileiro traz na sua formação oito músicos e dois vocalistas, de performances divertidas e vozes potentes, Paula Sanffer e Rafa Chagas. A eles, na linha de frente, soma-se o percussionista Gato Preto, com seu instrumento tão curioso quanto original: a guitarra de tambor ou guitarra percussiva.
No repertório, composições de Carlinhos Brown feitas para a banda, como Tremula, Axé Nunca Cai, Ameaça - versão dele para composição de Luiz Kallaf - e Ponto de Atravessar, esta última uma parceria com Michael Sullivan, música de trabalho da Mukindala. “Há 30 anos a Axé Music levou a música da Bahia para o mundo, o mundo se apoderou dela e hoje ela não pode ser vista como regional. Queremos mostrar que, onde nasceu a Axé Music, tem muito mais. A Mukindala veio pra provar isso”, realça Brown.
Se para os ouvidos, a nova banda é um chamado irrecusável à dança; para os olhos, a provocação é interagir e se divertir. Dá pra se deixar arrebatar pelas coreografias e astral de Paula Sanffer; deliciar-se com a irreverência contagiante do jovem cantor e compositor Rafa Chagas, e ainda ser fisgado pela performance inusitada do músico Gato Preto, que toca um instrumento em formato de guitarra mas que reproduz sons de um tambor.
“Encontramos na Mukindala um espaço para grandes percussionistas, grandes músicos, percussionistas-guitarristas, percussionistas-tecladistas e, claro, grandes vozes. Ainda não sabemos qual será a trajetória da banda, mas o certo é que ela nasce de um compromisso de dar uma resposta ao projeto social da Pracatum, fomentar o campo profissional da música, escoar talentos e colaborar com o ser humano. Afinal, é preciso chamar atenção para o valor das organizações não-governamentais”, realça Carlinhos Brown.
Vitrine para novos e promissores talentos, a Mukindala também é veículo para escoar a própria efervescência criativa do seu inventor, que admite se sentir mais produtivo quando voltado para o coletivo. “Temos uma base cultural forte, que não apenas nos afirma, mas propõe coletividade, que é o que mais nós precisamos neste momento. Por isso digo que as pontes que Deus me deu e que por mim passam como criatividade, jamais serão muros, e a Mukindala é isso ai”, comemora.
QUEM É A MUKINDALA:
PAULA SANFFER - Finalista da última edição do The Voice Brasil no time de Carlinhos Brown, a baiana de Feira de Santana, Ana Paula dos Santos Ferreira, 37, começou a cantar quando tinha sete anos. Vinda de uma família evangélica e cheia de artistas, Paula Sanffer, como é conhecida, começou sua carreira na igreja onde a mãe congregava. Autodidata, Paula toca teclado, bateria e violão – este último com mais afinco, dada às inúmeras apresentações que a artista realizou em bares e em festas particulares com o instrumento durante a sua carreira solo. Na bagagem, também a experiência como backing vocal do cantor Tayrone e a gravação de dois álbuns gospel.
Mas é em 2016, justamente no momento em que Paula Sanffer comemora os seus 30 de relação com a música, que ela recebe o convite do seu técnico no reality show global para estar à frente de um novo projeto: a Mukindala.
RAFA CHAGAS - – O baiano Rafael Pereira Chagas da Silva, mais conhecido como Rafa Chagas, tem 21 anos, mas uma experiência de palco que explica a sua notável performance mesmo ainda tão jovem. Morador do Acupe de Brotas, em Salvador, o cantor começou sua trajetória artística ainda na infância com a banda Yeba Beats, dirigida pelo tio Magary Lord. Aos 16 anos, já liderava a sua segunda formação musical, o grupo Lactosamba, que marcou presença em grandes eventos da capital baiana como o Sarau du Brown e ensaios da Timbadala. Além de cantor, Rafa Chagas é compositor e tem diversos hits nas vozes de artistas como Bruno Cardoso (Sorriso Maroto), Léo Santana, Xandy (Harmonia do Samba) e Márcio Victor (Psirico). Agora à frente da Mukindala, ele ganha mais um espaço para escoar as suas criações e também para mostrar mais um de seus talentos, a dança, já que lidera as coreografias do grupo. Da black music ao semba, do merengue ao parambandam, Rafa Chagas improvisa passos que envolvem banda e público em uma perfeita interação.
GATO PRETO – Ele é rápido, talentoso e criativo. Não à toa recebeu o apelido de Gato Preto aos nove anos de idade, dada a sua habilidade com a Capoeira. Na música não é diferente. Aos 39 anos, Val Ferreira é o integrante mais velho da Banda Mukindala e leva para o grupo a experiência de quem tocou com Timbalada, Peu Meurray, Makael Mutti e com o mestre Carlinhos Brown.
Morador do Candeal Pequeno de Brotas, eleito um dos sete territórios criativos de Salvador, o percussionista Gato Preto completa a linha de frente da Mukindala apresentando o som de uma criação sua: a guitarra percussiva ou guitarra de tambor. Com um designer semelhante ao de uma guitarra, mas com teclado no lugar das cordas tradicionais, a guitarra percussiva foi criada por Gato Preto para adicionar frequências baixas ao ritmo merengue. Com o instrumento, o músico reproduz o som da guitarra, do tambor, do baixo e do surdo virado. Uma mistura que consegue chegar à sonoridade característica e única do parambandam.
MÚSICOS:
Rick Costa (timbau, congas e efeitos)
Erick Passos (tambora, timbau e efeitos)
Iran-Vampy (percuteria)
Jorge Bacurinha (bacurinha e efeitos)
Yuri Sá (contrabaixo)
Cassiopeya (teclado)
Jordi Amorim (guitarra)
Well Santana (guitarra)
Direção Musical: Carlinhos Brown
Produção musical: Jaguar Andrade