Filhos do Congo é um dos mais tradicionais afoxés da Bahia
ABC , Salvador |
03/02/2016 às 10:50
Filhos do Congo
Foto: DIV
Nelson Maleiro, um dos ícones do carnaval baiano, não
por acaso a passarela do Campo Grande leva o seu nome desde 2011, é o
homenageado do tradicional Afoxé Filhos do Congo que desfila pelas ruas de
salvador desde 1979. O afoxé é a terceira geração, herdeiro de duas entidades
que abrilhantaram a festa baiana num passado distante: o Congos d’África criado
na década de 1920 e de certo modo sucessor do grupo com o mesmo nome que
desfilava no final do século XIX, e os Filhos do Congo que saiu entre 1945 e
1949.
A homenagem a Nelson Maleiro ocorrerá durante o desfile
do afoxé, domingo (7/2) e terça de Carnaval (09/02). No domingo o grupo, comandado
por Nadinho do Congo, sai da Praça da Sé às 18 horas, com destino ao Campo
Grande e retorno ao local de partida, pela Avenida Sete. Na terça-feira o
percurso é outro: desfila também a partir das 18 horas, do corredor da Vitória,
passando pela passarela do Campo Grande com destino final Praça da Sé. A
expectativa é de que Os Filhos do Congo desfilem com cerca de 300 integrantes,
ostentando uma fantasia criada pelo mago do designer afro na Bahia Alberto
Pita.
No percurso os integrantes do bloco interpretarão músicas-enredo alusivas ao carnavalesco homenageado: “Luz África”, de Tote Gira vencedora do concurso realizado pelo afoxé; “Maleiro, o Gigante inesquecível”, escrita por Adailton Poesia e Valter Farias e “Homem Criador”, de Tica Mahatman e Nem Tauagem.
Nelson Maleiro, o
homenageado
Nelson Maleiro é uma das grandes referências do carnaval
baiano. Foi músico, percussionista, tocava na rua nas festas populares e também
no Carnaval e ainda nos bailes de salão com a orquestra do Jazz Vera Cruz. Na
rua era um dos integrantes da batucada de nome “Jacaré” que saia do Tororó onde
conheceu Armando de Sá, um dos criadores de “Colombina” a música oficial da
festa, e Vavá Madeira, um dos fundadores dos Filhos de Ghandy.
Era homem de muitos talentos. Confeccionava instrumentos
de percussão. “Maleiro foi o inventor no Brasil do tamborim quadrado” _ conta o
compositor Waltinho Queiroz_ que hoje é um instrumento comum nas Escolas de
Samba do Rio de Janeiro. O gongo metálico, criado por ele, foi outra inovação.
Era suspenso num carro alegórico dos blocos fundados pelo carnavalesco
“Mercadores de Bagdá” e “Cavaleiros de Bagdá”. Na sua oficina da Barroquinha o
músico recebia encomendas de instrumentos de Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Raul
Seixas e Os Novos Baianos, dentre outros.
Outro talento do carnavalesco foi a criação de carros
alegóricos para os grandes clubes, dentre os quais Os Internacionais, quase
sempre com temática oriental. E na Festa de Iemanjá foi ele o encarregado de
confeccionar o presente principal em 1979, uma coroa gigante de 1,5 metros de
altura por 0,40 de diâmetro, com pisca-pisca que surpreendeu a imprensa pela
originalidade e efeitos de luzes. Em 1965 viu uma de suas criações, o carro
alegórico do dragão gigante que expelia fogo pela boca, ser consumido por um
incêndio, em pleno desfile carnavalesco.
Nelson Maleiro morreu pobre e esquecido e amargurado com
praticamente, nenhum reconhecimento do poder público e da comunidade
carnavalesca, apesar de sua valiosa contribuição para a festa do ponto de vista
musical e estético. Em 2011 um decreto da Prefeitura do Salvador institui o
Circuito Nelson Maleiro, no espaço geográfico da passarela do Campo Grande.